Radar Político: estratégia de não reconhecer vitória de Biden parte do Itamaraty
Posição brasileira de aguardar divulgação de resultados oficiais é liderada pelo chanceler Ernesto Araújo, visto como remanescente da ala ideológica
No quadro Radar Político, da CNN Rádio, desta segunda-feira (9), Caio Junqueira, Fernando Molica e Igor Gadelha discutem a vitória de Joe Biden, nos Estados Unidos, e a estratégia do governo brasileiro de ainda não reconhecer o resultado da votação.
“É justamente o Itamaraty que lidera essa linha de só reconhecer a vitória de Biden – ou de Trump, eles nutrem a esperança de uma reversão na Justiça – quando for oficial”, disse Junqueira.
“Tem uma questão política muito interessante, muito forte, porque o Itamaraty é tido pelos bolsonaristas quase como o último resquício da ala ideológica [do governo de Jair Bolsonaro]. Dessa forma, não se trata apenas de uma questão de diplomacia, mas também de uma questão que reverbera na política brasileira”, completou.
“O presidente tem que olhar o que os assessores da diplomacia recomendam para ele, mas também nessa base bolsonarista que, a despeito de ter enfraquecido, ele continua fazendo acenos”, concluiu.
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Gadelha destacou que, mesmo dentro do Palácio do Planalto, já há uma divisão sobre reconhecer ou não a vitória de Biden.
“O vice-presidente Hamilton Mourão pregou prudência na posição do governo brasileiro e disse ser preciso esperar o resultado oficial. É a mesma posição de alguns auxiliares da área internacional do presidente”, disse.
“Por outro lado, temos os ministros militares e alguns ministros civis defendem que o presidente reconheça logo a vitória de Biden. A avaliação deles é que o presidente corre o risco de ficar isolado no cenário internacional se não declarar esse apoio”, completou.
“Um bastidor: essa confusão está tão grande que há uma confusão até dos tuítes que o presidente pode vir a publicar. Um auxiliar já escreveu duas sugestões para o presidente parabenizando a vitória de Biden, mas os auxiliares da área internacional acham melhor esperar o desfecho.”
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Por fim, Molica considerou essa uma situação inusitada, já que as relações devem ser entre os países, as instituições e não entre as pessoas.
“Você tem que levar em conta os interesses do país, não seus interesses pessoais. Até parece, nem se o Biden fosse um político de extrema esquerda – e não é nem de esquerda, é um pouco menos conservador que o Trump”, afirmou;
“O importante é como que isso pode influenciar na eleição brasileira. O presidente Jair Bolsonaro reclamou da urna eletrônica até quando ele venceu. Acho que isso é uma questão que a sociedade, as instituições e os poderes brasileiros tem que ficar muito atentos”, completou.
“Claro, fraude eleitoral é inadmissível, temos que tomar todo cuidado, mas não podemos cair na história de só aceitar resultado favorável ao grupo que está no poder.”
