Quem tem muitos nomes não tem nenhum, diz cientista político sobre terceira via
O especialista Murillo de Aragão disse à CNN acreditar que a postura do presidente Bolsonaro está relacionada com pandemia de Covid e os protestos contra ele
Em entrevista à CNN, o cientista político Murillo de Aragão afirmou que a profusão de nomes considerados como opções para uma “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022 mostra que, na verdade, ainda não se consolidou uma candidatura que possa fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Quando se tem muitos nomes, não se tem nenhum. Evidente que a polarização interessa hoje a Lula e a Bolsonaro. O centro tenta cavar seu espaço”, disse Aragão, da Arko Advice. Para ele, o cenário tende a se desenhar de forma mais concreta no segundo semestre deste ano. “O jogo está só começando”, opina.
Mais cedo, em entrevista à CNN, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também falou sobre o assunto. Para FHC, uma terceira opção, para conseguir se viabilizar, precisará construir uma narrativa além da negação de Lula e Bolsonaro.
“E não é só não ser neutro. A terceira via não pode ser uma coisa opaca, neutra, porque aí ganham os polos. Tem que ser uma coisa que polarize também, que chame atenção para as questões fundamentais do país, inclusive da democracia”, afirmou o tucano. “E não é uma pessoa que vai resolver isso, é um conjunto grande, somos nós todos, juntos, que podemos resolver isso”.
Manifestações
Para Murillo de Aragão, a postura do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (21), quando se irritou ao falar com a imprensa em Guaratinguetá (SP) mostra um incômodo do chefe do Executivo com a somatória de alguns fatores.
Entre eles, fato de ser atribuída a ele responsabilidade pela marca de 500 mil vítimas da Covid-19 e as manifestações do último sábado (19), consideradas expressivas na dimensão de pessoas presentes.
“Ficou claro no fim de semana que o monopólio das ruas não é mais apenas os bolsonaristas, ainda que tenham sido manifestações turbinadas por sindicatos e partidos de esquerda tradicionalmente de oposição ao governo”, afirma o cientista político. Os atos contra Bolsonaro no sábado (19) foram registrados em 25 capitais e no Distrito Federal ao longo do dia, segundo levantamento da Agência CNN.
“500 mil mortes é um número emblemático e trágico para a história do Brasil e o presidente da República tem que se sentir bastante incomodado com a situação, até porque há muitos que o acusam de ser responsável por parte dessa tragédia”, diz Aragão.
Nesta segunda-feira (21), Bolsonaro lamentou o número de óbitos pela Covid-19. O presidente retirou a máscara enquanto falava com uma jornalista e defendeu o chamado “tratamento precoce”, com medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença do novo coronavírus.
Publicado por Guilherme Venaglia