PF quer ouvir Bolsonaro em inquérito sobre acusações de Moro
Segundo a PF, "as investigações se encontram em estágio avançado, razão pela qual" o depoimento do presidente é necessário para o caso
A Polícia Federal quer ouvir o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no inquérito que apura as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro sobre interferência política na corporação.
Na sexta-feira (19), a delegada Christiane Correa Machado enviou ofício ao ministro Celso de Mello, responsável pelo inquérito no STF, no qual afirma que “as investigações se encontram em estágio
avançado, razão pela qual nos próximos dias torna-se necessária a oitiva” do presidente.
Ainda não se sabe quando Bolsonaro vai prestar depoimento, e se o fará presencialmente ou por escrito. O gabinete de Celso de Mello confirma que o ministro já está analisando o ofício e decidirá sobre como e quando será feito o depoimento.
Em 2017, o então presidente Michel Temer (MDB) prestou depoimento por escrito no inquérito que apurava irregularidades no setor de portos.
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Moro pediu demissão do Ministério da Justiça no fim de abril, ocasião em que acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF. Ele pediu para deixar o cargo depois da exoneração de Maurício Valeixo, então diretor-geral da corporação.
No começo de maio, em depoimento à Polícia Federal, Moro disse ter sofrido pressão de Bolsonaro para mudar o comando da corporação e da superintendência da PF no Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com o depoimento de Moro, Bolsonaro pedia substituições na PF para ter “acesso a relatórios de inteligência da PF”, mas que o presidente já tinha acesso a esses documentos por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin).
A íntegra do depoimento de Moro foi divulgada em primeira mão pela CNN. Após a divulgação, Bolsonaro classificou as acusações feitas pelo ex-ministro como “mentira deslavada”.
Dias depois, em nota, o presidente voltou a negar que tivesse interferido politicamente na Polícia Federal e afirmou que, “por questão de Justiça”, acreditava “no arquivamento natural do inquérito”.
“Nunca interferi nos trabalhos da Polícia Federal. São levianas todas as afirmações em sentido contrário. Os depoimentos de inúmeros delegados federais ouvidos confirmam que nunca solicitei informações a qualquer um deles”, disse o presidente.
No dia 8, a pedido da PF e com manifestação favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República), Celso de Mello decidiu prorrogar por 30 dias o inquérito sobre as acusações de Moro.
(Com informações de Gabriela Coelho, da CNN em Brasília)
CORREÇÃO: Uma versão anterior deste texto dizia que a PF havia pedido ao STF para ouvir o presidente Jair Bolsonaro. A informação correta é de que a PF comunicou o STF que o depoimento do presidente é necessário para o inquérito. O texto já foi corrigido.