Saiba mais sobre a vacina da CanSino, que pode ser novo alvo da CPI da Pandemia
Compra foi por meio de empresa intermediária e preço por dose é o maior de todos os imunizantes negociados pelo Ministério da Saúde


Após a suspeita de irregularidades no contrato da Covaxin, a negociação de outra vacina, a da CanSino, pode ser investigada pela CPI da Pandemia. O processo de aquisição do imunizante chinês foi similar ao do indiano: houve um intermediário e o preço por dose mais alto, de US$ 17– o maior dentre todas as vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde.
A pasta assinou a intenção de compra em 15 de junho, em um contrato de mais de R$ 5 bilhões por 60 milhões de doses. O acordo foi fechado com uma representante da farmacêutica no Brasil, a Belcher Farmacêutica.
Em 19 de maio, a empresa pediu à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a autorização de uso emergencial da vacina no país. O processo ainda está em análise.
Investigação
A avaliação da compra da CanSino ganhou força após uma análise no contrato de compra da vacina chinesa com o governo federal apontar um esquema similar ao da Covaxin, com um intermediário e preço elevado.
A dose do imunizante foi negociada a US$ 17 (R$ 83,75), enquanto o da Covaxin, o mais caro até então, a US$ 15 (R$ 73,89). O da Pfizer foi comprado a US$ 12 (R$ 59,11), enquanto o da AstraZeneca produzida na Fiocruz, o mais barato da lista, a US$ 3,16 (R$ 15,57).
Além disso, os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang teriam agido para facilitar a compra do imunizante. Wizard, que também é investigado por supostamente integrar o chamado “gabinete paralelo” do Ministério da Saúde, será ouvido pela CPI nesta quarta-feira (30).
Belcher Farmacêutica
A empresa que representou a chinesa CanSino Biological no acordo de compra foi a Belcher, alvo de investigação da operação Falso Negativo da Polícia Federal, que investiga a dispensa de licitação, superfaturamento e a baixa qualidade de testes para Covid-19 comprados pelo Distrito Federal.
Neste domingo (27), a Anvisa informou que recebeu um comunicado da CanSino no dia 17 de junho dizendo que a Belcher não tem mais autorização para representar a farmacêutica no Brasil.
Em nota, a empresa disse estar “à disposição para prestar esclarecimentos e colaborar com os trabalhos e investigações da CPI da Pandemia”, e que agiu sempre com boa-fé e ética. A companhia afirmou ainda que não representa a CanSino desde o dia 10 deste mês “por questões técnicas de natureza privada entre as empresas”.
“A Belcher Farmacêutica informa, ainda, não ter firmado qualquer tipo de contrato com o Ministério da Saúde. E considerando que não mais representa no Brasil há cerca de 20 dias o laboratório chinês CanSino Biologics, não participará de eventuais novas fases de negociação ou contratualização”, diz o texto. “O documento referido, no entanto, não é vinculativo, não obriga a contratação por parte do poder público, tampouco o fornecimento pelo laboratório chinês”.
A vacina da CanSino
Em fevereiro deste ano, a farmacêutica anunciou que a vacina dela contra Covid-19, chamada de Convidencia, obteve 65% de eficácia contra a doença.
Os dados se baseiam na vacinação de mais de 40 mil voluntários e numa análise preliminar de testes em fase 3 conduzidos em cinco países.
O imunizante é de dose única, assim como o da Janssen. Outros países já aprovaram o uso emergencial dele, como China, Hungria, Equador, Malásia, Chile e Argentina.
(*Com informações de Daniela Lima, da CNN)