Todo mundo pode falar de tudo, menos de juros, diz Lula em discurso ao Conselhão
Ocorre nesta quinta-feira (4) a primeira reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS) responsável por assessorar o presidente e os ministros na formulação de políticas públicas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou, nesta quinta-feira (4), dizendo que no Brasil, “todo mundo pode falar de tudo, menos de juros”. Ele estava falando que o consumidor se importa mais com o valor das parcelas de um bem, do que com o valor dos juros, quando emendou: “Não estou dizendo isso, Roberto Campos, porque concordo com você não. Este Conselho pode até discutir taxa de juros se quiser.”
“Como se um homem sozinho pudesse saber mais que a cabeça de 215 milhões de pessoas”, falou.
A declaração foi dada durante a primeira reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS), o chamado Conselhão, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
O presidente falou na parte inicial da reunião, que começou por volta das 10h e deve se estender até às 17h, porque embarcará para o Reino Unido, onde se encontrará com o premiê Rishi Sunak e participará da coroação do rei Charles III.
O presidente destacou, em seu discurso, que o Conselhão “não é apenas um retrato do Brasil que somos, mas também do Brasil que queremos ser. Um Brasil no qual o diálogo e a busca de consenso serão sempre mais fortes que o ódio e as tentativas fracassadas de desunir o país”.
“Um Brasil no qual as decisões mais importantes para o país são tomadas a luz do dia, face a face e olho no olho. Um Brasil acima de tudo democrático”, acrescentou.
“Aqui não é um espaço para as pessoas virem falar bem do governo, nem só para fazer diagnóstico, é um espaço para vocês ajudarem a governar esse país, dizerem como querem que as coisas sejam feitas. Não é um espaço de queixa e reclamação, é um espaço de produção.”
O presidente destacou, ao longo de seu discurso, os desafios representados pela fome, pela desigualdade e pela crise climática. E disse que os debates que ocorrerão naquele espaço ajudarão a construir acordos e consensos em como enfrentar esses desafios.
“Eu estou botando muita expectativa e muita esperança no mundo que vocês podem criar a partir das discussões aqui”, falou. “A verdadeira solidez das políticas públicas vem do fato delas serem consideradas legítimas e necessárias pelos mais amplos setores da nossa sociedade.”
O presidente destacou a importância do Conselhão durante seus dois primeiros mandatos, e acrescentou: “O que for aprovado aqui será levado a sério pelo governo.”
O papel do Conselhão
De acordo com comunicado do Palácio do Planalto, o espaço é destinado a “debater agendas e temas de interesse dos mais diversos segmentos da sociedade” e, entre os setores representados, estão “movimentos sociais, setor financeiro, agronegócio e fintechs”.
Criado por lei em 2003, o Conselhão foi extinto em 2019 pelo governo Bolsonaro. Além de elaborar indicações normativas, propostas políticas e acordos de procedimento, a secretaria também irá apreciar propostas de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico-social sustentável, e articular as relações do governo federal com os representantes da sociedade civil.
“É a erosão da política da bolha. É um espaço amplo, com debate, divergência pra gente construir consensos no nosso país”, disse.
Luiza Trajano, Felipe Neto e mais: os nomes do Conselhão
Dos 242 convidados, 97 são mulheres, o que representa 40% do total. Na lista, figuram, por exemplo, Luiza Trajano (Magazine Luiza), Ana Paula Vescovi (Banco Santander) e Carla Crippa (Ambev).
Na relação, há 113 empresários, 83 representantes da sociedade civil e 46 integrantes de movimentos sociais e organizações sindicais. O objetivo foi tornar a configuração do colegiado federal mais plural do que em anos anteriores.
O segmento do agronegócio, um dos mais críticos à gestão petista, foi contemplado com onze assentos, incluindo João Martins (CNA), Eraí Maggi (Bom Futuro), Gilberto Tomazoni (JBS) e Rubens Ometto (Cosan).
O governo federal convidou ainda, entre outros, Luiz Trabuco (Bradesco), Eduardo Vassimon (Votorantim), Eduardo Navarro (Vivo), José Felix (Claro) e Fábio Coelho (Google).
A lista incluir representantes da sociedade civil como a apresentadora Bela Gil, o youtuber Felipe Neto, o cineasta Jorge Furtado, o padre Julio Lancellotti e o escritor Gabriel Chalita.
*Publicado por Fernanda Pinotti e Léo Lopes