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    Zema defende consórcio Sul-Sudeste e diz que grupo quer “protagonismo político”

    Governador mineiro cita fundo criado para Nordeste, Centro-Oeste e Norte na reforma tributária e questiona: "Sul e Sudeste não tem pobreza?"

    Marina Toledoda CNN , em São Paulo

    O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou que o consócio que reúne os estados do Sul e Sudeste (Consud) está em desvantagem no Senado, mas que busca protagonismo político, porque “ninguém pode ignorar o peso expressivo de 256 deputados na Câmara”.

    “Sempre vamos estar em desvantagem – 27, num total de 81. Nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no sábado (5).

    Zema citou a criação de um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte na reforma tributária, que está previsto para ser votado no Senado ainda neste ano, e questionou se as outras regiões do país também não tem pobreza.

    “Está sendo criando um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade…Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais.”

    “Então, Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década”, acrescentou.

     

    O governador mineiro fez uma comparação e disse que a situação lembra a do produtor rural, que dá um bom tratamento para as vacas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito.

    “Senão você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito.”

    “É preciso tratar a todos da mesma forma. As decisões têm que escutar ambos os lados e o Cosud vai fazer esse papel porque ninguém pode ignorar o peso de expressivo de 256 deputados na Câmara”, acrescentou.

    Zema disse que o Sul-Sudeste representa 70% da economia brasileira e defendeu o protagonismo político das regiões.

    “Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por estado. Nós falamos: não senhor. Nós queremos proporcional à população”, afirmou.

    “Por que sete estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, finalizou.

    Veja também: Abílio Diniz entrevista Romeu Zema

    O presidente do Consórcio do Nordeste e governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), publicou, no domingo (6), uma nota criticando as declarações de Zema e disse que incentivar uma guerra entre regiões significa não compreender desigualdades do país.

    Além disso, diz que “já passou da hora de o Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do crescimento econômico do país”.

    Nas redes sociais, o governador mineiro respondeu à críticas. Ee fez uma publicação dizendo que a União do Sul e Sudeste “jamais será para diminuir as outras regiões”.

    “Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogos e gestão são fundamentais pro país ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união”, escreveu.

    Veja a íntegra da nota do Consórcio Nordeste

    O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas decanas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

    O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

    Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.

    Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.

    É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.

    Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

    A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo do país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

    Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte, próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura. 

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