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    Brasil tem 18 projetos para desenvolvimento de vacinas nacionais

    Produção própria pode garantir independência em relação a outros países para a importação dos imunizantes e tecnologia para lidar com possíveis novas pandemias

    Flávia Martins, da CNN em São Paulo

    Desde o início da pandemia, cientistas, professores e pesquisadores de universidades e laboratórios por todo o país estão com as mangas arregaçadas, debruçados sobre projetos que prometem ajudar no combate à pandemia.

    Com apenas três vacinas disponíveis para aplicação em território nacional até o momento, o desenvolvimento de vacinas 100% brasileiras pode ajudar a acelerar o processo e descentralizar a produção dos imunizantes.

    E há pelo menos 18 motivos para acreditar nos cientistas e pesquisadores brasileiros. Este é o número de projetos de vacinas em desenvolvimento nos laboratórios e instituições de pesquisa pelo país. De acordo com o Ministério da Saúde, que faz o monitoramento técnico e científico das vacinas que estão em desenvolvimento no Brasil e no mundo desde abril do ano passado, estes projetos estão em fases iniciais com testes pré-clínicos, ou com pedidos para testes clínicos – aqueles que são feitos com humanos.  

    Mas, apesar da esperança que estes projetos podem dar à população e ao sistema de saúde, ainda pode demorar algum tempo para que as primeiras vacinas brasileiras cheguem aos braços daqueles que aguardam a imunização.  Há uma série de etapas, desde a pesquisa e testes iniciais, passando por todas as aprovações, até a produção em larga escala e distribuição. 

    Já há, inclusive, verba federal para apoio de testes clínicos. Casa Civil, Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério da Economia disponibilizaram 415 milhões de reais para garantir estrutura e recursos para que a fase de testes em humanos de pelo menos quatro projetos de vacinas nacionais. 

    Em entrevista à CNN, Jorge Venâncio, coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), ressaltou a reação “excelente” que a comunidade científica brasileira teve frente ao desafio colocado pela pandemia. Segundo ele, a pesquisa de imunizantes pode ajudar o Brasil a “parar de depender de importação, tanto de vacinas, como de insumos farmacêuticos”. 

    Sobre essas vacinas, Venâncio também destacou que “quantas mais melhor” e que quando devidamente registradas, uma das maiores vantagens para o país será a concorrência e consequente negociação de condições melhores para a negociação de vacinas estrangeiras.

    Além do Conep, quem também participa da avaliação dos pedidos de aprovação para testes clínicos é a Anvisa. Mas, por enquanto, segunda a agência, apenas duas vacinas brasileiras estão sob análise para entrada na fase de testes clínicos – aquela que envolve a avaliação em seres humanos: a Butanvac, do Butantan, e a Versamunne, desenvolvida por parceria entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e a Universidade de São Paulo (USP) com tecnologia americana. 

    Apesar de a tecnologia de ambas ser parcialmente desenvolvida nos Estados Unidos, são as únicas com projetos impulsionados por brasileiros que deram entrada com pedidos de testes na agência. 

    As demais ainda não formalizaram pedido para testes clínicos ou ainda têm pendências na documentação para que a Anvisa possa protocolar oficialmente o pedido e dar início às análises. 

    A CNN conversou com duas universidades para entender quais são os desafios de se desenvolver uma vacina – do zero – em meio a uma pandemia global em pleno século 21.  Mas antes disso é importante entender quais são as fases para a consolidação de uma vacina no mercado, desde os estudos experimentais até a aplicação em larga escala.

    FASES PARA A APROVAÇÃO DE UMA VACINA

    De acordo com o Ministério da Saúde, o desenvolvimento completo de uma vacina pode levar de 15 a 20 anos, em média. Tempo bem superior ao que foi observado nas vacinas contra a covid-19. Isso porque os coronavírus responsáveis por epidemias anteriores são pertencentes à mesma família do Sars-Cov-2 e já de conhecimento dos cientistas.

    Em entrevista gravada para a CNN, Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, também explica que há pelo menos três fases para a produção de uma vacina: o desenvolvimento da tecnologia; a produção do insumo farmacêutico e a fase de envasamento e aplicação. 

    Dentro de cada fase há vária outras etapas, como explicado abaixo:

    ·         Descoberta e fase pré-clínica: estudos experimentais em células in vitro ou em animais;

    ·         Aprovação regulatória da pesquisa: para o envolvimento de humanos nos estudos, o Conep dos aspectos éticos e a Anvisa avalia pra garantir segurança, qualidade e padronização das pesquisas;

    ·         Fases I, II e III: avaliação de segurança e eficácia do imunizante com dezenas, centenas e milhares de participantes respectivamente; 

    ·         Aprovação regulatória: autorização para uso emergencial e aprovação regulatória pela Anvisa;

    ·         Acesso: envio das vacinas ao SUS por meio do Plano Nacional de Imunização;

    ·         Fase IV: vigilância e análise dos efeitos da vacina em médio e longo prazo. 

     

    Tipos de vacina

    – Vacina internacional: o insumo farmacêutico e a tecnologia são produzidos em outro país e o Brasil faz apenas o envasamento. Um exemplo desta vacina é a Coronavac;

    – Vacina licenciada: a tecnologia é desenvolvida em algum outro país e é dada a autorização para fabricação de insumo farmacêutico no Brasil com a tecnologia licenciada. A Butanvac, do Butantan, por exemplo, utiliza tecnologia americana. Para a vacina de Oxford/Astrazeneca também foi fechado um acordo de transferência da tecnologia para a produção na Fiocruz;

    -Vacina totalmente nacional: os pesquisadores e cientistas brasileiros desenvolvem toda a tecnologia e insumos. Produzem, envasam, distribuem e aplicam. 

    De acordo com Marcos Pontes, o domínio total da tecnologia e da produção do insumo farmacêutico por empresa nacional, pode favorecer a rápida adaptação a qualquer mutação que surgir além de garantir a perenidade do imunizante e, por exemplo, a criação e manutenção de vários postos de trabalho no país. “O Covid veio pra ficar, então para os outros anos é muito importante ter essa produção no Brasil, com tecnologia nacional”, finalizou o ministro. 

    VACINAS EM DESENVOLVIMENTO NO BRASIL 

    A Anvisa tem conhecimento ou já foi procurada por pelo menos cinco laboratórios. Desses, apenas dois têm pedido formal para autorização de estudo clínico: a Butanvac e a Versamune. No entanto, nenhuma das duas é totalmente brasileira, pois utilizam tecnologia estrangeira. 

    Universidade Estadual do Ceará 

    Quem está à frente de uma vacina 100% nacional é a Universidade Estadual do Ceará. Lá, a professora Izabel Florindo coordena o laboratório com pesquisadores dedicados a viabilizar uma vacina que promete ser a mais barata do país.

    O que vai permitir o baixo custo, de acordo com a orientadora, é a utilização do coronavírus aviário atenuado, tecnologia escolhida pelo laboratório para a produção deste imunizante. “É um vírus que não infecta os humanos, mas que provoca o desenvolvimento de anticorpos, o que pode ajudar a neutralizar o SARS-CoV-2”, explicou a professora. 

    Em menos de um mês, a Universidade deve enviar todos os documentos restantes para que a Anvisa autorize os testes clínicos. Por enquanto, a documentação na fase de pré-submissão na Agência, que afirmou já ter se reunido com a UECE. 

    O governo do Ceará já articula com a Universidade Federal do Ceará e com a Fundação Oswaldo Cruz para a produção da vacina, assim que devidamente aprovada. 

    Universidade Federal de Minas Gerais  

    A mais avançada das três vacinas que a UFMG está desenvolvendo é a Spintec. O imunizante, idealizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz usa uma tecnologia de DNA recombinante com a proteína S, que é a que invade as células humanas quando a pessoa é infectada pelo Sars-Cov-2. O composto injetado no organismo induz à resposta imune e teve uma boa avaliação em modelos animais, que ficaram 100% protegidos. 

    Ainda não houve submissão formal de pedido para testes clínicos em humanos na Anvisa, mas com a autorização do Conep, a universidade já iniciou testes em primatas. Os resultados devem sair em menos de duas semanas. 

    Segundo a Professora Santuza Teixeira, da coordenação do CT Vacinas, a Spintec pode ter um custo mais baixo do que as vacinas de Oxford e da Pfizer. No entanto, para ela, há um problema: a falta de estrutura não permite que o país avance rapidamente na produção de vacinas. “Vamos ter que fazer o lote piloto fora do Brasil, para ter a certeza de que ele vai ser aprovado para uso em humanos”. 

    Se tudo acontecer dentro do previsto, a Spintec pode chegar aos brasileiros até o final de 2022. 

    Outras Instituições e Universidades

    Universidade Federal do Paraná: A vacina deve começar a ser testada em humanos em 2022. Por enquanto, a testagem está em fase pré-clínica, com testes em camundongos. A previsão é de que cada dose tenha custo entre R$ 5 e 10. A tecnologia é 100% nacional com todos os insumos produzidos no Brasil.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro: No Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (Lecc) da UFRJ, a fórmula final da vacina está em estágio de protótipo. Lá, os pesquisadores estão produzindo em escala piloto a proteína S do Sars-CoV-2 para utilizá-la no imunizante. 

    O Instituto do Coração, e a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, por exemplo, são outras instituições que também estão desenvolvendo imunizantes. Veja a lista completa abaixo. 

    O QUE ESPERAR DO FUTURO?

    Quando se fala em vacinação contra o coronavírus, o Brasil tem um longo caminho pela frente. No país, cerca de 90% da população ainda não completou o esquema de imunização. Em levantamento atualizado diariamente pela Agência CNN, apenas 20,5 milhões de pessoas tomaram as duas doses dos imunizantes aprovados para uso. Este ritmo de vacinação coloca o país na 63ª posição no avanço diário global da vacinação. Números aquém dos esperados para um país que é reconhecido internacionalmente por seu Plano Nacional de Imunização, já comprovado em campanhas anteriores.

    Por isso, garantir as condições para que cientistas brasileiros desenvolvam seu trabalho com a maior celeridade possível, vai além de ajudar a acelerar a vacinação contra o coronavírus e ganhar espaço na comunidade científica internacional.

    No médio prazo, a produção nacional de insumos e vacinas impulsiona o desenvolvimento econômico: mais postos de trabalho, menos importação e mais exportação. Com o desenvolvimento de tecnologia própria, o Brasil garante mais experiência para lidar com doenças comuns no país como a dengue, por exemplo. 

    Assim, diante de uma possível nova crise sanitária, ou caso alguma mutação do coronavírus se mostre mais resistente, o país terá os recursos necessários para oferecer uma pronta resposta e mitigar a defasagem entre problema e solução.

    As vacinas contra a Covid-19 garantem proteção porque previnem a doença, especialmente nas formas graves, reduzindo as chances de morte e internações.

    Embora não impeçam o contágio e nem a transmissão do vírus, a vacinação é essencial, já que induz o sistema de defesa do corpo a produzir imunidade contra o coronavírus pela ação de anticorpos específicos, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).