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    À CNN, Marina Silva diz que fala de Bolsonaro na Cúpula do Clima não convenceu

    Para ex-ministra do Meio Ambiente, há uma contradição entre o discurso e a prática do governo em relação à agenda ambiental

    Gregory Prudenciano e Jorge Fernando Rodrigues, da CNN, em São Paulo

    Em entrevista exclusiva à CNN, a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora pelo Acre Marina Silva disse, nesta quinta-feira (22), que o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula do Clima feito hoje “não convenceu” os países comprometidos com a agenda ambiental. Segundo Marina, falta ao governo brasileiro credibilidade, porque há uma distância entre o que é dito e o que é feito. 

    A ex-ministra acusou o governo Bolsonaro de investir contra instituições de controle e prevenção ao desmatamento ilegal e de estar ao lado dos contraventores. Por isso, na visão de Marina, Bolsonaro chegou acuado no evento promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e teve de apresentar dados positivos que foram conquistados em governos anteriores. 

    “Foi uma postura que não convenceu, principalmente os Estados Unidos e a Europa, os países do mundo desenvolvido que têm compromisso com a agenda da [de combate à] mudança climática”, disse Marina.

    “O discurso é ‘vamos zerar o desmatamento até 2030’, e a prática é ‘corta o orçamento do Ibama, corta o orçamento do ICMBio”, afirmou a ex-ministra, em referência ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ambos ligados ao Ministério do Meio Ambiente. 

    Delegado exonerado

    À CNN, Marina Silva também relembrou a substituição do delegado da Polícia Federal (PF) Alexandre Saraiva, que há 11 anos atuava na Amazônia e acabou exonerado do cargo de superintendente da PF no Amazonas um dia após enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por supostamente interferir indevidamente no trabalho da PF local e por defender madeireiros flagrados em desmatamento ilegal. 

    Segundo a ex-ministra, a exoneração de Saraiva seria mais uma prova de que o governo Bolsonaro não está comprometido com a agenda ambiental, mas sim em atuar na defesa dos que cometem crimes contra o meio ambiente. 

    “Há uma situação em que está sendo destruída a presença do Estado. O último bastião é a Polícia Federal. O Ibama já está desidratado, a relação com os governos estaduais já não tem nenhum tipo de integração e o último tiro de misericórdia é agora exonerar um delegado da PF que fez uma investigação, provou e apreendeu a maior quantidade de madeira irregular”.

    A ex-ministra também criticou falas recentes de Salles, que defende a injeção de recursos para o combate ao desmatamento por outros países, em especial os Estados Unidos. Segundo ela, “não se pode dizer que só pagando é que nós vamos cuidar daquilo que é nosso”. 

    A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva
    A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva
    Foto: CNN (7.ago.2020)

    Metas do Brasil

    Em sua fala na Cúpula do Clima, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o Brasil está comprometido em reduzir em 43% suas emissões de carbono até 2030 e chegar à neutralidade de carbono até 2050. Também até 2030, o país deverá ter zerado o desmatamento ilegal, disse Bolsonaro, reafirmando o compromisso apresentado a Joe Biden em carta enviada na semana passada. 

    Em nota, o Departamento de Estado dos Estados Unidos classificou como “planos sólidos” as metas apresentadas por Bolsonaro, e sinalizou que a maior economia do mundo poderá enviar recursos para ajudar o Brasil. 

    O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta quinta-feira que apresentou os planos do Brasil para os americanos, e destacou que “há necessidade de recursos a serem implementados imediatamente”. Em entrevista à CNN, Salles já havia dito que recursos estrangeiros poderiam acelerar o fim do desmatamento.

    Bolsonaro foi o 21º líder mundial a discursar no evento, o que gerou incômodo no governo federal. Países menores, como Ilhas Marshall e Bangladesh, discursaram primeiro. 

    Cúpula do Clima

    A Cúpula de Líderes sobre o Clima é parte do compromisso de campanha de Joe Biden com a agenda ambiental. Durante a disputa eleitoral, o democrata se comprometeu a reunir líderes globais ainda em seus primeiros 100 dias no cargo para discutir ações de enfrentamento à crise mundial das mudanças climáticas. 

    No primeiro dia de evento o Brasil esteve representado pelo presidente Jair Bolsonaro, que discursou e reafirmou o compromisso do país de zerar o desmatamento ilegal até 2030. 

    Também participaram do primeiro dia do evento os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, além de outros chefes de estado. 

    Nesta sexta-feira (23), último dia da Cúpula do Clima, o foco estará na economia e no desenvolvimento tecnológico. Estão agendados discursos e palestras de chefes de estado, como Benjamin Netanyahu, de Israel, e de empresários, como Bill Gates e Michael Bloomberg.