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    “Para outros eu cobro mais caro”, disse pastor ao pedir propina, relata prefeito

    Proposta de Arilton Moura foi feita de "forma bem direta", disse Kelton Pinheiro, da cidade goiana de Bonfinópolis

    Ester CassaviaLayane SerranoGiovanna Galvanida CNN

    em São Paulo

    O prefeito da cidade de Bonfinópolis (GO) Kelton Pinheiro (Cidadania) detalhou, em entrevista à CNN nesta sexta-feira (25), como teria ocorrido o pedido de propina feito pelo pastor Arilton Moura em troca da liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC) para o município.

    O caso foi inicialmente revelado pelo jornal “O Globo”, e o pedido de propina já havia sido relatado pelo prefeito à CNN na quinta-feira (24). Segundo Pinheiro, Arilton Moura se aproximou dele em um almoço após uma reunião em um auditório do MEC, na qual estava presente o ministro Milton Ribeiro, e afirmou:

    “Você viu que temos proximidade com o Ministério. Eu consigo liberar um recurso para a escola que você quer, em torno de R$ 7 milhões, e você precisa pagar para mim hoje R$ 15 mil. Vou fazer 15 mil reais para você porque está aí com o pastor Gilmar, mas, para os outros, eu cobro mais caro”, teria declarado Moura de “forma bem direta”, disse o prefeito, reproduzindo as palavras do pastor.

    “O que me deixou mais indignado foi que teria que ser feito o pagamento naquele dia, senão ele não poderia garantir a verba. Ele disse que não confia na classe politica, que os políticos são desonestos e não tem palavra, então que não poderia fazer para pagar depois”, continuou Pinheiro.

    Kelton Pinheiro disse ainda que o pastor não mencionou o nome de Milton Ribeiro, mas que tanto ele quanto Gilmar Santos — outro pastor que seria do círculo de influência junto ao MEC, conforme revelado por áudios do ministro Milton Ribeiro — estavam sentados junto ao ministro ao longo de toda a reunião.

    “O ministro fez um discurso sobre um governo transparente, combativo à corrupção, inclusive frisando que não havia necessidade de interlocutores, lobistas e intermediários entre prefeituras e o ministério. O que me causou estranheza é que esses pastores estavam ao lado dele na mesa, sentados ao lado de autoridades”, disse.

    Além disso, dias antes do encontro, ainda em Goiânia, Kelton Pinheiro disse que Arilton Moura propôs que ele comprasse 1000 bíblias por R$ 50 cada após ter finalizado a articulação da presença do prefeito na reunião com o ministro da Educação.

    O prefeito entendeu o pedido como uma “oferta” à igreja para ajudar a custear reformas no local, mas teria respondido a Moura que, pela prefeitura, não poderia fazer esse pagamento.

    “Não tenho condição de comprar as 1000 bíblias, a prefeitura não pode fazer esse tipo de despesa. Umas 100 bíblias, acredito que, como cristão, posso contribuir também”, explicou Pinheiro ao pastor na ocasião.

    Recurso para escola

    O recurso que o prefeito de Bonfinópolis buscava seria direcionado para a reforma de uma escola de ensino integral, explicou ele, e os trâmites habituais do pedido de financiamento junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação foram feitos em abril, relatou, meses após a oferta feita por Arilton Moura.

    Segundo ele, o tempo estimado da análise feita pelo FNDE é de um ano a um ano e meio, motivo pelo qual acredita que o seu pedido ainda esteja no prazo para ser considerado.

    O prefeito disse ainda que não procurou o Ministério da Educação para denunciar o pedido de propina porque “seria a palavra dele contra a minha”. Também negou ter recebido relatos semelhantes de outros prefeitos, já que, para ele, o agravamento da pandemia na época fez com que os encontros presenciais fossem suspensos por um tempo.

    CNN procurou os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Em suas redes sociais, Santos publicou uma nota na quarta-feira (23) em que diz que as reportagens envolvendo seu nome são “acusações levianas” e que “nunca houve de minha parte interferência nas relações institucionais do MEC”. Moura ainda não respondeu.

    Após a repercussão do caso, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de um inquérito contra Milton Ribeiro, acatando a um pedido da Procuradoria-Geral da República.