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    São Paulo está preparada em caso de restrições por todo o 1º semestre, diz Covas

    Confira a entrevista exclusiva do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), para a CNN

    Da CNN, em São Paulo

    O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse em entrevista à CNN que a cidade vai conseguir atravessar a pandemia do novo coronavírus somente se forem mantidas as atuais medidas de distanciamento social. Segundo ele, a cidade está preparada para lidar com restrições de circulação durante todo o primeiro semestre. 

    O prefeito afirmou ainda levar em conta as recomendações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), em relação à pandemia, e não as do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo Covas, “o vírus não é de esquerda nem de direita. O vírus é um vírus. Não tem posicionamento ideológico”.

    Questionado sobre sua saúde, afirmou estar “tranquilo e com disposição”. 

    “Estou conseguindo lidar com essa necessidade de ter que cuidar não só de mim, mais de 12 milhões de pessoas que precisam nesse momento do prefeito para liderar a cidade”.

    Leia a entrevista na íntegra:

    Thais Herédia: Prefeito, São Paulo tem a maior operação do Sistema Único de Saúde (SUS). Como está a gestão desse enfrentamento do novo coronavírus na maior cidade do Brasil?

    Bruno Covas: Além de todo o drama da doença em si, você tem o drama de que, como se trata de uma nova doença, é impossível você prever de antemão o pico da doença vai ser em tal data, vai começar a diminuir a curva em tal semana… Você tem projeções e projeções, mas que fazem com que a cada dia a gente tenha que reunir a equipe, avaliar os números, verificar se tem novas medidas a serem tomadas. Então você tem o drama do cenário que não é completamente certo. Quanto mais informação, mais tranquilidade você tem para tomar uma decisão. É difícil você mostrar que está do lado da ciência e, portanto, as pessoas precisam fazer isolamento social, e que a mesma ciência hoje não tem, às vezes, números para responder a todas as perguntas que as pessoas fazem.

    Eu gostaria que o senhor falasse do aprendizado da gestão desse desafio de fazer esse grande atendimento provocado pelo surto do coronavírus. Do sistema de saúde de São Paulo.

    Só na área da saúde nós estamos falando de um gasto extra de R$ 1,100 bilhão. Em novas equipes, EPIs [equipamento de proteção individual]. Só para você ter uma ideia… o uso médio de máscaras na rede municipal de saúde era algo em torno de 250 mil por mês. Agora, nós estamos falando de dois milhões de máscaras por mês. Só na rede municipal de saúde. É claro que não tínhamos nenhum estoque para dar conta disso. A gente está tendo que comprar e a cada dia vendo a evolução da doença. Nós temos casos, como acompanhamos na Europa, em que o médico tinha que escolher entre atender o paciente A ou o paciente B. Imagina em países com menos recursos como é o caso do Brasil.

    O senhor está falando desse enfrentamento entre escolher ‘A’ ou ‘B’ para salvar, mas tem uma outra escolha que tem acontecido, que é por equipamentos, remédios. A que preço e a que condições, de quem São Paulo está buscando, comprando e atendendo a essa demanda?

    Nós estamos tentando buscar em qualquer lugar hoje. Um aparelho respirador já está sendo negociado a praticamente US$ 50 mil, algo que era um valor cinco vezes menor há dois, três meses.

    Seguindo falando de São Paulo… Tem um centro muito ativo, mas uma enorme área de periferias e comunidades. Como está o monitoreamento do avanço do coronavírus nessas áreas e o cuidado com essas pessoas?

    Claro que nós temos uma ação de comunicação de convencimento em rádio, jornal, TV, entrevistas. Nós fizemos uma ação específica nas áreas mais periféricas, que às vezes têm mais dificuldade em ter acesso a esse tipo de comunicação, com carros de som que vão rodando a periferia de São Paulo. A grande ação foi com as equipes de Saúde da Família. Nós temos equipes da Saúde da Família em grande parte da periferia que começaram a levar essa informação para dentro das casas das pessoas. E a grande parte dos leitos de UTI [unidade de terapia intensiva] que está sendo ampliada na cidade também é na periferia de São Paulo. Hoje, mantido o isolamento, na faixa de 60% e 70%, nós sabemos que esses 3.000 leitos novos vão dar conta. Mas vemos infelizmente uma flexibilização por parte das pessoas, que acreditam em discursos de que é uma gripezinha. É importante avisar as pessoas que não é só uma questão de higiene, é uma questão humanitária, de respeito ao próximo.

    Como está o embate político? Como é que o senhor está se colocando?

    O vírus não é de esquerda nem de direita. O vírus é um vírus. Não tem posicionamento ideológico. Nem mesmo a cloroquina. É um remédio que precisa ser estudado e, se for o caso, disponibilizado à população. Fazer embate político em cima de uma pandemia é inaceitável. Aqui nós seguimos todas as recomendações que a Vigilância Sanitária tem passado. Existe talvez um posicionamento fora da ciência…

    Dos dois lados…

    Fora da ciência, fora de qualquer recomendação médica. Nós temos insistido que não estamos aqui para fazer o embate político ou para dizer ‘favor ou contra tal político’. Estamos aqui para fazer o que os médicos recomendam. Eu faço isso na minha saúde e faço isso na saúde da população.

    Você leva em conta o que diz o ministro da Saúde [Luiz Henrique Mandetta] e não o que diz o presidente da República [Jair Bolsonaro]?

    Não tem a menor dúvida.

    Como estão as contas de São Paulo?

    A expectativa hoje de perda de arrecadação é de R$ 3,6 bilhões por conta da crise econômica e das novas projeções que se fazem para o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro. Nós tínhamos um certo colchão quando começamos o ano. Nós tínhamos um superavit financeiro em 2019 de R$ 2,5 bilhões, mas a hora que você vai somando o gasto extra de R$ 1,1 bilhão, a perda de arrecadação de R$ 3,6 bilhões, você começa a ter que remanejar recursos de outras áreas. Por isso, mandamos um projeto para a Câmara Municipal, que já foi aprovado, para poder descongelar os recursos dos fundos municipais, que eram vinculados e carimbados a determinadas obras para que, se for o caso, nós possamos utilizar esses recursos. Nós aguardamos aprovação por parte do Congresso do projeto de lei que vai postergar o pagamento da dívida com a União, o que significa mais R$ 1,2 bilhão no caso do município de São Paulo. E a todo momento nós vamos verificando com secretários o que é possível manter e o que não vai ser possível iniciar este ano.

    O senhor falou sobre a expectativa desse projeto no Congresso Nacional. Essa é outra briga política que tem ganhado contornos de muita irresponsabilidade por parte do Congresso Nacional. Qual é a briga correta e justa? É atender a emergência ou misturar as questões e problemas estruturais das cidades e dos estados nesse projeto?

    Aqui na cidade de São Paulo nós não tínhamos nenhuma previsão no começo do ano de ter que deixar de pagar folha de servidor ou pagar empresas terceirizadas. Nós tínhamos uma situação fiscal tranquila. Aprovamos a reforma da previdência municipal, o que signifca mais R$ 500 milhões por ano para a cidade de São Paulo, fizemos bem a lição de casa abaixando bem a relação da dívida em relação a receita e corrente líquida. É claro que um gasto extra e uma perda de arrecadação, você precisa pelo menos financiar isso. Postergar o pagamento de dívida com a União não quer dizer que essa dívida vai ser zerada. Em algum momento ela vai ter que continuar a ser paga pela prefeitura de São Paulo. São Paulo quer que durante esse período a gente consiga passar sem ter que fechar hospital, fechar os serviços essenciais que são para a população que mais é afetada. 

    O senhor concorda em circunscrever essa ajuda do governo federal em 2020 e não dar a chance desse dinheiro ser usado em nenhuma outra área ou para resolver outro problema que não o problema do atendimento a saúde?

    É exatamente assim que nós temos aprovado na Câmara Municipal os projetos de desvinculação de fundos municipais, de receitas das operações urbanas aqui no município. A Câmara deve aprovar a desvinculação do seu próprio fundo para poder disponibilizar recursos para a área da saúde. Eu acho que são três as principais áreas: da saúde, da assistência social e do desenvolvimento econômico. 

    Há uma preocupação da equipe econômica, do ministro Paulo Guedes, de uma onda de calotes que estaria já acontecendo no Brasil, tanto entre contratos privados como também de calotes de pagamentos de serviços, tributos. Isso já está acontecendo em São Paulo?

    Nós acompanhamos diariamente a arrecadação na cidade de São Paulo. Para o governo federal é muito mais fácil fazer isso do que para os governos estaduais e municipais. O governo federal roda a moeda, pode emitir título da dívida. A prefeitura de São Paulo tem os impostos municipais. 

    Quanto tempo a cidade de São Paulo aguenta ficar fechada?

    Nós estamos nos preparando para poder enfrentar esse tipo de restrição durante esse primeiro semestre de 2020.

    Em que grau de intensidade?

    Restrições de circulação. 

    Qual é o cenário mais otimista e pessimista que o senhor tem hoje?

    Levantamentos mostram que se não tivesse tido as restrições de circulação o número de pessoas contaminadas e mortas seria dez vezes maior. A expectativa é que nós consigamos passar por essa crise mantidas as atuais medidas de isolamento.

    O senhor tem a sua batalha pessoal, de saúde. O senhor está bem disposto, preparado para enfrentar essa pandemia?

    Essa semana mesmo fiz mais uma sessão de imunoterapia. Diferentemente da quimioterapia, a imunoterapia não me derruba, não deixa meu sistema imunológico. Então eu não estou imunodepressivo, o que significaria eu estar no grupo de risco dessa doença. Portanto, para mim, cabem as restrições que cabem para todo mundo. Eu não estou fazendo office home. O que eu fiz foi mudar a minha cama para a prefeitura e evitar os deslocamentos e ficar 24h a disposição. E qualquer dúvida, eu ligo para os meus médicos. Estou tranquilo e com disposição. E estou conseguindo lidar com essa necessidade de ter que cuidar não só de mim, mas de 12 milhões de pessoas que precisam nesse momento do prefeito para liderar a cidade.

     

     

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