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    Reverendo diz ter sido usado e receberia apenas doações caso venda ocorresse

    Reverendo Amilton foi quem abriu as portas do Ministério da Saúde para que representantes da Davati Medical Supply fizessem proposta ao governo

    Renata Agostinida CNN

    Amilton Gomes de Paula é reverendo ligado à Igreja Batista e dirige há duas décadas uma entidade religiosa sediada em Taguatinga, bairro periférico de Brasília. No início deste ano, no entanto, ele decidiu se lançar num novo ramo de atuação: a venda de vacinas.

    “Reverendo Amilton”, como é conhecido, foi quem abriu as portas do Ministério da Saúde para que representantes da Davati Medical Supply fizessem uma proposta bilionária para vendas do imunizante da Astrazeneca. 

    Ele se reuniu com dois diretores da pasta e com o então secretário-executivo num intervalo de semanas, afiançando uma oferta de 400 milhões de doses de vacina Astrazeneca. O religioso chegou a ser nomeado oficialmente pela Davati para representar a empresa perante o Ministério da Saúde na transação, como mostrou a CNN.

     

    Ele diz, no entanto, que “foi usado” e chama representantes da Davati de “picaretas”. Em entrevista à CNN, o reverendo afirmou que já tirou fotos com Flávio Bolsonaro em evento em Brasília e já “cumprimentou” o deputado Hélio Lopes, que é muito amigo do presidente. Mas sustenta que não tem relação com o senador, nunca esteve com Jair Bolsonaro nem tem conexões políticas.

    O reverendo afirma que foi levado a acreditar que o negócio de venda de vacinas existia e que, por “razões humanitárias”, se envolveu com a operação.

    Ele disse, no entanto, que recebeu num telefonema uma oferta de “doações” por parte do presidente mundial da Davati, Herman Cárdenas, para a sua entidade, a Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) caso a venda de 400 milhões de doses de vacinas com o governo brasileiro se concretizasse.

    “Doações como a que ele já tinha feito a outras instituições internacionais. Ele faria também para a Senah por essa participação. Ele tinha essa intenção”, disse o reverendo Amilton. “Não falamos nem de valor, nem de comissionamento”.

    Como a CNN mostrou, o reverendo, que foi nomeado oficialmente como representante da Davati, enviou e-mails ao Ministério da Saúde falando da proposta da Davati e citando o valor de US$ 17,50 por dose, preço muito acima do que fora mencionado por Luiz Paulo Dominghetti como ofertado ao governo,

    Amilton Gomes de Paula preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários
    Amilton Gomes de Paula preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários
    Foto: Facebook/Senah/Reprodução

    O reverendo afirmou que Dominghetti mentiu. 

    “Houve uma ligação do Herman Cárdenas, na qual ele disse que estava preocupado porque o lote subiu de preço e precisava alinhar os valores”, disse o reverendo.

    O reverendo que participou de diversas reuniões do Ministério da Saúde diz que é “bode expiatório” do caso. 

    Segundo versão dada pelo reverendo, ele rompeu com representantes da Davati e proibiu que diretores da Senah seguissem falando de vacinas no final de março quando percebeu que a Davati não conseguia provar que tinha mesmo a mercadoria para entregar.

    A CNN entrou em contato com Dominguetti por telefone, mas ele não respondeu aos pedidos de esclarecimentos. 

    A Davati afirmou, por meio de nota, que seus advogados no Brasil ainda estão analisando o caso. Disse ainda que “em relação à proposta de intermediação na venda de vacinas, consigna-se que não houve concretização de venda no país por não se ter recebido manifestação de interesse de compra por parte do Ministério da Saúde, pois nunca foi assinado nenhum documento”. 

    A companhia também afirmou que “estará à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos juridicamente necessários, certa de que não houve, de sua parte, qualquer procedimento indevido”.