Brasil tem 77 casos de monkeypox em crianças e adolescentes; conheça os riscos
De acordo com o Ministério da Saúde, 3,5% das infecções ocorrem em pessoas de 0 a 17 anos
O Brasil tem 77 casos confirmados de varíola dos macacos – ou monkeypox em crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, uma incidência de 3,5% das infecções. Desses, 20 casos (0,6%) foram identificados entre crianças de 0 a 4 anos.
Até o momento, o Brasil registra 3.788 casos confirmados da doença. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira (22).
A varíola dos macacos geralmente é uma doença autolimitada, com os sintomas que duram de 2 a 4 semanas. Os casos graves são mais comuns entre crianças e estão relacionados à extensão da exposição ao vírus, ao estado de saúde do paciente e à natureza das complicações.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de letalidade pode chegar a 11% na população em geral e tem sido maior entre crianças pequenas. Deficiências imunológicas prévias também podem levar a quadros mais graves da doença.
As crianças podem contrair a varíola dos macacos se tiverem contato próximo com alguém que tenha sintomas, como um familiar infectado. Dados de países anteriormente afetados mostram que as crianças são tipicamente mais propensas a doenças graves do que adolescentes e adultos.
No entanto, o surto recente que atinge múltiplos países que não são considerados endêmicos para a doença apresenta um número pequeno de crianças entre os infectados.
Especialistas consultados pela CNN explicam os riscos da infecção pelo vírus da monkeypox em crianças.
Sistema imunológico em formação
As defesas do organismo humano vão se aprimorando de acordo com o crescimento e com o contato com o meio ambiente. O sistema imunológico, que combate microrganismos nocivos como vírus, bactérias e protozoários, permanece em formação após o nascimento.
De acordo com pesquisadores, uma das causas do impacto maior da varíola dos macacos em crianças é o sistema imune ainda em formação.
“O vírus da varíola dos macacos pode ter impacto maior principalmente em pessoas imunossuprimidas e também em crianças, que não têm o seu sistema imunológico completamente formado em comparação com o organismo de um adulto jovem saudável. Temos grupos de risco que acendem um alerta: as crianças e imunossuprimidos”, afirma a médica pediatra Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
A médica Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) em Brasília, explica que doenças infecciosas podem levar a quadros sistêmicos e comprometer o estado geral de saúde de maneira mais significativa em crianças.
“A criança ou o adulto vai ter febre, queda do estado de saúde geral, pode ter diarreia. O comprometimento sistêmico debilita muito os pacientes e, na criança, ele se acentua mais pelo volume corporal dela ser menor. Então, em uma febre a criança desidrata, por exemplo”, diz Eliana.
Riscos de infecções secundárias
O comportamento das crianças diante das lesões também pode contribuir para o surgimento de infecções secundárias.
“As diferentes lesões de pele podem se juntar em uma lesão única e, com isso, levar a infecções secundárias. A distância da criança ao chão é muito pequena e elas não conseguem ficar muito tempo paradas em cima de uma cama ou de um sofá ou com calçados”, afirma Eliana.
Em geral, as infecções secundárias são causadas por bactérias. “Essas lesões podem sofrer uma infecção secundária e evoluir para uma infecção do tecido celular da pele, sendo que a porta de entrada são os ferimentos, aquelas bolhas que rompem e evoluem com crostas. As crianças arrancam as casquinhas”, completa.
O médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, secretário do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afirma que na maior parte dos casos a infecção por varíola dos macacos em crianças não requer hospitalização.
“O tratamento é ambulatorial e a criança tende a evoluir bem. Poucas crianças precisarão ser internadas com este quadro. O mais importante é a identificação precoce para evitar a disseminação da doença. Diferentemente da Covid-19, que a transmissão é respiratória, a varíola dos macacos é transmitida por contato próximo. O paciente, adulto ou pediátrico, tem que ter a roupa de cama, talheres e, de preferência, o quarto isolado”, diz Lima.
Sintomas e transmissão da doença
Em geral, a varíola dos macacos começa com uma febre súbita, forte e intensa. Os sintomas incluem dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e fundamentalmente o aparecimento de gânglios (inchaços popularmente conhecidos como “ínguas”), que podem acontecer tanto na região do pescoço, na região axilar, como na região genital.
A manifestação na pele acontece na forma de bolhas ou lesões que podem aparecer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais.
A pediatra Carla Kobayashi afirma que o quadro clínico em crianças pode apresentar variações de um paciente para o outro e ainda não está completamente definido. As lesões de pele provocadas pelo vírus da monkeypox podem se assemelhar a outras doenças comuns da infância, como catapora e outras infecções virais.
“Com exceção da região da África endêmica, estamos tendo poucos casos em crianças relatados no mundo. Estamos desenhando ainda o quadro clínico, que ainda não é típico. Os pais, ao identificarem uma criança com febre mais persistente, gânglios aumentados e sintomas como dor no corpo, prostração e principalmente lesões de pele, devem buscar atendimento médico imediatamente”, afirma.
A especialista alerta que a apresentação dos sintomas deve ser correlacionada com as características epidemiológicas da doença. O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação pode variar de 5 a 21 dias.
“Se você tem um histórico de que essa criança teve contato com algum caso suspeito ou confirmado, ou com alguém que esteve em viagem pela Europa e países com alta incidência da doença, se há essa epidemiologia de contato próximo com pessoas que podem ter a doença é mais um motivo de alerta com relação aos sintomas”, explica Carla.
Riscos para gestantes
As informações científicas disponíveis neste momento sugerem que o contágio pela varíola dos macacos durante a gravidez pode apresentar riscos para o feto. No entanto, os dados sobre a infecção durante gravidez são limitados.
Não se sabe, por exemplo, se as gestantes são mais suscetíveis ao vírus ou se a infecção é mais grave na gravidez. A transmissão do vírus pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto (o que pode levar à varíola congênita) ou durante o contato próximo no momento e após o nascimento.
Segundo a OMS, mais pesquisas são necessárias para o entendimento dos riscos da varíola durante a gestação e como o vírus pode ser transmitido para o feto no útero ou para o recém-nascido durante ou após o nascimento ou durante a amamentação.
Por isso, a recomendação da OMS é de que mulheres grávidas evitem o contato próximo com qualquer pessoa diagnosticada com a doença. Diante da suspeita de exposição, deve-se buscar atendimento médico para testagem e implementação de cuidados necessários.
O Ministério da Saúde publicou uma nota técnica com orientações específicas sobre a infecção por gestantes. De acordo com o documento, o acompanhamento deve ser realizado de acordo com o momento da infecção e o período gestacional.