“Ainda não é hora de suspendermos o uso de máscara”, diz infectologista
Jamal Suleiman afirmou à CNN que a medida contra a Covid-19 ainda é essencial principalmente em pontos de aglomeração
Em entrevista à CNN, o infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas Jamal Suleiman afirmou que “ainda não é hora de suspendermos o uso de máscara”. A fala do profissional da saúde vem após a decisão de Duque de Caxias suspender a obrigatoriedade da medida.
Segundo médico, a condição para um decreto como esse “implica na análise de vários dados”. “Não é simplesmente um ‘achismo’, sob pena de retomarmos tudo aquilo que vivenciamos no ocorrer do ano passado até a metade de 2021”, disse.
Alguns dos itens pontuados por Suleiman a serem levados em conta nessa decisão são a taxa de circulação do vírus da Covid-19, a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o número de óbitos pela doença.
No entanto, segundo o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), “máscara a população quase já não usa”. “Ninguém vai viver de máscara o resto da vida. Quem quiser usar pode usar, mas o uso obrigatório já deu”, afirmou o chefe do governo estadual do município.
“A minha recomendação é que as pessoas não sigam esta recomendação, que elas continuem usando as máscaras até que tenhamos uma segurança muito maior, principalmente nessas cidades onde a aglomeração é um fenômeno corriqueiro”, alertou Suleiman.
“Ponto de ônibus é um ponto de aglomeração em área aberta. Quem circula pela cidade e a vive sabe como esse processo ocorre.”
Variantes
O infectologista também colocou o risco do surgimento de novas cepas como um ponto central a ser observado antes de se suspender o uso de máscaras.
“Temos essa variante Delta e outras variantes que podem emergir dessa processo de aglomeração”, afirmou.
“Se nada disso acontecer, com vigilância sobre esse processo, devemos flexibilizar cada vez mais.”
Segundo uma descoberta de pesquisadores britânicos, as pessoas que foram infectadas com a cepa Delta têm menos probabilidade de transmitir o vírus se já tiverem sido completamente imunizadas com a vacina. Porém, esse efeito de proteção é relativamente baixo e diminui depois de três meses do recebimento da segunda dose.
Especialistas criticam liberação do uso de máscara no Rio
Especialistas ouvidos pela CNN, nesta terça-feira (05), criticaram a projeção da prefeitura do Rio de Janeiro, que pretende desobrigar o uso da máscara de proteção contra a Covid-19 a partir do próximo dia 15, em locais abertos e sem aglomeração.
A professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gulnar Azevedo, desaprova a projeção da Prefeitura, por entender que a decisão ‘passa a mensagem errada’ para a população. Ela afirma que a liberação de máscara precisa acontecer em paralelo com uma comunicação eficiente com o público.
“O complicado é anunciar essa medida [liberação de máscara] sem estabelecer uma comunicação eficaz com o público. Essas decisões passam para as pessoas a ideia de que a pandemia está controlada, o que não é verdade. Já em ambientes fechados não há dúvida de que vamos precisar usar a máscara por muito tempo. E a fiscalização nesses locais precisa ser rígida”, completou a professora.
Em complemento ao colocado por Gulnar, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcolmo, afirmou que o anúncio da Prefeitura do Rio é precipitado, já que a desobrigação da proteção facial deveria acontecer apenas, quando mais cariocas estivessem totalmente imunizados.
“Não alcançamos a taxa de 80% de vacinados ainda, que é o ideal. Precisamos reduzir substancialmente o número de internados e mortos na cidade. A aglomeração é muito subjetiva. Uma festa com dez pessoas é aglomeração”
O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, também criticou a possível liberação do uso de máscara pela cidade do Rio no próximo dia 15 de outubro. Ele explica que não é ‘prudente’ desobrigar a proteção facial com uma taxa vacinal tão baixa. O pesquisador ainda destaca que a medida depende do cenário epidemiológico.
“Acho que não está sendo prudente essa medida, principalmente com uma taxa vacinal baixa, com apenas 65% da população imunizada. É um nível muito baixo de vacinação quando comparamos com outros países, por exemplo. E além da imunização, o cenário epidemiológico é fundamental para as flexibilizações. Precisamos dar a dose de reforço nos idosos, por exemplo”, aponta.
Croda fez também uma projeção para a liberação do uso de máscaras em ambientes internos e fechados.
“Acima de 80% é uma taxa razoável para liberar o uso de máscara em lugares abertos. Para ambiente fechado, eu acredito que a liberação não deve acontecer neste momento. Para lugares fechados, precisamos ter uma população totalmente vacinada. É necessária uma cobertura vacinal acima de 98%”, finalizou.
Em nota sobre a projeção que libera o uso de máscaras, o Ministério da Saúde esclareceu que realiza um estudo para avaliar a flexibilização do uso de máscara com o avanço da vacinação no Brasil assim como já ocorre em outros países.
(Publicado por Evandro Furoni)