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    Artigo da Lancet reúne evidências de transmissão aérea do coronavírus

    Texto publicado nesta quinta-feira (15) pela revista científica reúne achados de diversos estudos

    Ilustração do novo coronavírus com médicos ao fundo
    Ilustração do novo coronavírus com médicos ao fundo Foto: Reprodução/Pixabay

    Lucas Rocha, da CNN, em São Paulo

     O conhecimento comprovado cientificamente sobre as formas de transmissão de um vírus é o que permite a definição de estratégias para a prevenção do contágio. Em relação ao SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19, a ciência vem construindo essas informações dia após dia, com base em estudos realizados nas mais diversas partes do mundo.

    As evidências científicas são o que ajudam a montar o quebra-cabeças sobre a doença descoberta no final de 2019. Nesse contexto, as novas peças que vão surgindo podem atualizar e até mesmo redefinir o entendimento da epidemiologia da doença.

    Em um artigo publicado nesta quinta-feira (15), o periódico Lancet reúne dez evidências científicas que apoiam a hipótese de transmissão aérea do novo coronavírus. Vírus reconhecidamente transmitidos pelo ar tendem a se espalhar mais facilmente, como o sarampo.

    1- Eventos de superespalhamento

    Segundo o artigo, os eventos de superespalhamento contribuem de forma substancial para a transmissão, podendo ser os principais propulsores da pandemia. A análise do comportamento das pessoas, do tamanho e da ventilação dos espaços, no caso de shows, cruzeiros, lares de idosos, instituições para menores infratores, entre outros ambientes, mostraram padrões de transmissão consistente com a disseminação aérea, sugerindo o predomínio da transmissão por aerossol.

    2- Transmissão de longo alcance

    Como segundo fator, o artigo aponta a possibilidade de transmissão de longo alcance do novo coronavírus entre pessoas em quartos vizinhos que não estiveram na presença umas das outras, durante a realização de quarentena em um hotel. O achado foi documentado em um estudo realizado por pesquisadores da Nova Zelândia.

    3- Transmissão assintomática ou pré-sintomática

    O texto indica que a transmissão assintomática ou pré-sintomática de pessoas que não estão tossindo ou espirrando, provavelmente seja responsável por pelo menos um terço de todas as transmissões pelo mundo.

    Em um estudo conduzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, a transmissão do vírus de indivíduos assintomáticos foi estimada como responsável por mais da metade de todos os contágios – 59% de toda a transmissão veio de formas assintomáticas, compreendendo 35% de indivíduos pré-sintomáticos e 24% de indivíduos que nunca desenvolveram sintomas.

    Segundo a Lancet, os dados reforçam o modo de transmissão pelo ar.  Outro estudo indicou que medições diretas mostram que a fala produz milhares de partículas de aerossol e poucas gotas grandes, fator que também sustenta a hipótese.

    4- Maior transmissão em ambientes internos

    O novo coronavírus tem uma transmissão maior em ambientes internos do que externos, além de ser fortemente reduzida pela ventilação interna.

    5- Infecções documentadas em locais com restrições de contato

    Infecções nosocomiais, como são chamadas as infecções hospitalares que atingem pacientes internados por Covid-19, foram registradas em instituições de saúde com alto nível de restrição de contato e uso de equipamento de proteção individual (EPI) projetado para proteção contra a exposição a gotículas, mas não a aerossóis.

    6- Detecção do SARS-CoV-2 infeccioso no ar

    Em experimentos de laboratório, o SARS-CoV-2 permaneceu infeccioso no ar por até três horas. O estudo foi publicado no periódico New England Journal of Medicine. O vírus viável também já foi identificado em amostras de ar de quartos ocupados por pacientes com Covid-19 e em amostrar de ar do carro de uma pessoa infectada.

    Segundo o artigo da Lancet, capturar o SARS-CoV viável em amostras de ar é um procedimento complicado por diversas razões, incluindo eficácia limitada de métodos de amostragem para coleta de partículas finas.

    7- Presença do vírus em filtros de ar

    Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Suécia, o vírus da Covid-19 foi identificado em filtros de ar e construção de dutos em hospitais com pacientes com a doença, locais com acesso apenas por aerossóis.

    8- Evidências de estudos com animais separados por duto de ar

    Estudos envolvendo animais infectados conectados a animais não infectados, em gaiolas separadas, que dividiam um duto de ar, mostraram que a transmissão pode ocorrer por aerossóis.

    9- Ausência de estudos fornecendo evidências para refutar a hipótese

    Segundo o artigo, não há estudos que tenham fornecido evidências consistentes para refutar a hipótese de transmissão do SARS-CoV-2 pelo ar. O texto argumenta que casos em que pessoas compartilham o ar e não há transmissão podem ser explicados por uma combinação de fatores, incluindo a variação na quantidade de vírus expelido e as diferentes questões referentes ao ambiente, como a presença de ventilação.

    10- Evidências limitadas para apoiar outras rotas dominantes de transmissão

    O texto argumenta que existe uma limitação nas evidências que apoiam outras rotas dominantes de transmissão, como as gotículas respiratórias. Segundo o artigo, a facilidade de infecção entre pessoas próximas, citada como prova de transmissão por gotículas respiratórias, é mais provável de ser explicada pela diluição dos aerossóis exalados a distância por uma pessoa infectada.

    “A suposição errônea de que a transmissão por proximidade implica grandes gotículas respiratórias foi historicamente usada por décadas para negar a transmissão aérea da tuberculose e do sarampo”, diz o texto.

    O artigo finaliza sugerindo que o uso da falta de evidência direta de SARS-CoV-2 em amostras de ar para lançar dúvidas sobre a transmissão aérea seja um erro científico. “Há evidências consistentes e fortes de que o SARS-CoV-2 se espalha por transmissão aérea. Embora outras rotas possam contribuir, acreditamos que a rota aerotransportada provavelmente será dominante”, conclui o artigo.

    O texto é assinado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e das universidades do Colorado, da Califórnia e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e da Universidade de Toronto, no Canadá.

    Diretrizes da OMS

    Em julho de 2020, mais de 200 cientistas, de 32 países, publicaram uma carta aberta à OMS, solicitando o reconhecimento da transmissão aérea do novo coronavírus por partículas de aerossol.

    De acordo com a OMS, a transmissão do coronavírus ocorre principalmente pelo contato próximo de uma pessoa infectada a outra, acrescentando que o vírus pode se espalhar pela boca ou pelo nariz de uma pessoa infectada e ser expelido em pequenas partículas líquidas ao tossir, espirrar, falar, cantar ou respirar pesadamente.

    Em relação à transmissão aérea, as diretrizes da OMS afirmam que “A transmissão de aerossol pode ocorrer em ambientes específicos, particularmente em espaços fechados, lotados e com ventilação inadequada, onde pessoas infectadas passam longos períodos de tempo com outras, como restaurantes, práticas de coral, aulas de ginástica, boates, escritórios ou locais de adoração”. A entidade reitera que mais estudos estão em andamento para o esclarecimento das condições em que a transmissão via aerossol acontece.