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    Queiroz não pensa em delação premiada, diz advogado

    "Ele sempre esteve à disposição da Justiça e não era procurado, nem mesmo foragido", disse o advogado Paulo Emílio Catta Preta

    O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que assumiu a defesa de Fabrício Queiroz, disse a jornalistas na tarde desta quinta-feira (18) que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) não pensa em fazer um acordo de delação premiada. Queiroz foi alvo de um mandado de prisão preventiva cumprido hoje em Atibaia (SP) e foi transferido para o Rio de Janeiro.

    “[Queiroz] não pensa em fazer colaboração, não trabalha com colaboração”, afirmou o advogado.

    Catta Preta disse que pretende entrar com pedido de revogação da prisão preventiva ou habeas corpus ainda hoje. Segundo o advogado, Queiroz disse achar a Operação Anjo “desnecessária e infundada” porque “sempre esteve à disposição da Justiça”.

    “Ele sempre esteve à disposição da Justiça e não era procurado, nem mesmo foragido. Qualquer intimação que fosse feita a ele, ele atenderia, ou algumas vezes que não pode comparecer, justificou as ausências”, afirmou o advogado, que também foi defensor do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro deste ano na cidade de Esplanada, no interior da Bahia, em um confronto com a polícia.

    Preso no interior de São Paulo, Queiroz foi transferido para o Rio de Janeiro e, depois de passar pela cadeia de Benfica, na zona norte carioca, segue para o complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste. No entanto, Catta Pretta quer que seu cliente fique detido em um batalhão da Polícia Militar. “Ele é policial militar reformado e [por isso] tem a prerrogativa de estar, quando preso, em unidades prisionais militares”, disse.

    A mulher de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, também foi alvo da operação realizada hoje e é considerada foragida. Catta Pretta disse que, “se de fato confirmar que há uma prisão contra ela”, também defenderá Márcia, cujo pedido de prisão seria mais “injustificado” que o de Queiroz.

    Queiroz, que foi preso pela Polícia Civil na manhã de hoje em um imóvel em Atibaia, no interior paulista, é suspeito de cobrar “rachadinha” — termo usado para apontar a prática de ficar com parte salários de servidores de um gabinete — quando trabalhava para Flávio Bolsonaro quando este era deputado estadual no Rio. Sobre isso, Catta Preta disse que Queiroz afirmou a ele que “as coisas não se deram da forma que estão sendo colocadas”. 

    O advogado não soube dizer qual a relação do cliente com o advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef — dono do imóvel no qual Queiroz foi encontrado nesta manhã.

    “Ele [Queiroz] falou que estava em São Paulo porque tem ido com alguma alguma regularidade por conta do tratamento [médico]. Mas ele não me disse e eu também não perguntei porque estava na casa do Frederick”, falou.  

    Catta Pretta disse ainda que Queiroz se sente ameaçado e, muitas vezes, perseguido, mas não detalhou quais seriam as supostas ameaças. 

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    A prisão

    Em entrevista à CNN, o delegado Nico Gonçalves, diretor do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) da Polícia Civil de São Paulo, afirmou que Queiroz não apresentou resistência no momento da prisão.

    “Não estou armado, fiquem tranquilo, não vai ter resistência. Vou me entregar, vocês estão com mandado? Então vamos cumprir a lei”, disse Queiroz no momento da prisão, segundo o delegado.

    O ex-militar permaneceu calado durante todo o trajeto de Atibaia até São Paulo e afirmou que não precisava da operação para prendê-lo, já que compareceria à Justiça se fosse convocado.

    O delegado afirmou ainda que o imóvel em que Queiroz foi preso era grande, mas que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava em um pequeno quarto. O delegado afirmou que um casal de caseiros estava em uma edícula no local.

    Gonçalves ressaltou que a polícia de São Paulo apenas cumpriu o mandado de prisão vindo do Rio de Janeiro e que todos os pertences e documentos serão encaminhados para o Ministério Público do Rio.

    Laços com a família Bolsonaro

    Fabrício José Carlos de Queiroz, de 55 anos, é ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. Policial Militar aposentado, também foi motorista do senador, filho mais velho do presidente Bolsonaro.

    Queiroz foi subtenente da PM, lotado no Batalhão Policial de Vias Especiais (BPVE). Como policial militar, se envolveu em 10 “autos de resistência”, ou seja, morte de suspeitos.

    Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro se tornam amigos nos anos 1980. Sua presença já foi registrada em jogos de futebol, saídas para pesca, atos de campanha e churrascos da família Bolsonaro.

    A amizade já foi citada publicamente pelo próprio presidente durante uma entrevista. Na ocasião, ele disse que era amigo de Queiroz há muitos anos e que já o auxiliou com empréstimos algumas vezes. Segundo Bolsonaro, Queiroz devia a ele R$ 40 mil.

    Durante os anos 2000, o ex-policial trabalhou por mais de dez anos como segurança e motorista de Flávio, o filho mais velho do presidente. Ele recebia da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) um salário de R$ 8.517 e acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.

    Flávio Bolsonaro também empregou em seu gabinete mais duas pessoas ligadas a Queiroz. Além da mulher e de duas filhas, o ex-assessor indicou a enteada, Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim, e o ex-marido da atual mulher, Márcio da Silva Gerbatim, para trabalhar no gabinete.

    Aos 21 anos, a enteada de Queiroz aparecia na folha de pagamento de outubro de 2018 da Alerj com um salário líquido de R$ 7.549,75 – valor idêntico ao que a filha Evelyn Melo de Queiroz recebia por seu trabalho no gabinete.

    A outra filha de Queiroz, Nathália Melo de Queiroz, foi nomeada de setembro de 2007 a fevereiro de 2011 no gabinete da vice-liderança do PP, partido de Flávio à época, com salário bruto de R$ 6.490,35.

    Queiroz foi exonerado do gabinete do então deputado estadual em 15 de outubro de 2018. O motivo oficial declarado era a necessidade de tratar de sua ida à reserva da PM.

    (Edição: Bernardo Barbosa)