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    O mercado, os novos governos e a questão racial

    Desde o início da transição do novo governo muito tem se falado, escrito e também elucubrado de como será a relação do novo governo com o mercado nos próximos anos

    Maurício Pestana

     

    Desde o início da transição do novo governo muito tem se falado, escrito e também elucubrado de como será a relação do novo governo com o mercado nos próximos anos, uma vez que o país deu uma guinada de 180 graus na orientação ideológica de sua política e isso terá sim uma forte influência na questão econômica e consequentemente nas áreas social e racial que caminham juntas em nosso país.

    Mas afinal o que é esse tal “mercado”?  Nada mais que o conjunto dos setores da economia como bancos, empresas, agronegócios e claro os especuladores e investidores e não dá para ignorar sua pressão constante cuja manifestação maior se dá pela alta ou pela queda da bolsa e do dólar.

    Nesta perspectiva, seja para mal ou para o bem a questão racial também nos últimos anos tem estado no radar deste pessoal sob a prisma do social, da diversidade e da sustentabilidade leiam-se ESG.

    E o que isto tem a ver com os novos governos que se instalarão a partir de 2023? Tudo! Sim, porque se os governos estão cada vez mais pressionados e alinhados com os apontamentos do mercado no quesito diversidade e inclusão, o mercado tem dado de goleada nos avanços que este tema tem trazido para o centro das discussões empresariais nos últimos anos.

    Existe uma pressão cada vez maior seja da sociedade civil alinhado com ao tal “mercado” seja por meio das grandes corporações ou mesmo das instituições que regem essas empresas por uma maior participação de grupos discriminados como negros, mulheres, PCDs, LGBTQ, entre outros em cargos de direção das companhias, fato esse nunca expressado na história da economia.

    Exemplos claros deste comportamento tem sido observado em bolsas de valores como Nasdaq e B3 que passaram a pressionar empresas listadas em seus organismos a primar por diversidade nas seus respectivos conselhos e cargos de comando. Fato esse que antes era apenas diretrizes de alguns órgãos governamentais e programas de governo, hoje esta pauta faz parte das discussões do mercado e não podem ficar de fora das diretrizes dos novos dirigentes sob o risco de perderem credibilidade.

    O governo federal não só por meio de discurso, mas também por medidas como nomeação de mulheres, negros e inclusive indígenas na sua gestão demostra sensibilidade e alinhamento com esta tendência, mas infelizmente não vemos isso em outras instâncias de governos como os estaduais. São Paulo, por exemplo, estado com maior percentual de pessoas negras do país cerca de mais de quatro milhões de pessoas se autodeclaram negras e negros, a presença negra no alto escalão do governo é praticamente inexistente, ausência essa que também se manifesta na maioria dos estados da União se contrapondo inclusive ao que o mercado e mundo corporativo vêm aos poucos se posicionando.

    Ainda é cedo para saber qual realmente será a cara e a cor do poder no Brasil nos próximos quatro anos, mas a julgar pela cara dos governantes, seus aliados, seus assessores mais diretos como secretários ainda teremos que trilhar um longo caminho até que a real cara preta do Brasil possa se fazer presente em todos os espaços deste país principalmente nos de poder.

    *Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil

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