Brasil testou menos de 2% da população para Covid-19 até o momento
De acordo com o Ministério da Saúde, 2,8 milhões de testes foram feitos até o fim da semana passada


De acordo com o Ministério da Saúde, até o dia 19 de junho haviam sido realizados 2,8 milhões de testes para detecção da Covid-19 em todo o país. O número não corresponde a 2% da população brasileira.
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Desses 2,8 milhões, metade são RT-PCR, o teste considerado o padrão-ouro para a detecção da doença. O ministério especifica que 807 mil foram feitos na rede nacional de laboratórios de saúde pública e 618 mil nos principais laboratórios privados do país.
A outra metade é de testes rápidos, que detectam anticorpos contra a Covid-19. De acordo com uma nota da Anvisa, os testes rápidos não detectam a presença do vírus e não devem ser utilizados sozinhos como diagnóstico.
O Ministério só contabiliza os testes registrados no sistema e-SUS.
A meta de testes
No início de maio, a pasta, então comandada por Nelson Teich, estabeleceu como meta conduzir 46 milhões de testes até o final do ano, o que corresponderia a 22% da população.
No começo deste mês, o ministro interino Eduardo Pazuello, foi à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a condução da pandemia no país. Durante a audiência, admitiu que o governo não conseguirá cumprir a meta.
“Não acho que a gente tenha capacidade logística de processar 40 milhões de testes nos próximos 6 meses. Temos que aumentar a capacidade, mas não serão 40 milhões”, disse.
Nos Estados Unidos, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) mostra que 26,7 milhões de testes foram feitos até 19 de julho, o que corresponde a cerca de 8% da população. Entre os testes concluídos, 10% foram positivos.
Na Coreia do Sul, país considerado referência na testagem e no rastreamento de contato, foram concluídos 1.162.663 testes (2% da população), dos quais 1,1% deram positivo.
Supondo que todos os testes relatados pelo Ministério da Saúde já tenham sido concluídos, 38,7% confirmaram o diagnóstico de Covid-19.
Até este domingo (21), 1.085.038 casos e 50.617 mortes foram confirmadas no Brasil.
A subnotificação
Nesta segunda-feira (22), o diretor-executivo da OMS (Organização Mundial da Saúde), Mike Ryan, afirmou que o Brasil faz poucos testes em relação ao tamanho de sua população. Para ele, isso indica que o número de pessoas contaminadas deve ser ainda maior do que apontam os dados oficiais.
Esse ponto de vista é compartilhado pelo infectologista professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Alexandre Naime Barbosa. Para ele, além dos testes não serem aplicados em quantidade suficiente, a qualidade deles também preocupa. “Os testes sorológicos [os chamados testes rápidos] tem acurácia de 40 a 50%. Esse é o problema, metade dos testes pode estar dando falso positivo ou negativo”, disse. “Temos um milhão de diagnósticos, o número real deve estar entre 3 a 7 milhões de casos”.
Para ele, não basta apenas fixar um número de análises, como fez o Ministério da Saúde. “A Coreia do Sul testou apenas 2% da população mas acabou com o problema. A doença não é estática, é preciso continuar testando até acabar, rotineiramente, e com o melhor teste disponível”, disse.
Esse ideal tropeça em entraves para comprar os insumos. Com mais demanda que nunca e irregularidades encontradas nos processos de compra, o governo distribuiu cerca de 3,79 milhões de testes RT-PCR até o momento, dos 24,2 milhões prometidos.
(Com informações da Reuters)