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    Além do câncer de pulmão: quais tumores podem ter relação com tabagismo?

    Cerca de 20% dos cânceres estão relacionados ao consumo de tabaco, alerta a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)

    Tabagismo pode estar relacionado ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, além do câncer de pulmão
    Tabagismo pode estar relacionado ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, além do câncer de pulmão Catherine Falls Commercial/GettyImages

    Gabriela Maraccinida CNN

     

    O tabagismo, doença crônica causada pela dependência à nicotina presente em produtos com tabaco, é presente em cerca de 9,3% dos adultos com 18 anos ou mais no Brasil, segundo dados do Vigitel 2023. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a condição está relacionada ao surgimento de diversos tipos de tumor, principalmente o câncer de pulmão — mas ele não é o único.

    Para conscientizar a população acerca dos perigos do uso do tabaco, foi criada a campanha “Dia Mundial Sem Tabaco“, reconhecido nesta sexta-feira (31). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas perdem a vida todos os anos no mundo em decorrência do tabagismo — 7 milhões de fumantes ativos e 1, 3 milhões de fumantes passivos.

    De acordo com William Nassib William Junior, oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o cigarro possui inúmeras substâncias com potencial cancerígeno. Quando esses componentes são inalados, chegam ao pulmão sem grandes dificuldades.

    “Essas substâncias acabam caindo na corrente sanguínea, e não somente aumentam o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão, mas também o risco de desenvolvimento de cânceres em outros órgãos”, explica.

    Quais cânceres podem estar relacionados ao tabagismo?

    Entre os principais cânceres que podem ter relação com o tabagismo estão o câncer de cabeça e pescoço, incluindo o câncer de boca, laringe e faringe. Além disso, o câncer de rim, de colo de útero, de fígado, de bexiga, de pâncreas, de estômago e o de colorretal também tem o risco aumentado pela prática de fumar.

    Conforme o uro-oncologista e cirurgião robótico André Berger, o tabagismo é a principal causa de câncer de bexiga. “Tabagistas têm três vezes mais chances do que não tabagistas de desenvolverem esse tipo de câncer”, afirma. A doença está relacionada ao tabaco devido à presença de substâncias carcinogênicas que causam danos ao DNA das células do urotélio.

    Entre os principais sintomas de alerta para esse tipo de tumor é o sangramento, frequência urinária aumentada e ardência ao urinar. O diagnóstico pode ser feito com ressonância magnética e tomografia de abdômen e pelve. “A prevenção do câncer de bexiga pode ser feita com campanhas de cessação de tabagismo, controle de exposição a agentes químicos, como benzeno, e a conscientização a respeito do câncer de bexiga”, afirma Berger.

    As leucemias mieloides agudas também tem seu risco aumentado em pacientes tabagistas, segundo William Junior. “O tabagismo é um fator de risco extremamente importante para o câncer. Estima-se que, aproximadamente 20% de todos os cânceres são causados pelo tabagismo e, nos Estados Unidos, 30% das mortes relacionadas ao câncer são por tumores que podem estar relacionados ao tabaco”, afirma.

    Nos casos de câncer de boca e laringe, substâncias presentes no tabaco como benzeno, formaldeído, acroleína e nitrosaminas entram em contato com as células da cavidade oral e provocam mutações que podem resultar em tumores. O Inca estima 15 mil novos casos de câncer de boca e 10 mil para o câncer de laringe, para cada ano até 2025.

    Fumar também está associado a um aumento no risco de câncer de estômago, especialmente na região do adenocarcinoma da região da cárdia, a parte do estômago mais próxima do esôfago. Isso acontece devido a substâncias cancerígenas presentes na fumaça do cigarro que podem ser ingeridas e atingir o estômago. Em 2020, 14 mil pessoas morreram em virtude do câncer de estômago – 21 mil novos casos serão diagnosticados por ano até 2025, segundo dados do Inca.

    Tabagismo passivo também é um fator de risco

    Quem não fuma, mas convive com tabagistas, também pode ter um risco maior para o desenvolvimento de câncer. O tabagismo passivo é a inalação da fumaça de derivados de tabaco. Segundo entidades internacionais de câncer, essa fumaça possui mais de 7 mil compostos e substâncias químicas, das quais 69, no mínimo, podem provocar câncer, conforme a American Cancer Society e a American Lung Association.

    Segundo o Inca, a fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde em um ambiente contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala.

    Políticas de controle ao tabagismo

    William Júnior destaca a alta incidência e mortalidade associadas a esses tipos de cânceres no Brasil e a necessidade de expandir essa compreensão para melhor prevenir e combater os efeitos devastadores do tabaco na saúde.

    “Ao eliminar este hábito, podemos diminuir consideravelmente os altos índices de diagnóstico de cânceres. O primeiro passo é entender os impactos negativos que o cigarro traz para a saúde. O segundo passo é buscar a orientação médica, porque hoje existem tratamentos eficazes para quem quer deixar de fumar”, acrescenta.

    A cessação do tabagismo é importante para diminuir tanto o risco de desenvolvimento de câncer, quanto para atingir um melhor sucesso com o tratamento do câncer, com menor chance de recidiva.

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