Se eu mandar munição, entrei na guerra, diz Lula à CNN sobre conflito entre Rússia e Ucrânia
Presidente brasileiro afirmou que os russos se equivocaram ao invadir o território ucraniano
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, em uma entrevista exclusiva à CNN, nesta sexta-feira (10), antes de sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden na Casa Branca, que se mandasse munições para o conflito entre Rússia e Ucrânia estaria entrando na guerra.
Em sua opinião, a invasão russa foi um equívoco e ela não poderia ter feito isso por fazer parte do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Lógico que ela [a Ucrânia] tem o direito de se defender. Lógico que ela tem o direito de se defender até porque a invasão foi um equívoco da Rússia. Ela não poderia ter feito isso. Afinal de contas, ela faz parte do Conselho de Segurança Nacional. Ou seja, isso não foi discutido no Conselho de Segurança. O que eu quero é dizer o seguinte: olha o que tinha que ser feito de errado já foi feito”, explicou Lula à Christiane Amanpour, da CNN, em Washington.
“Agora é preciso encontrar pessoas para tentar ajudar a consertar. E eu, eu sei que o Brasil não tem muita importância no cenário mundial, nessa lógica perversa dos conflitos do mundo. Mas eu posso te dizer que eu vou me dedicar para ver se encontro um caminho para alguém falar em paz. Eu tive com o primeiro, eu tive com o chanceler alemão esses dias e ele foi no Brasil”, continuou se referindo à visita de Olaf Scholz.
Em 30 de janeiro, Lula expôs que “o Brasil é um país de paz. O último contencioso foi na guerra do Paraguai, portanto, o Brasil não quer ter nenhuma participação, mesmo que indireta.”
A guerra entre Rússia e Ucrânia começou em fevereiro de 2022 e continua até o momento, deixando milhares de mortos.
Divisão política
Lula disse que a divisão política nos Estados Unidos é maior ou tão séria quanto no Brasil.
“Aqui também há uma divisão, muito mais ou tão séria quanto o Brasil — democratas e republicanos estão muito divididos. Ame ou deixe-o, é mais ou menos isso que está acontecendo”, alegou Lula.
Tanto Lula quanto Biden viram seus prédios governamentais saqueados após as eleições presidenciais por elementos de extrema-direita, representando enormes testes para suas respectivas democracias.
“Nunca poderíamos imaginar que em um país que era o símbolo da democracia no mundo — alguém pudesse tentar invadir o Capitólio”, expôs Lula sobre os distúrbios nos EUA.
As semelhanças preocupantes do ataque de 8 de janeiro em Brasília com a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 incluem o alinhamento próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o ex-líder dos Estados Unidos, Donald Trump.
Lula chama Bolsonaro de “fiel imitador de Trump”, dizendo que os dois “não gostam de sindicatos. Eles não gostam do setor empresarial. Eles não gostam de trabalhadores, não gostam de mulheres. Eles não gostam de negros”.
Mesmo assim, Lula não está convencido de que todos os apoiadores de Bolsonaro sejam ideólogos. “Estou convencido de que nem todo mundo que votou em Bolsonaro seguem o bolsonarismo”, explicou.
É esperado que sua conversa com Biden se concentre no combate às mudanças climáticas e no combate ao extremismo antidemocrático.
Ao estender um convite antecipado a Lula para visitar a Casa Branca, Biden espera cultivar laços mais estreitos e demonstrar seu apoio a um dos principais atores do ocidente.
Biden ligou rapidamente para Lula após sua vitória no final do ano passado, na esperança de demonstrar apoio depois que Bolsonaro lançou bases para questionar os resultados das eleições. A medida foi bem recebida pelas autoridades de Lula, que a viram como um sinal de que Biden estava tentando restaurar os laços EUA-Brasil.
Eles já se encontraram anteriormente — quando Biden era vice-presidente, ele conheceu Lula em uma reunião no Chile. Mas, como contrapartes, eles procurarão aprofundar o que tradicionalmente tem sido uma relação bilateral importante no Hemisfério Ocidental, tensa nos últimos anos pelos opostos diametralmente Biden e Bolsonaro.
(*Publicado por Douglas Porto)