Presidente da COP30 define Belém em carta a 197 países: “Momento da virada”
Mundo precisa agir "por escolha ou por catástrofe", alerta André Corrêa do Lago ao delinear os desafios da conferência climática em novembro
Em carta aberta divulgada nesta segunda-feira (10), o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, define a conferência em Belém como “momento da virada” no combate às mudanças climáticas e faz um alerta: o mundo precisa agir “por escolha ou por catástrofe”.
O texto do presidente da COP30, com 11 páginas e abordando os desafios da conferência que o Brasil vai sediar em novembro, foi distribuído para os 197 países-signatários da Convenção-Quadro das Nações sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).
Trata-se, segundo ele próprio, de mais do que uma carta endereçada apenas aos governos. É um documento também para os parlamentos nacionais, para os tribunais e para a sociedade civil como um todo.
Sem citar especificamente nenhum país, mas em um trecho que tende a ser lido inevitavelmente como indireta aos Estados Unidos pela saída do Acordo de Paris, Corrêa do Lago exalta o multilateralismo e a ação conjunta.
“Ao aceitar a realidade e combater a catástrofe, o cinismo e o negacionismo, a COP30 deve ser o momento da esperança e das possibilidades por meio da ação – jamais da paralisia e da fragmentação”, afirma na carta.
No texto, o embaixador lembra que 2024 foi o ano mais quente da história e primeiro em que a temperatura média global ultrapassou 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.
“A mudança é inevitável — seja por escolha ou por catástrofe. Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias”, diz Corrêa do Lago.
“Se, em vez disso, optarmos por nos organizar em uma ação coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agenda em direção a uma visão que nós mesmos projetamos.”
Designado recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo mais alto da conferência climática, o embaixador tenta explicar aos destinatários da carta o significado da palavra “mutirão” — que vem de “motirõ” em tupi-guarani — para convocar a comunidade internacional à ação em Belém.
“Ao compartilhar essa inestimável sabedoria ancestral e tecnologia social, a presidência da COP30 convida a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um mutirão global contra a mudança do clima, um esforço global de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”, afirma.
Em seguida, lembrando que as negociações climáticas se arrastam por mais de três décadas com poucos resultados efetivos, Corrêa do Lago ressalta a necessidade de apostar em uma agenda de implementação e classifica a COP30 como ponto de inflexão.
“Como nação do futebol, o Brasil acredita que podemos vencer ‘de virada’. Isso significa lutar para virar o jogo quando a derrota parece quase certa”, diz o embaixador.
“Juntos, podemos fazer da COP30 o momento em que viramos o jogo, quando colocamos em prática nossas conquistas políticas e nosso conhecimento coletivo sobre o clima para mudar o curso da próxima década”, define Corrêa do Lago.
“A COP30 pode ser a COP em que alinharemos esforços em todo o mundo: dos governos nacionais aos municipais, dos mercados de capitais internacionais às pequenas lojas de bairro, dos principais agentes tecnológicos aos inovadores locais, dos conhecimentos acadêmicos aos tradicionais.”
Agenda de implementação
O presidente da COP30 destaca a importância de “colocar em prática” o que foi acordado nas conferências anteriores.
“Devemos puxar de forma decisiva as alavancas de nossos processos, mecanismos e órgãos para alinhar os esforços dentro e fora da UNFCCC aos objetivos de longo prazo do Acordo de Paris relativos a temperatura, resiliência e fluxos financeiros”, afirma.
Um exemplo mencionado pelo embaixador é a implementação de ações de mitigação. O Brasil pretende criar uma plataforma digital para facilitar a colaboração entre governos, financiadores e outras partes interessadas no desenvolvimento de projetos que possam receber investimentos de maneira coordenada.
Na carta, Corrêa do Lago anuncia ainda a formação de um novo núcleo, o “Círculo de Presidências”, reunindo as presidências da COP21 à COP29, com a finalidade de “aconselhamento sobre o processo político e a implementação em mudança do clima”.
Também deverão participar do núcleo as atuais presidências da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (UNCBD) e da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
“O ‘Círculo de Presidências’ ajudará a garantir que a COP30 honre e sintetize os legados das COPs anteriores, ao mesmo tempo que reflete sobre a agenda em andamento e o futuro do nosso processo e da governança climática global.”