Rui Costa e Ratinho Jr. comentam acusações de Bolsonaro a governadores
Governantes da BA e do PR falaram sobre enfrentamento da pandemia em seus estados e posicionamento do governo federal
Apesar de serem de lados opostos do espectro político, Rui Costa (PT-BA) e Ratinho Jr. (PSD-PR) concordam que o foco neste momento tem de ser o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, não o embate político. Em entrevista à CNN nesta quarta-feira (29), os governadores comentaram os ataques recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às medidas restritivas dos estados.
“O meu desejo é que o presidente parasse de agredir prefeitos e governadores e passasse a governar”, disse Rui Costa. “Eu vi que o presidente ontem, perguntado sobre o número de mortes [da COVID-19], disse ‘e daí?’. E daí, presidente, comece a governar com serenidade, seriedade e pare de agredir prefeitos e governadores, todos eles foram eleitos democraticamente”.
O petista pediu respeito às famílias e às vítimas. “Temos que unir o povo brasileiro a favor da vida e da sobrevivência. Desejo que o presidente seja infectado pelo vírus da paz, da responsabilidade e tenha sensibilidade com o povo brasileiro”.
Ratinho Jr. declarou que o Paraná “não tem tempo a perder com discussões políticas”. “Todo mundo sabe que tenho bom alinhamento com presidente, muita admiração por ele, mas temos entendimento diferente nessa situação”.
Quando questionado sobre o posicionamento do PT em um eventual processo de impeachment de Bolsonaro, Rui Costa respondeu que não pode falar em nome da legenda. “Mas enquanto governador, entendo que nós temos uma prioridade nesse momento, que é cuidar da vida humana”.
Moro
Os políticos também comentaram a demissão de Sergio Moro e a acusação de que o presidente teria tentado interferir na Polícia Federal. “É muito difícil fazer qualquer julgamento, porque há duas narrativas para a saída [de Moro]”, disse Ratinho Jr. “Cabe aos órgãos de fiscalização fazer levantamento e tirar conclusões”.
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Rui Costa foi mais categórico e diz enxergar acusações gravíssimas, tanto da parte do ex-ministro quanto do presidente, de que Moro teria condicionado sua atuação a uma indicação ao STF. “Que os responsáveis possam responder com base na lei brasileira. Espero que a Suprema Corte apure, não pode haver isso se a gente quer reconstruir o Brasil em outro patamar ético daqui para frente”.
O governador paranaense acrescentou que o ex-juiz seria bem-sucedido numa eventual carreira política. “Com a popularidade e credibilidade que conquistou, se ele entender que quer ser candidato a presidente, teria muita viabilidade”.
Sobre a nomeação do novo chefe da Polícia Federal, os governadores concordam. “É dado o direito de quem se elegeu escolher seus assessores, porque devem ser pessoas de confiança”, disse Costa, com a anuência de Ratinho Júnior. “O que a gente espera é que a democracia brasileira seja fortalecida, onde as instituições de Estado não estão a serviço do governo de plantão”.
Novo ministro da Saúde
Costa e Júnior também falaram sobre as impressões do novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ambos já se reuniram com o novo titular para apresentar as demandas e a situação de seus estados no enfrentamento da COVID-19.
“Seria prematura uma análise sobre o ministro”, disse o petista. “A expectativa é grande, espero que o ministro seja resolutivo e que possa entregar o que promete”. Ratinho Jr. não fez considerações pessoais sobre o chefe da pasta, dizendo apenas que a reunião foi boa e produtiva.
Pandemia
Com 2.540 casos confirmados até o momento, a Bahia tem quase o dobro de pacientes com COVID-19 que o Paraná, com 1.271.
No estado do Sul, não houve decreto estadual de quarentena. Ratinho Jr. explica que foram fechados apenas os estabelecimentos que promovem aglomeração, como exposições e bares. No entanto, demonstrou preocupação com a chegada do inverno. “Curitiba é a capital mais fria do país, e no inverno, há o aumento de doenças respiratórias”.
Já no estado do Nordeste, o governador conta que intensificou a fiscalização, com a Polícia Militar fechando estabelecimentos, bares e pontos de concentração e a imposição do uso de máscaras. Ele descartou a possibilidade de decretar um fechamento mais restrito neste momento, mas disse que poderia adotar medidas mais rígidas caso os casos continuem a crescer.