Sou “louco” para que apareça o que Cid disse, diz Múcio à CNN sobre delação
Ex-ajudante de ordens relatou que Jair Bolsonaro teria se reunido, depois das eleições, com a cúpula das Forças Armadas, para discutir detalhes de um possível golpe de Estado
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse, nesta quarta-feira (27), em entrevista à CNN, ser “louco” para que apareça o conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
Em sua opinião, não é possível viver de vazamento de delações.
“Nós agora estamos dependendo do que Cid disse a Alexandre de Moraes [ministro do STF]. Eu sou ‘louco’ que isso apareça”, disse. “Eu não tenho nada oficial para poder trabalhar. Nós estamos precisando ter isso para poder essas coisas todas serem esclarecidas”, completou.
Segundo apuração da CNN, Cid disse em sua delação à Polícia Federal (PF) que o ex-presidente teria se reunido com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica após o resultado das eleições de 2022 para discutir detalhes de um possível golpe para não deixar o poder.
“Eu insisto que essas coisas foram individuais. As pessoas que participaram, no entorno do ex-presidente, eram da reserva — pelo menos os cabeças não tinham lideranças no Exército”, disse.
“Vocês reparem: Por que os comandantes quiseram todos sair antes do tempo? Dia 20 [de dezembro] queria todo mundo ir embora porque não aguentavam a pressão. Alguns tinham um sonho de não querer sair, seduzidos pelo poder, gostaram do que estavam fazendo, mas não contavam com as Forças. Nenhuma das três Forças queriam participar de movimentos golpistas”, prosseguiu.
O que disse Mauro Cid?
Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro recebeu em mãos uma minuta – o rascunho de um documento – com teor golpista.
A Polícia Federal ainda investiga se o documento entregue ao gabinete de Bolsonaro se trata do mesmo que foi encontrado durante busca e apreensão na residência do ex-ministro Anderson Torres.
A “minuta do golpe” seria uma proposta de decreto para que Bolsonaro instaurasse estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) enquanto ainda era presidente.
O estado de defesa está previsto no artigo 136 da Constituição Federal e permite que o presidente intervenha em “locais restritos e determinados” para “reservar ou prontamente restabelecer a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza”.
O texto teria como objetivo reverter o resultado da eleição presidencial de 2022, da qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso.
Após receber a minuta golpista, Cid disse que Jair Bolsonaro convocou uma reunião com a cúpula das Forças Armadas.
No encontro, representantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica teriam sido consultados sobre a possibilidade de uma intervenção militar para que o então presidente não deixasse o poder mesmo após ter perdido as eleições.
Marinha teria aceitado golpe de Estado, mas Exército teria sido contra
Ainda segundo Mauro Cid, a cúpula da Marinha teria embarcado na proposta de golpe de Estado e respondido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando as ordens de Bolsonaro.
No entanto, o comando do Exército não teria aceitado o plano e teria se recusado a agir.