Saída da Conab da Agricultura desagrada ala de ruralistas e dificulta apoio a Lula
A mudança da Conab descontentou, inclusive, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que busca uma reversão, ainda que parcial, da medida
A transferência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do Ministério da Agricultura para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, recriado agora pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desagradou uma ala de parlamentares ruralistas e deve dificultar o apoio da bancada no Congresso ao atual governo.
A mudança da Conab descontentou, inclusive, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que busca uma reversão, ainda que parcial, da medida. Para aliados de Fávaro, a Conab no Desenvolvimento Agrário esvazia a pasta da Agricultura, especialmente no setor de políticas agrícolas.
A Conab foi criada em 1990 e está na estrutura do Ministério da Agricultura em 1991. A empresa pública é responsável por prover ao governo federal informações técnicas para a elaboração de políticas voltadas à agricultura e o acompanhamento de dados atualizados sobre a produção agropecuária nacional. Ainda, trata de ações relacionadas à regularidade de abastecimento e estoques.
O deputado federal Neri Geller (PP-MT), da diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), é um dos cotados ao comando da Conab, mas não deve assumir o posto se a Companhia continuar integralmente com o Desenvolvimento Agrário, afirmaram interlocutores.
O apoio dos deputados federais da bancada ruralista ao governo federal representa cerca de 230 votos, número expressivo para ajudar na aprovação de matérias de interesse de Lula na Câmara dos Deputados.
Há dúvidas se Lula vai renegociar mudanças com a FPA. Para um integrante da cúpula da Frente, a insatisfação causada mostra “falhas graves na transição” e “divisão e brigas por cargos”.
Por outro lado, há quem acredite que a ida da Conab ao Desenvolvimento Agrário possa ajudar melhor os pequenos agricultores e fazer com que a Companhia cumpra um papel mais social, como o deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG), que também integra a FPA.
Ele admite ser uma voz “um pouco dissonante” na bancada, mas ressalta que a Conab deve cumprir as diretrizes do governo que ganhou as eleições. A seu ver, a Companhia no Desenvolvimento Agrário deve atuar com mais força na regulação de estoques e na compra de produtos de agricultores mais carentes com a doação dos mesmos a pessoas em insegurança alimentar.
De todo modo, defende, o ideal seria que a Conab virasse uma agência independente, sem vinculação a ministérios, para pôr fim a disputas políticas, em sua avaliação.