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    Secretários de Saúde ficam estarrecidos com Bolsonaro e cobram retratação

    As autoridades de saúde estaduais viram no discurso do chefe do Executivo um desserviço no combate ao novo coronavírus

    Daniel Adjutoda CNN

    Pegou muito mal o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira (24) entre os secretários de saúde do país. A avaliação é de que foi um “grave erro” e que precisa ser reparado. “Inacreditável” foi palavra unânime para o discurso.

    As autoridades de saúde estaduais viram no discurso do chefe do Executivo um desserviço no combate ao novo coronavírus, atrapalhando o trabalho desenvolvido por eles e pelo ministro da Saúde. Para os secretários, houve uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias e a própria equipe técnica que está no enfrentamento à COVID-19.

    “Ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negar todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu presidente: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar”, escreveram os secretários em uma carta de repulsa ao pronunciamento.

    Ainda na carta, os secretários cobram postura do presidente e mostram que estão cientes do impacto econômico da doença. “Já temos dificuldades demais para enfrentar. Não podemos permitir o dissenso  e a dubiedade de condução do enfrentamento à COVID-19”, escreveram.

    Leia a carta do Conselho Nacional de Secretários de Saúde:

    “Carta dos Secretários Estaduais de Saúde do Brasil após pronunciamento do Presidente da República

    Assistimos estarrecidos o pronunciamento em cadeia nacional do Presidente Jair Bolsonaro. É preciso demonstrar ao Brasil as suas consequências para que toda a sociedade perceba a gravidade do momento que estamos vivendo. Temos, juntamente com o Ministerio da Saúde, os municípios  e a própria sociedade brasileira, empreendido uma intensa luta no enfrentamento da Covid-19.
    Luta que envolve trabalho, sacrifício, solidariedade, empatia, compaixão com o sofrimento das pessoas e  alinhamento de entendimento e de ações, união de esforços e uma única direção. Todas as decisões e recomendações do Conass e do Ministerio da Saúde têm se baseado em evidências científicas, na realidade nacional e internacional  e buscado inspiração nas melhores práticas e exemplos de ação e condutas exitosas ao redor do mundo.

    É este o esforço que temos empreendido em defesa de nossa pátria e de nossos irmãos e irmãs brasileiros. É dessa forma, desassombrada e corajosa, na direção correta que queremos seguir nesta missão de defender nossa gente. Não temos intenção de politizar o problema. Temos construído, sem dificuldade, independente de colorações partidárias, políticas e ideológicas, consensos para o bem do SUS e, sobretudo com a saúde de nosso povo. É isso que norteia nossas ações e esforços. Este é nosso compromisso. Já temos dificuldades demais para enfrentar. Não podemos permitir o dissenso  e a dubiedade de condução do enfrentamento à Covid-19. Assim é preciso que seja reparado o que nos parece ser um grave erro do Presidente da República.

    Ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negar todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas,  inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu presidente: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar.

    Infelizmente o que vimos em seu pronunciamento foi uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias de todo o país e, inclusive,  seu próprio Ministerio da Saúde. Sua fala dificulta o trabalho de todos, inclusive de seu ministro e técnicos.

    Todo o apoio à atuação do Ministerio da Saúde e sua equipe técnica, que tem trabalhado técnica e cientificamente em todos os momentos. Com saúde não se brinca e nem se fazer apostas, diante do risco que corremos. É preciso discernimento, coragem e determinação para liderar, unificar e auxiliar a nação a superar mais este desafio de Emergência em Saúde Pública.

    Temos plena consciência de que o Brasil e o mundo irá enfrentar uma grave recessão econômica, aprofundamento das desigualdades sociais e empobrecimento. A economia, com trabalho, disciplina, organização e espírito publico, se recuperará. Seremos solidários e trabalharemos sem descanso para permitir uma rápida recuperação da nossa economia.

    Mas é preciso que se entenda, vidas perdidas, não serão recuperadas jamais. Que Deus abençoe cada um de nós que temos trabalhado intensivamente e dormido pouco.

    Que Deus abençoe e proteja todos os brasileiros e brasileiras.”

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