‘Não sei onde o capita está com a cabeça’, afirma Marco Aurélio sobre Bolsonaro
'Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior', disse o ministro
A participação do presidente Jair Bolsonaro na manifestação deste domingo (19) que pediu intervenção militar indignou ministros do Supremo Tribunal Federal. À coluna, o ministro Marco Aurélio afirmou: “Não sei onde o capita está com a cabeça”, ao se referir a Bolsonaro como capitão.
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Durante o protesto, em cima de um carro, o presidente defendeu “acabar com essa patifaria”, sobre sua relação com o Congresso. Na plateia, faixas pediam um novo AI-5, o mais duro ato da ditadura militar, responsável por censura, tortura e fechamento do Congresso.
“Não sei em que ele está respaldado. Conheço os militares. Observam a disciplina, a hierarquia, e não apoiam maluquices”, disse o ministro ao recordar que frequentou a Escola Superior de Guerra, em 1983.
Marco Aurélio, que é vice decano da suprema corte, repetiu um bordão que lhe é característico: “Tempos estranhos!”. Para o ministro, não há espaço para o que ele chama de retrocesso. “Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior”, disse.
Apesar do enfrentamento entre poderes, o ministro afirmou que “as instituições estão funcionando”.
A manifestação de rua deste domingo ocorreu em Brasília dias após Bolsonaro acusar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de querer levar o país ao caos.
Pelas redes sociais, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral, citou uma frase do ativista político americano Martin Luther King, que ficou marcado pela defesa dos direitos civis: “Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons”.
Nas entrelinhas, ministros do STF expressam que haverá reação caso a defesa pelo retorno de militares vá além das manifestações de rua.
“É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever”, afirmou Barroso.
“Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso”, escreveu.
A publicação de Barroso foi compartilhada pelo colega Gilmar Mendes, também em seu perfil pessoal no Twitter.
Depois, Mendes publicou: “A crise do coronavírus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática”. A frase terminou com #DitaduraNuncaMais.