Planalto ameniza depoimento de Torres e diz comprovar independência da Anvisa
Durante a fala à comissão, presidente da agência divergiu de Bolsonaro em quase tudo, defendeu máscaras e vacinas e criticou aglomerações e cloroquina
O depoimento do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, foi avaliado por interlocutores do Palácio do Planalto como prova de que não há interferência do governo na agência. Durante a fala à comissão, Torres divergiu de Bolsonaro em quase tudo, defendeu máscaras e vacinas, criticou aglomerações e cloroquina e discordou da imunidade de rebanho.
Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmaram à CNN que a postura do governo sempre foi a de que a Anvisa esteve longe de pressões e que as decisões são técnicas. Um assessor muito próximo de Bolsonaro disse que a independência de Barra Torres demonstrou que não houve politização do tema na análise das vacinas.
Enquanto prestava depoimento na CPI, Barra Torres era acompanhado, do Planalto, por ministros e assessores do governo.
O presidente da Anvisa confirmou a reunião no Planalto em que houve a discussão da ideia de mudar a prescrição do uso de cloroquina para atender infectados pelo novo coronavírus. Para o governo, a confirmação não comprometeu o presidente, uma vez que a ideia foi atribuída a outra pessoa.
Torres disse que, durante a reunião, a médica Nise Yamaguchi, conselheira de Bolsonaro, “falou como se estivesse mobilizada” com o assunto, mas ele também disse não saber quem seria o autor da ideia.
Antes mesmo do depoimento desta terça-feira (11), a CPI já possuía três requerimentos para convocar a médica, que foram propostos por governistas como forma de apresentar opiniões favoráveis à cloroquina.
Torres, que já chegou a ser cotado para ministro da Saúde, tirou fotos do presidente durante manifestação, em Brasília, em março. Na ocasião, Bolsonaro foi até o encontro dos manifestantes, em frente ao Planalto, para cumprimentar apoiadores.
Nesta terça-feira, durante o depoimento, ele fez uma avaliação sobre o próprio comportamento e se referiu à “imagem negativa” que a situação deixou. “Hoje tenho plena ciência que, se pensasse cinco minutos, não teria feito.”
Em nota, a médica Nise Yamaguchi afirmou que a declaração de Barra Torres não representa a realidade. “Sou médica oncologista e imunologista com 40 anos de experiência clínica e assessorei os últimos quatro governos federais cientificamente, bem como o governo do estado de São Paulo. Já existem evidências científicas comprovadas para o uso de medicações que possam auxiliar no combate às fases iniciais da Covid-19 e, caso seja convocada, estarei à disposição da CPI da Covid-19 para esclarecimentos”.