Política externa de Lula será diferente de seus outros governos, diz ex-chanceler
Em entrevista à CNN, Celso Lafer afirmou que Mauro Vieira assumirá Itamaraty com objetivos diferentes das gestões petistas de 2002 e 2006
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, afirmou, neste domingo (11), que a política externa do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá diferenças em relação a suas gestões de 2002 e 2006.
Em entrevista à CNN, o ex-chanceler argumentou que Lula chega à Presidência desta vez com outros objetivos internos e cenário internacional muito diferente.
“No plano interno, quando o presidente Lula assumiu pela primeira vez, o objetivo de política externa era diferenciar o governo Lula do governo do Fernando Henrique Cardoso (FHC) – explicitar porque o PT era diferente do PSDB em matéria de visão diplomática”, disse Celso Lafer.
“Não penso que um objetivo desses seja válido para política externa agora. A política externa do governo Lula será um instrumento de legitimação interna e governabilidade em um país que as eleições revelaram como muito dividido e polarizado”, acrescentou.
Ele ainda argumentou que a “guerra na Ucrânia, a crise do multilateralismo comercial, a crise do Mercosul e a urgência ambiental” também oferecem um cenário internacional diferente, no qual “os componentes de conflito são maiores do que os componentes de cooperação”.
“Se o governo Lula deseja ter uma confirmação de seu papel histórico no Brasil, ele deve ir além do que foram as realizações de seus dois primeiros governos”, pontuou o ex-ministro.
Indicação de Mauro Vieira
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, nesta sexta-feira (9), o diplomata Mauro Vieira para o Ministério das Relações Exteriores.
Embaixador do Brasil na Croácia desde 2018, Vieira já ocupou o mesmo cargo entre 2015 e 2016 durante o governo Dilma Rousseff, mas foi exonerado após o impeachment da ex-presidente.
Para o ex-chanceler Celso Lafer, a indicação de Mauro Vieira sinaliza “uma convergência” entre o presidente eleito e seu colaborador diplomático de longa data, ex-chanceler Celso Amorim.
“A indicação do Mauro Vieira reforça uma parceria lastreada na confiança, lealdade e no trabalho conjunto que ambos tiveram no decorrer dos anos”, afirmou.
Lafer acredita que a política externa do futuro governo terá “condições de recompor a presença internacional do Brasil porque representará uma mudança relevante em relação ao negacionismo da diplomacia Bolsonaro”.
Mulher na secretaria-geral do Itamaraty
“Seria muito válido ter a presença de uma mulher diplomata, qualificada, conhecedora dos assuntos internacionais na secretaria-geral. O Itamaraty tem um número relevante de diplomatas experimentadas que podem exercer bem essa função”, afirmou o ex-chanceler.
Ele optou por não apontar quais nomes recomendaria para o cargo “porque isso pode não ajudar as pessoas que gostaria de ajudar”.
Os dois nomes mais citados entre os diplomatas são as embaixadoras Maria Luiza Viotti e Maria Laura Rocha. Ambas foram cotadas também para o cargo de chanceler e são próximas do embaixador Celso Amorim, que é o nome de confiança de Lula para assuntos internacionais.
Viotti é economista e diplomata de carreira. Já foi chefe de gabinete do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em um movimento de ampliação da presença de mulheres em postos chave das Nações Unidas. Ela também foi embaixadora do Brasil na ONU e na Alemanha.
Maria Laura Rocha tem uma trajetória reconhecida nos órgãos multilaterais. Foi chefe da delegação do Brasil na FAO, a organização da ONU para Alimentação e Agricultura, e na Unesco. Atualmente é embaixadora do Brasil na Romênia. A escolha de Maria Laura para o cargo teria um significado adicional: responder à pressão por mais pessoas negras em cargos-chave do novo governo.
* Publicado por Léo Lopes, com produção de Jorge Fernando Rodrigues, da CNN