‘Vontade de encher tua boca de porrada’, diz Bolsonaro a jornalista
O jornalista questionou o presidente sobre os motivos de o ex-assessor Fabrício Queiróz e sua mulher terem repassado R$ 89 mil para a conta da primeira dama
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse neste domingo (23) ter vontade de agredir um repórter do jornal “O Globo” após ser questionado sobre os depósitos feitos pelo ex-policial militar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O jornalista questionou Bolsonaro sobre os motivos de o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e sua mulher terem repassado R$ 89 mil para a conta de Michelle.
O presidente, que estava na área externa da Catedral de Brasília, rebateu, incialmente, perguntando sobre os supostos repasses mensais feitos pelo doleiro Dario Messer à família Marinho, proprietária da Rede Globo.
O presidente chegou ao local por volta das 14h20, acompanhado de seguranças da Presidência.
Após a insistência do jornalista sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá? Seu safado”. Até a noite deste domingo, o Palácio do Planalto não havia se manifestado sobre o episódio.
Leia também:
Brasil ultrapassa os 3,6 milhões de casos confirmados da Covid-19, diz Saúde
Bolsonaro defende reabertura do comércio “com responsabilidade”
Bolsonaro respondeu ao jornalista enquanto caminhava e era assediado por vendedores ambulantes. O presidente foi questionado se estava fazendo ameaças à imprensa, mas não respondeu.
O presidente conversou rapidamente com apoiadores que estavam na região e, em seguida, decidiu deixar o local. No retorno para o carro, o repórter do jornal “O Globo” voltou a questionar Bolsonaro sobre os depósitos.
“Presidente, fala dos cheques para sua esposa, presidente. Por que foi acima do que o senhor tinha dito que era? Por que ela recebeu R$ 89.000?”, perguntou jornalista.
“Está falando o que? Da família Marinho? Um bilhão e 700? Toma vergonha na cara, fala da família Marinho, fala da família Marinho”, disse Bolsonaro.
De acordo com a revista “Veja”, em depoimento no dia 24 de junho, Messer teria dito que realizou repasses de dólares em espécie aos Marinhos em várias ocasiões a partir dos anos 1990. A família nega qualquer irregularidade.
Após a insistência do jornalista sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”. Até a noite deste domingo, o Palácio do Planalto não havia se manifestado sobre o episódio.
A declaração do presidente gerou uma série de reações de entidades em defesa da liberdade de imprensa. Em nota, o jornal “O Globo” disse repudiar a conduta de Bolsonaro. “O Globo repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia sua função, de forma totalmente profissional, neste domingo.”
No texto, o jornal também afirmou que “tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população”.
Em nota divulgada no início da noite, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também condenou a ameaça do presidente ao jornalista.
O texto, assinado em conjunto com as entidades Artigo 19, Conectas, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres Sem Fronteiras, diz que a reação do presidente a “uma pergunta incisiva” foi “não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática”.
“Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias.”
Ouça ao áudio do momento em que o presidente ameaçou o jornalista: