Painel CNN: deputados debatem uso da linguagem neutra nas escolas
Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para derrubar lei que proíbe linguagem neutra em instituições de ensino
O plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para derrubar uma lei do estado de Rondônia que proíbe a denominada linguagem neutra na grade curricular e no material didático de instituições locais de ensino, públicas ou privadas, e em editais de concursos públicos.
Em painel realizado pela CNN nesta sexta-feira (10), a deputada federal Ana Pimentel (PT-MG) e o deputado federal José Medeiros (PL-MT) discutiram a utilização da linguagem neutra nas escolas.
Para a deputada Ana Pimentel, a linguagem neutra representa um avanço em termos de inclusão.
“Considero que a linguagem neutra, como eu gosto de falar, a linguagem inclusiva, é fundamental nesse momento na nossa sociedade exatamente por explicitar a diversidade que nós temos nesse momento de identidades sexuais e orientações sexuais na nossa sociedade. Portanto, a linguagem, que é sempre socialmente e historicamente relacionada, é fruto das relações sociais históricas da nossa sociedade, representa os anseios da contemporaneidade, é fundamental que, nesse momento, a linguagem inclusiva esteja também dentro das escolas”, disse.
O deputado José Medeiros afirmou que não considera esse tipo de linguagem neutro ou inclusivo.
“A nossa língua portuguesa, como todo mundo sabe, deriva, como outras línguas, do latim. O latim já teve um termo neutro. Depois, a língua evoluiu e passou a ter um termo que comporta todos”, disse Medeiros. “A língua portuguesa acaba abarcando, quando diz ‘todos’ não quer dizer que a palavra masculina ‘todos’ é para o homem. Assim como quando eu digo ‘sol’ não é que o sol é homem ou a ‘lua’, a lua é feminina, ou a ‘terra’ é algo feminino”, completou.
A parlamentar petista argumentou que a linguagem neutra reconhece a importância de uma parcela da população que se identifica como não binária – ou seja, pessoas que não se identificam como pertencentes a um gênero, como masculino ou feminino, exclusivamente.
“Eu acho que é fundamental a gente compreender que a linguagem é fruto das nossas relações, que são relações sociais e que, portanto, ela deve contemplar os diversos sujeitos que hoje vivem na nossa sociedade e compartilham valores. Todas as vezes que a gente fala que a linguagem hoje é neutra, a gente está excluindo os sujeitos que são sujeitos hoje não binários e que são sujeitos fundamentais”, pontuou Ana.
O deputado do PL defendeu que mudanças na língua portuguesa devem ser acompanhadas de um rito, envolvendo acadêmicos e estudiosos.
“Nesse momento, eu acho importante que, como a deputada disse e eu concordo, as mudanças numa língua têm que vir do ser social. Essa linguagem está vindo de cima e isso é preocupante por que toda mudança na língua portuguesa tem um rito e é importante que tenha. Ela passa pela academia, é votada, os estudiosos se reúnem. Por que é importante isso? Para não criar uma confusão nas escolas, na cabeça das crianças”, afirmou Medeiros.