Plano golpista propiciou atos de vandalismo do 8 de janeiro, diz PF
Relatório afirma que atuação do general Mario Fernandes fez com que a “necessidade de uma ação disruptiva desencadeasse uma reação em cadeia”
Relatório da Polícia Federal (PF) que teve o sigilo retirado nesta terça-feira (26) concluiu que a trama golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados propiciou os atos de vandalismo no episódio que ficou conhecido como 8 de janeiro.
De acordo com o documento, a atuação do general da reserva Mario Fernandes, preso por envolvimento no plano, fez com que a “necessidade de uma ação disruptiva desencadeasse uma reação em cadeia”.
O incentivo ao golpe por parte dos envolvidos na trama teria resultado nos episódios em 12 de dezembro de 2022, quando apoiadores de Bolsonaro queimaram ônibus e tentaram invadir a sede da corporação; em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes; e em 13 de novembro de 2024, quando um homem realizou um atentado a bomba em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Mario Fernandes era responsável por dar apoio material e financeiro e orientar os participantes das manifestações antidemocráticas em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília, que serviu de base de onde saíram parte das pessoas envolvidas no 8 de Janeiro.
Segundo a PF, Fernandes era o “ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas” e tinha influência sobre as manifestações.
“[…] o general Mario Fernandes estabeleceu o vínculo com os manifestantes golpistas, que estavam acampados em frente a instalações militares pedindo uma ruptura institucional. Essa ação, juntamente com a difusão em alto volume, por multicanais, de forma rápida e repetitiva de narrativas golpistas mantiveram perene no grupo mais extremado a necessidade de uma ação disruptiva que desencadeasse uma reação em cadeia, levando as Forças Armadas a aderirem ao intento golpista, consumando a ruptura do Estado Democrático de Direito”, disse o relatório.
A Polícia Federal afirmou ainda que as ações violentas na Praça dos Três Poderes tinham o objetivo de “cooptar” a adesão das Forças Armadas para consumar o golpe de Estado e manter Bolsonaro na Presidência.
A PF teve acesso a conversas de Fernandes sobre o golpe. Em uma mensagem de voz, o general falou em clamor popular, “como foi em 64”, para adesão das Forças ao suposto golpe de Estado
Em uma conversa com Fernandes, o coronel Raimundo Criscuoli também mencionou um suposto “apoio maciço” por parte da população. Criscuoli abordou os pedidos de apoiadores de Bolsonaro como uma justificativa para o Exército participar do golpe.
“É melhor ir agora que o povo tá na rua e pedindo, porque daqui a pouco nós vamos estar indo por interesse próprio, aí não vale, aí eu não vou”, disse o militar em áudio.
Ação coordenada
De acordo com a PF, o grupo envolvido no plano tinha o objetivo de “incitar” a população de direita a resistir em frente aos quartéis do Exército para criar o ambiente “propício” para um golpe de Estado.
Formada por militares e um policial federal, a organização divulgava ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e fake news sobre possíveis fraudes nas eleições de 2022, que resultaram na derrota de Bolsonaro.
A corporação falou ainda na criação de um ambiente propício para o “florescimento de um radicalismo”.
Plano para golpe de Estado
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou nesta terça (26) a retirada do sigilo do relatório da PF sobre a investigação de um plano golpista por parte de Bolsonaro e seus aliados.
A investigação mostra que o plano do grupo era matar Moraes, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para realizar uma intervenção militar e manter Bolsonaro na Presidência.