Reforma ministerial de Bolsonaro mira articulação política e acena ao Centrão
Escolha de Flávia Arruda para chefiar Secretaria de Governo atende pleito de partidos por uma parlamentar no cargo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu nesta segunda-feira (29) a maior reforma ministerial do seu governo, trocando os comandantes de seis das 23 pastas: Casa Civil, Defesa, Justiça e Segurança Pública, Advocacia-Geral da União (AGU), Relações Exteriores e Secretaria de Governo.
O que começou com o pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, terminou em um conjunto de mudanças que acenam à política tradicional e a aliados do governo no Congresso, como o Centrão.
Além da própria saída de Araújo, que pediu demissão após entrar em confronto com a senadora Kátia Abreu (PP-TO) e ser criticado por mais de duas dezenas de parlamentares, o Congresso foi contemplado com a esperada mudança na Secretaria de Governo.
“Bolsonaro atendeu a um pleito da política, que há muito tempo pleiteava uma troca na articulação do governo”, explica a analista de política da CNN Thaís Arbex, que ressalta o fato de a nova ministra, Flávia Arruda, ser deputada federal e oriunda de um dos principais partidos do Centrão, o PL.
O que não significa que o antecessor de Flávia, o general Luiz Eduardo Ramos, fosse mal quisto pelos parlamentares. Thaís Arbex explica que Ramos, que agora será ministro-chefe da Casa Civil, tinha bom trânsito, mas não “tinta suficiente na caneta para fazer aquilo que a política desejava”.
A analista de economia da CNN Raquel Landim pondera que, apesar de ter o respaldo do Congresso, a futura ministra Flávia Arruda tem uma missão difícil. Isto porque os setores econômicos consideram o orçamento de 2021 aprovado como sendo “inexequível”. Alterá-lo, como esses agentes imaginam que será necessário, influenciará interesses dos parlamentares, que podem ter que abrir mão de emendas apresentadas.
Justiça, AGU e Relações Exteriores
A situação de André Mendonça é considerada, entre todas as mudanças, a que tem um caráter mais temporário.
O presidente Jair Bolsonaro deslocou Mendonça da Justiça de volta para a Advocacia-Geral da União (AGU), mas ele não deve ficar por muito lá. “É uma espécie de pit stop”, explica a analista Thaís Arbex, que ressalta ser ele favoritíssimo para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga a ser aberta neste ano, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.
André Mendonça substitui José Levi Mello do Amaral Júnior, que ficou como advogado-geral no intervalo entre as suas duas passagens. Saindo da Justiça, abre lugar para o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que assume o posto de ministro, segundo a analista da CNN Basília Rodrigues, com a missão de direcionar a pasta mais para temas de segurança pública.
Para a política externa, que foi a faísca inicial da reforma, o presidente Jair Bolsonaro optou por um nome do seu círculo próximo, o diplomata Carlos Alberto França.
Assim como Ernesto Araújo, França se torna chanceler sem ter chefiado nenhum posto no serviço exterior, mas com algumas recomendações positivas de nomes influentes na diplomacia. Em entrevista à CNN, o ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa elogiou o novo ministro, com quem trabalhou na capital dos Estados Unidos.
Defesa
Um ponto sensível que tende a continuar repercutindo nos próximos dias é o futuro do Ministério da Defesa e das Forças Armadas. O presidente Jair Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo, por considerar que os militares estão distantes do Palácio do Planalto, segundo o colunista da CNN Caio Junqueira.
Azevedo deixou o encontro com Bolsonaro incomodado e redigiu a nota na qual deixa claro sua posição em relação a alinhamentos entre governo e forças. “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado.”
A mudança na pasta quase gerou uma debandada. Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica se reuniram e cogitaram pedir demissão em conjunto, algo inédito.
No entanto, o trio formado pelo general Edson Pujol (Exército), pelo brigadeiro Antonio Carlos Moretti (Aeronáutica) e pelo almirante Ilques Barbosa Júnior (Marinha) decidiu aguardar uma reunião com o novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto, antes de bater o martelo. O encontro está marcado para esta terça-feira (30).