Bebedores de café se movem mais, mas também dormem menos, mostra estudo
Pesquisa feita com 100 adultos saudáveis que usaram relógios inteligentes para monitorar atividades como caminhar e dormir, além de eletrocardiogramas para observar seus batimentos cardíacos
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, mas as opiniões sobre suas vantagens e desvantagens variam.
Novas descobertas de estudo, publicado na quinta-feira (23) no The New England Journal of Medicine, sugerem prós e contras: beber pelo menos uma xícara de café por dia pode fazer você se mover mais, mas dormir menos, e pode aumentar o risco de sofrer de um tipo de palpitação cardíaca.
“A conclusão geral é que não há uma única consequência do consumo de café relacionada à saúde, mas a realidade é mais complicada”, diz o principal autor do estudo, Dr. Gregory Marcus, cardiologista e professor de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
“A grande maioria das pesquisas sobre esse tópico tem sido observacional, o que significa que apenas observamos o que acontece com as pessoas que bebem café e com as que não bebem, o que é severamente limitado pela possibilidade de […] alguma outra característica que está levando alguém a beber café”, disse Marcus.
“A única maneira de mitigar esses efeitos potenciais era fazer um estudo de intervenção randomizado”.
Para se ter uma ideia melhor dos efeitos imediatos do café na saúde, os autores recrutaram 100 adultos saudáveis, com idade média de 39 anos, da área de São Francisco.
Eles equiparam os participantes com smartwaches Fitbits para registrar seus passos e sono, monitores contínuos de glicose no sangue e dispositivos de eletrocardiograma que rastreiam seus ritmos cardíacos.
Cada participante foi designado aleatoriamente para beber tanto café quanto quisesse por dois dias e depois abster-se por mais dois dias, repetindo esse ciclo por um período de duas semanas.
Os autores descobriram que nos dias de consumo de café, os participantes deram em média 1.058 passos a mais do que nos dias de abstinência. Mas naqueles dias, o sono foi prejudicado, com os participantes dormindo 36 minutos a menos. Quanto mais café bebiam, mais atividade física faziam e menos dormiam.
O café também parecia afetar o coração. Os pesquisadores não encontraram evidências de uma relação significativa entre o consumo de café e as contrações atriais prematuras, que são “batimentos cardíacos precoces muito comuns que todos nós experimentamos e que surgem das câmaras superiores do coração”, explica Marcus. Eles podem sentir como uma vibração ou batida no peito.
“Pessoas com mais contrações atriais prematuras correm maior risco de desenvolver um distúrbio clinicamente significativo do ritmo cardíaco chamado fibrilação atrial”, acrescentou.
No entanto, beber mais de uma xícara por dia aumentou a incidência de contrações ventriculares prematuras, ou CVPs, em 50% em comparação com os dias sem café.
Essas batidas surgem das câmaras inferiores do coração e também podem parecer batidas omitidas ou palpitações.
“Portanto, isso fornece evidências convincentes de que experimentar a interrupção do café pode valer a pena para aqueles que sofrem de palpitações incômodas relacionadas ao CVP”, diz Marcus.
“Também há evidências de que, em algumas pessoas, o aumento do número de CVPs pode enfraquecer o coração ou causar insuficiência cardíaca”, acrescentou Marcus. “Portanto, se alguém estiver especialmente preocupado com os riscos de insuficiência cardíaca – por exemplo, se tiver histórico familiar de insuficiência cardíaca ou se o médico disser que há alguma outra indicação de risco -, pode ser melhor evitar o café”.
Peter Kistler, chefe de eletrofisiologia do Alfred Hospital em Melbourne, na Austrália, chamou o estudo de robusto, mas alertou que “este é um estudo de curto prazo em voluntários saudáveis”.
“Isso não fornece informações sobre os benefícios a longo prazo ou os efeitos adversos a longo prazo do consumo de café”, disse Kistler, que não participou do estudo. “Isso não fornece informações sobre o impacto do café em pessoas com outras condições de saúde e, no geral, [os participantes do estudo] consumiram quantidades modestas de café”.
Efeitos do café na saúde
Quando as pessoas bebem café, elas podem ter mais motivação para se exercitar ou melhorar seu desempenho quando começam a se movimentar, disse Marcus.
Mas as pessoas “não devem extrapolar isso para beber bebidas energéticas ou altas doses de cafeína como forma de melhorar os treinos”, pois altas doses podem causar interrupções, disse ele.
Que o consumo de café cause menos sonolência pode não ser surpreendente, mas um possível aspecto genético dessa descoberta pode ser. Os pesquisadores coletaram amostras de DNA dos participantes, e aqueles com as maiores reduções de sono ao consumir café tinham variantes genéticas associadas ao metabolismo mais lento da cafeína.
Por outro lado, pessoas com variantes genéticas associadas ao metabolismo mais rápido da cafeína tiveram mais contrações ventriculares prematuras.
Estes resultados sugerem que uma abordagem individualizada do consumo de café poderia ser o método mais adequado para determinar os efeitos sobre a saúde, segundo o estudo.
Kistler tinha uma opinião diferente sobre a informação da diminuição do sono. “O café é a ‘droga’ mais comum para o aprimoramento cognitivo”, disse ele. “As pessoas que bebem café ficam menos cansadas. Isso não é necessariamente negativo”.
Quanto às ligações entre a ingestão de café e contrações ventriculares prematuras, a cafeína pode conter metabólitos ativos como a aminofilina, que é usada em medicamentos para asma e, em altas doses, é conhecida por induzir arritmias, disse Marcus.
Além disso, “o café tende a aumentar a atividade do sistema nervoso simpático, ou o lado da adrenalina do sistema nervoso, que pode promover CVPs”, acrescentou.
O que isso significa para você
De acordo com Marcus, vale a pena considerar os efeitos do estudo com base nos objetivos pessoais de saúde. “As pessoas podem ter certeza de que beber café não tem efeitos iminentemente perigosos”, diz.
Você quer saber se metaboliza a cafeína rapidamente ou lentamente? Não há realmente nenhum teste clínico no mercado consumidor, diz Marcus, mas você pode descobrir usando um teste de DNA que a mede.
Você também pode prestar muita atenção ao que suas experiências podem estar lhe dizendo sobre sua tolerância.
“Se você começa a se sentir ansioso [e] trêmulo com uma xícara de café, é um metabolizador lento”, disse Kistler. “Mas se têm uma tolerância maior, está metabolizando o café mais rapidamente”.