Presidente da CPI dá voz de prisão a ex-diretor da Saúde
Omar Aziz já havia reclamado que Roberto Dias estava se esquivando das perguntas formuladas pelos senadores
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), mandou prender o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias.
Aziz já havia reclamado que o ex-servidor da Saúde estava se esquivando das perguntas formuladas pelos senadores.
“O depoente vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Ele está mentindo desde cedo e tem coisas que não dá para admitir (…) chame a Polícia do Senado. O senhor está detido pela presidência da CPI”, afirmou Aziz.
Enquanto respondia uma questão elaborada pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES), Roberto Dias foi interpelado por Eliziane Gama (Cidadania-MA), que alertou sobre uma reportagem da CNN que traz áudios que colocam em xeque a versão de encontro acidental entre Luiz Paulo Dominghetti e o ex-servidor da Saúde.
“Os áudios que temos do Dominghetti são claros”, ressaltou Aziz.
Após a decisão do presidente da CPI, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) tentou reverter a situação alegando que outros depoentes também mentiram à comissão e não foram presos.
“Se ele fez o compromisso de falar a verdade e não falou, tem que ser preso. O erro é da comissão que não prendeu todos”, avaliou Fabiano Contarato.
“Hoje acabou a paciência… ele passou o tempo todo mentindo para a CPI. Chegou a hora da CPI tomar uma decisão definitiva senão não vamos conseguir que as pessoas falem a verdade nessa CPI”, afirmou Rogério Carvalho (PT-PE).
Omar Aziz, no entanto, não atendeu o apelo dos colegas, manteve a decisão e encerrou a sessão.
“Tenho sido desrespeitado todos os dias com historinha aqui. Não aceito que a CPI vire chacota. Pessoas morrendo e eles brincando de negociar vacinas. Ele vai estar detido agora pelo Brasil, pelas vítimas sequeladas. Ele está preso e se eu estiver errado posso ser processado. Ele que recorra na justiça, mas ele está preso e a sessão está encerrada. Podem levar!”, finalizou.
Logo após deixar o Senado, o presidente da CPI publicou em uma rede social que a decisão de prender alguém não é fácil, mas que não vai aceitar que a comissão “vire chacota”. O parlamentar afirmou ainda que pode repetir a medida, caso outro depoente venha a mentir novamente à CPI.
“E quem vier depor achando que pode brincar, terá o mesmo destino”, escreveu o parlamentar.
Não vamos ouvir historinha de servidor que pediu propina. E quem vier depor achando que pode brincar, terá o mesmo destino.
— Omar Aziz (@OmarAzizSenador) July 7, 2021
Entenda as versões de Dominghetti e Dias
À CPI, durante a oitiva, o ex-servidor da Saúde negou ter marcado um jantar no restaurante Vasto, em Brasília, com o coronel Marcelo Blanco e o revendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti.
Segundo ele, o encontro no restaurante era apenas com José Ricardo Santana, apontado por Dias como “um amigo”. Ainda de acordo com o ex-funcionário da Saúde, o pedido de propina relatado por Dominghetti nunca aconteceu.
“O encontro foi marcado entre mim e meu amigo, marcado por telefone. Não combinei encontro com outras pessoas além dessa. Muito provavelmente o coronel Blanco soube por alguma mensagem ou ligação. Eu estava na mesa quando coronel Blanco chega e me apresenta Dominghetti, falamos sobre futebol, e ele então introduziu o assunto de vacina e, posteriormente, eu pedi a agenda formal no Ministério”, disse Roberto Dias.
Mas, segundo áudios obtidos pela âncora da CNN Daniela Lima, o encontro com Luiz Paulo Dominghetti, vendedor de vacinas da Davati Medical Suply, não teria sido acidental.
No dia 23 de fevereiro, dois dias antes do susposto pedido de propina, Dominghetti envia um áudio a um interlocutor, Rafael, às 16h22. “Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”, diz Dominghetti.
O dia do áudio, 23, é uma terça-feira. Quinta-feira, quando Dominghetti cita já ter uma reunião marcada para “finalizar com o Ministério” é exatamente o dia 25, quando houve o jantar em um bar em Brasília no qual Dias teria pedido propina.