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    Um ano após a reunião da ‘boiada’, Moro e Salles enfrentam todo tipo de pressão

    Protagonistas da conversa ministerial que escandalizou o país, ex-ministro da Justiça e atual do Meio Ambiente vivem momento crucial de suas trajetórias

    Sergio Moro e Ricardo Salles
    Sergio Moro e Ricardo Salles Foto: José Cruz e Fábio Rodrigues/Agência Brasil

    Renata Agostinida CNN

    Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, Brasília prendeu a respiração. Ex-ministro da Justiça, Sergio Moro havia apontado que estava lá naquele vídeo, para quem quisesse ver, um Jair Bolsonaro sem filtro e sem máscara. Algoz por anos de dezenas de políticos e empresários, o ex-juiz da Lava Jato estava convicto de que havia ali um poderoso elemento de prova: o país conheceria um presidente decidido a mexer na Polícia Federal para proteger os seus.

    Um ano depois, a divulgação do vídeo ainda cobra fatura a Bolsonaro. Mas de frente imprevista para Moro. O “vou interferir e ponto final” proferido por Bolsonaro naquela manhã pouco é lembrado. É o “passar a boiada”, dito no encontro pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a conta com a qual o Palácio do Planalto ainda tem de lidar.

    Bolsonaro falou nesta quinta à Cúpula do Clima sob pressão inédita para polir a imagem do governo na gestão do meio ambiente, capitaneada até hoje pelo ministro que sugeriu naquela reunião aproveitar a atenção dada pela imprensa ao avanço da pandemia para “mudar todo o regramento” da área ambiental. O plano para “passar a boiada” virou o símbolo de um governo hostil à preservação da Amazônia aos olhos de investidores, empresários e líderes mundiais.

    Já a crise que Moro esperava acender com a revelação de um presidente pouco comprometido com o combate à corrupção esvaiu-se. Bolsonaro tratou de reagrupar seus ministros, abraçou o centrão, limou o lavajatismo do discurso, mudou por duas vezes o chefe da Polícia Federal – e quem mais quis lá dentro sem ser incomodado. Fez seus seguidores da direita mais radical enxergarem um inimigo no ex-juiz, que já tinha a esquerda a odiá-lo.

    Moro saiu. Salles permaneceu. A agenda ambiental seguiu em xeque e a interferência na Polícia Federal ganhou novos capítulos. Recentemente, o novo diretor-geral, Paulo Maiurino, decidiu tirar do cargo o chefe da PF no Amazonas. Ele havia pedido ao Supremo Tribunal Federal uma investigação contra Salles por obstruir uma apuração contra extração ilegal de madeira.

    A política virou terreno difícil para Moro, que agora também tem seu legado como juiz sob ataque. Sairá do plenário da corte também nesta quinta a decisão definitiva sobre se ele agiu com correção ou se julgou de forma parcial o ex-presidente Lula.

    Aliados em 22 de abril de 2020, Bolsonaro e Moro chegam a 22 de abril de 2021 em campos irremediavelmente opostos. Mais uma vez, porém, com batalhas a enfrentar. Bolsonaro precisa convencer o mundo de que tem alguma disposição para impedir a boiada de avançar destruindo ainda mais a floresta amazônica. Moro precisa que parte do Supremo ainda esteja convencida de que ele foi um juiz correto.