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    Antidepressivo pode reduzir riscos de hospitalização por Covid-19, diz estudo

    Estudo com a participação de voluntários brasileiros mostrou que fluvoxamina ajudou na redução das internações por Covid-19

    Atendimento médico em hospital durante a pandemia de Covid-19
    Atendimento médico em hospital durante a pandemia de Covid-19 Breno Esaki/Agência Saúde DF

    Lucas RochaElizabeth Matravolgyida CNN em São Paulo

    O uso do medicamento fluvoxamina para o tratamento de pacientes ambulatoriais de alto risco e que tiveram o diagnóstico precoce de Covid-19, reduziu as necessidades de hospitalização ou de observação prolongada em emergências. É o que mostram os resultados de um ensaio clínico publicados no periódico científico The Lancet Global Health, nesta quarta-feira (27).

    O estudo foi conduzido por pesquisadores do CardResearch, de Belo Horizonte, em Minas Gerais, da Universidade McMaster, do Canadá, e da Universidade Washington, do Missouri, nos Estados Unidos.

    A pesquisa contou com a participação de 1.497 brasileiros que tiveram teste positivo para a Covid-19 e que não haviam sido vacinados. Eles apresentavam sintomas e tinham pelo menos um critério adicional de alto risco.

    Como fatores de risco, a pesquisa considerou quadros de diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, doença pulmonar, asma, tabagismo, obesidade, transplantes, câncer, entre outros.

    Os voluntários foram distribuídos em dois grupos, sendo que 741 pessoas receberam 100mg de fluvoxamina duas vezes ao dia, durante dez dias; enquanto 756 indivíduos receberam placebo, uma substância sem qualquer tipo de efeito para o organismo. Os participantes foram observados por 28 dias após o tratamento.

    Entre os participantes que receberam o medicamento, 79 precisaram permanecer por mais de seis horas em um ambiente de emergência ou de hospitalização – uma taxa de 10,6%. Entre os que receberam o placebo, o índice chegou a 15,7%, com um total de 119 pessoas.

    Segundo o estudo, os resultados demonstraram uma redução absoluta no risco de hospitalização prolongada ou atendimento de emergência prolongado de 5% e uma redução do risco relativo de 32%.

    Em relação à mortalidade, os pesquisadores verificaram que, entre os pacientes que tomaram pelo menos 80% das doses da medicação, houve apenas uma morte – em comparação com 12 óbitos registrados no grupo que não recebeu o medicamento.

    “Nossos resultados são consistentes com ensaios anteriores menores. Dada a segurança, tolerabilidade, facilidade de uso, baixo custo e ampla disponibilidade da fluvoxamina, esses achados podem ter uma influência importante nas diretrizes nacionais e internacionais sobre o manejo clínico da Covid-19”, afirmou o pesquisador Gilmar Reis, um dos autores do estudo, em um comunicado.

    Ainda é preciso mais estudos para avaliar eficácia e segurança

    O pesquisador Otavio Berwanger, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, faz uma ressalva de que questões relacionadas à eficácia e à segurança da fluvoxamina para os pacientes com a Covid-19 ainda permanecem em aberto.

    “A resposta definitiva sobre os efeitos da fluvoxamina em desfechos individuais, como mortalidade e hospitalizações, ainda precisa ser abordada. Resta determinar se a fluvoxamina tem um efeito aditivo a outras terapias, como anticorpos monoclonais e budesonida, e qual é o esquema terapêutico ideal da fluvoxamina”, disse.

    Segundo o especialista, são necessários estudos complementares para responder se os resultados encontrados na pesquisa poderão se estender a outros pacientes, incluindo pessoas que não apresentam fatores de risco para a progressão da doença, indivíduos vacinados ou aqueles infectados com outras variantes da Covid-19.

    O que é a fluvoxamina

    A fluvoxamina é um inibidor seletivo da recaptação da serotonina, um neurotransmissor que atua na comunicação entre as células nervosas. Em outras palavras, o medicamento tem a capacidade de inibir o transporte da serotonina para dentro dos neurônios, o que faz com que uma maior quantidade aja sob o cérebro.

    Por isso, a fluvoxamina é utilizada atualmente para tratar condições de saúde mental, como a depressão e os transtornos obsessivo-compulsivos. Além do potencial de atuação nas células nervosas, a substância também conta com propriedades anti-inflamatórias.

    Controle da inflamação

    A inflamação é um mecanismo natural do organismo humano em resposta à presença de um agente nocivo, como o novo coronavírus. A ação tem como objetivo destruir o invasor e eliminar células e tecidos lesionados. No entanto, quando exacerbada, a inflamação pode causar danos ao próprio organismo.

    Por isso, pesquisadores em todo o mundo estudam formas para reduzir os impactos da inflamação.

    “A fluvoxamina pode reduzir a produção de moléculas inflamatórias chamadas citocinas, que podem ser desencadeadas pela infecção por SARS-CoV-2”, afirmou a pesquisadora Angela Reiersen, professora associada de psiquiatria da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em um comunicado.