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    Queiroga muda versão sobre nomeação de Luana Araújo e defende Copa América

    Ministro da Saúde ressaltou também que medicamentos que fazem parte do "tratamento precoce" não têm eficácia comprovada

    Murillo Ferrari, Anna Satie e Renato Barcellos, da CNN, em São Paulo, e Gustavo Zucchi, da CNN, em Brasília

    Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, presta novo depoimento à CPI da Pandemia
    Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, presta novo depoimento à CPI da Pandemia
    Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

    A CPI da Pandemia ouviu, pela segunda vez, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O depoimento foi antecipado para esta terça-feira (8) pelos senadores após a oitiva da infectologista Luana Araújo e o Brasil decidir sediar a Copa América.

    Durante a oitiva, Queiroga mudou sua versão sobre a desistência na nomeação da médica Luana Araújo para compor a equipe do ministério. Primeiramente, o ministro havia dito que faltou “validação política” para a nomeação da infectologista. No depoimento de hoje, no entanto, Queiroga afirmou que não nomeou Luana porque ela não traria “a conciliação entre os médicos” do ministério. 

    Embora Queiroga tenha tenha dado essa explicação, o analista da CNN Caio Junqueira apurou que um levantamento feito pelo governo nas redes sociais da infectologista foi o motivo pelo qual seu nome foi vetado para o cargo na Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19.

    O ministro também foi bastante enfático ao responder um questionamento do relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), sobre a utilização de cloroquina e ivermectina para combater a Covid-19. “Senador, eu já respondi a Vossa Excelência, essas medicações não têm eficácia comprovada. Não têm eficácia comprovada”, exclamou Queiroga na ocasião.

    Além disso, o chefe da Saúde defendeu a realização da Copa América no Brasil, mas ressaltou que não compete à pasta tomar essa decisão.

    Ainda no depoimento, Marcelo Queiroga diz que não é “censor” de Bolsonaro e que não é o Ministério da Saúde que deve julgar o presidente por ele não usar máscara. Também segundo o ministro, toda a população brasileiro acima de 18 anos deve estar totalmente vacinada até dezembro deste ano.

    Após a sessão, o médico foi questionado pela reportagem da CNN se voltaria à CPI caso uma acareação fosse aprovada, mas ele evitou responder.

    “Estou à disposição do Brasil. Acareação nenhuma, eu vou trabalhar, é o que estou fazendo. O povo brasileiro já sabe. Vamos trabalhar para ajudar o Brasil, é isso que eu vou fazer, vacinar a população brasileira”, disse.

    A sessão estava prevista para começar às 9h, mas os trabalhos foram abertos pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) com 30 minutos de atraso. Antes de questionarem Queiroga, os senadores discutiram questões de ordem sobre o andamento da CPI.

    Resumo da CPI da Pandemia:

    Sessão é suspensa após discussão de Queiroga com senador Otto Alencar

    Pouco depois das 13h, a sessão da CPI da Pandemia foi suspensa por dez minutos após uma discussão entre Queiroga e o senador Otto Alencar (PSD-BA). 

    Os ânimos se exaltaram após Queiroga responder que não leu a bula de todas as vacinas contra Covid-19 em uso no país. 

    “Lamento o senhor não ter lido, porque eu li, de todas”, disse o senador, que também é médico. “O senhor é a autoridade sanitária desse país, determina como a vacina deve ser aplicada e quem deve tomar a vacina”.

    Alencar disse que ignorar a bula e não conhecer a posologia e os efeitos colaterais dos imunizantes seria o “ato mais irresponsável que um ministro da Saúde poderia fazer”.

    ‘Ainda não está caracterizada uma terceira onda’ de Covid-19

    Questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) se o ministro concorda com a avaliação de alguns especialistas de que o país está prestes a entrar em uma terceira onda de casos de Covid-19, o ministro da Saúde disse não partilhar dessa leitura.

    “Até pouco tempo os estados, municípios tinham uma restrição maior de movimento da população – estavam fechados – e houve uma abertura. Com essa abertura teve novos casos e isso faz com que haja mais óbitos. Outro ponto, é a estação climática que vivemos, com uma tendência de maior circulação do vírus”, respondeu Queiroga. 

    “Para mim, ainda não está caracterizada uma terceira onda, eu acho que estamos ainda na segunda onda com um platô elevado de casos e a minha esperança para conter isso é a vacina. É uma situação sempre de muito cuidado.”

    Ministério negocia compra de vacinas da CanSino e Sinopharm

    Questionado sobre novas negociações para a compra de vacinas contra Covid-19, Queiroga afirmou que há negociações em andamento para a compra de outras duas vacinas desenvolvidas na China: a da CanSino e da Sinopharm.

    “Buscamos adquirir mais doses. A Cansino já fez um pedido na Anvisa de registro [para uso] emergencial – ela tem essa característica de única dose, o que nos ajuda. Sendo possível, vamos ter a Cansino conosco”, disse o ministro.

    Sobre a Sinopharm, ele disse que é preciso verificar a questões de custo da vacina, que seria um pouco elevado em relação a outras vacinas já disponíveis.

    “E há possibilidade dessa vacina ser produzida a partir do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) enviado da China em território nacional. Se isso for possível, o Ministério vai apoiar.”

    Queiroga também mencionou um projeto de lei do senador Wellington Fagundes (PL-MT) para que parques de vacinação animal sejam utilizados para a produção de vacinas para humanos. 

    “Se do ponto de vista sanitário for possível, é uma excelente alternativa – esses parques podem produzir até 5 milhões de doses de vacina por dia. Teríamos tranquilidade do ponto de vista da vacina, até para ajudar países da América Latina.”

    ‘Butanvac é excelente alternativa’

    Ao ser questionado da demora na aquisição de mais 30 milhões de doses da Coronavac, o ministro disse que a pasta está priorizando a Butanvac, vacina de desenvolvimento nacional que está em fase de testes. 

    “A Butanvac é uma excelente alternativa”, disse. “Já que a Butanvac tem pesquisa pré-aprovada, acho que seria um direcionamento mais adequado apostar na Butanvac que na Coronavac”. 

    Queiroga justificou o posicionamento dizendo que a vacina produzida pelo Instituto Butantan não estaria disponível nos próximos meses e que já adquiriu “doses suficientes para o último quadrimestre” de 2021

    “Apesar de entendermos que a Coronavac é uma boa vacina, já surgem questionamentos acerca da efetividade. Não quero adentrar em um conhecimento mais definitivo porque falta evidência”, disse. “Por estratégia, o Ministério da Saúde pensa que investir na Butanvac seria a melhor opção”. 

    Queiroga disse também que o desenvolvimento da vacina pode ser apoiado pelo governo federal, desde que o Butantan faça uma solicitação formal.

    “Tecnicamente, desde que se submeta um projeto de pesquisa, será apoiado. Eles [Instituto Butantan] tem que solicitar”, diz o ministro. “No momento não estamos patrocinando, mas podemos apoiar.”

    ‘Desconheço atuação de gabinete paralelo’

    O ministro negou conhecer a atuação de um gabinete paralelo de orientação do combate à pandemia ao largo do Ministério da Saúde. 

    “Eu desconheço atuação em paralelo à minha gestão, nunca vi esse grupo atuando em paralelo de forma alguma”, negou. 

    O relator Renan Calheiros o questionou individualmente sobre cada um dos indivíduos que comporia esse grupo. Queiroga disse ter encontrado:

    • Nise Yamaguchi, que teria apresentado protocolos de hidroxicloroquina usados em Cuba;
    • o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro;
    • o empresário Carlos Wizard e
    • o deputado federal Osmar Terra, que teria tratado sobre inquéritos sorológicos e não mencionado medicações.

    O ministro disse não conhecer Luciano Dias, Arthur Weintraub ou Paolo Zanotto.

    Nomeação ao Ministério não é ‘carta branca’

    Queiroga foi questionado sobre a autonomia dele como gestor da pasta e respondeu que não se sentiu, até o momento, desautorizado.

    “Não há restrição nenhuma, exerço o cargo de ministro de acordo com a legislação. Se o presidente não estiver satisfeito com o meu trabalho, é muito simples, ele me exonera”, falou. “O presidente me deu autonomia para conduzir o Ministério da Saúde, mas isso não significa carta branca para fazer tudo o que quer, não existe isso, o regime é presidencialista”.

    O ministro disse que, caso se sinta “desprestigiado”, agradecerá pela oportunidade e voltará para o estado dele. 

    Governo quer testar até 20 milhões de pessoas por mês

    Sobre a estratégia de ampla testagem da população brasileira para detectar e rastrear as infecções pelo novo coronavírus – programa que começou a ser desenvolvido por Luana Araújo no período em que esteve no governo –, Queiroga afirmou que a saída da infectologista não afetou o programa.

    “Já foi pactuado no [Conselho Nacional de Secretários de Saúde] Conass e [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde] Conasems. Estamos em vias de adquirir 14 milhões de testes. Objetivo é testar até 20 milhões de brasileiros por mês”, afirmou o ministro.

    Queiroga afirmou que a estratégia já começou a ser implementada, com a distribuição de 3 milhões de testes para estados e municípios. E disse que na próxima semana devem chegar mais 5 milhões de testes rápido de antígenos.

    Ele disse ainda que cerca de 2 milhões de testes comprados pela pasta no ano passado foram vencidos, mas que eles serão repostos pela empresa produtora.

    “Esses testes vem da Coreia [do Sul]. Isso precisa de um trâmite internacional. São testes RT-PCR, não vai ter custo [para o governo]. O senhor toca em um ponto importante, porque distribuímos muitos testes, mas só fizemos uma parte. É necessário ter controle epidemiológico, tomar as condutas subsequentes: isolamento dos pacientes e contactantes.”

    Queiroga diz que não sabe porque o fabricante substituirá testes sem custo. “Esses testes, pelo que eu soube, foram adquiridos na gestão do ministro [Luiz Henrique] Mandetta. Pode ser que tenha havido testes com prazo de validade curto”, diz.

    Ministro diz que não considerou exonerar Mayra Pinheiro

    Perguntado sobre a continuidade da médica Mayra Pinheiro, Secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, apesar de sua defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, Queiroga afirmou que não considerou exonerá-la do cargo.

    “A doutora Mayra não trata, na minha gestão, de tema relacionado ao tratamento precoce da Covid-19. A doutora Mayra coordena o programa Médicos pelo Brasil, uma proposta do presidente da República”, disse o ministro.

    “No momento não considerei exonerar a secretária Mayra. Eu assumi o ministério em condição especialíssima, onde eu tinha que colocar a máquina em andamento. E a doutora Mayra vem fazendo trabalho na área dela. No dia que entender que ela não está conduzindo adequadamente eu posso desligar a doutora Maya sem nenhum problema.”

    ‘Luana não iria contribuir para harmonizar’, justifica ministro

    Ainda sobre a mudança em relação à nomeação da doutora Luana Araújo, o ministro da Saúde afirmou que não se tratou de “questão político-partidária”. 

    “É questão política da própria classe médica. Não era um nome que harmonizaria.  (…) “Não houve óbices formais da [Secretaria de Governo] Segov e da Casa Civil. Eu entendi que em face do perfil da doutora [Luana], não ia contribuir comigo para harmonizar as questões que são discutidas aqui acerca de tratamento inicial”, completou.

    “Eu falei para doutora que todos os nomes precisavam ser validados pela Casa Civil e Segov – inclusive o meu.”

    O presidente da CPI, Omar Aziz, fez uma intervenção depois da respota de Queiroga e afirmou que o ministro estava “tentando arrumar uma justificativa”. 

    “O senhor mesmo disse que é um regime presidencialista. Viram os vídeos e preferiram ficar com a doutora Mayra, que defende o tratamento precoce. Não dá para achar que todo mundo aqui é doido”, afirmou Aziz.

    Dispensa de Luana Araújo foi ‘ato discricionário’

    Sobre a não efetivação da infectologista Luana Araújo para o comando da Secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Queiroga afirmou que o episódio tratou-se de um ‘ato discricionário’ tomado por ele depois de mudar seu entendimento sobre a presença dela na pasta.

    “É um ato próprio da administração pública. Assim como o presidente pode me demitir quando ele quiser, basta só tomar essa decisão. É isso que acontece na administração pública.”

    “[A doutora Luana] era uma colaborada eventual do ministério e nesse processo eu identifiquei qualidades técnicas que podiam ser úteis ao nosso projeto. Daí a sua indicação para o cargo. O nome, como todos, são encaminhados para Casa Civil e não houve qualquer tipo de restrição”, explicou o ministro.

    “Só que nesse ínterim, o nome dela, começou a sofrer resistência em face dos temas tratados aqui, onde há uma divergência muito grande na alá médica. E eu entendi que, a despeito da qualificação, não seria importante a presença dela para contribuir para pacificação desse contexto”, continuou Queiroga.

    A afirmação do ministro, no entanto, contradiz o que a médica afirmou aos senadores na semana passada, quando ela disse que o próprio Queiroga havia lhe informado que seu nome não foi efetivado por falta de aprovação em instâncias superiores.

    Em outro momento, Queiroga afirmou que não nomeou a médica porque “mudou de decisão”. “Eu não falei que era [uma objeção] do Palácio [do Planalto]. Se a doutora entendeu dessa forma, é questão de entendimento dela”.

    Ainda sobre o comando da pasta, que o ministro disse tratar-se de uma estrutura importante para o enfrentamento da pandemia, Queiroga prometeu anunciar até sexta-feira (11) o nome de um novo secretário/a extradiordinário/a.

    “Não é fácil encontrar quadros que queiram assumir responsabilidade, sobretudo numa época desta. E vamos encontrar em prazo curto um titular para me ajudar (…)”, disse.

    “Até sexta-feira (11) devemos ter um nome (para chefiar a secretaria). Não há pressa, mas quando tivermos um nome, ele será colocado.”

    Queiroga diz que governo não está em silêncio sobre distanciamento e máscaras

    Após ser apresentado um vídeo em que o ministro defende o distanciamento social e o uso de máscaras, o relator da CPI afirmou que titular da pasta, bem como a comunicação oficial do governo, “continua em silêncio” sobre o tema.

    Queiroga diverge da interpretação de Renan Calheiros. “Reclamavam do Zé Gotinha. Hoje temos o Zé Gotinha e a família toda de Zé Gotinhas de máscara”, disse. “Só na nossa gestão, investimento de R$ 66,5 milhões com campanhas (…) Basta verificar em todos os prédios da esplanada dos ministérios, o uso de máscara, a família do Zé Gotinha de máscara. Todos os brasileiros sabem disso.”

    Ele foi questionado novamente se trata dado assunto com com o presidente.

    “Perfeitamente. O compromisso é individual, o benefício é de todos. Reitero aqui perante os senhores: o médico tem obrigação de meios, não de resultados. E o meu meio é a minha voz e usarei. Isso não quer dizer que vou conseguir, senador Renan. Quero conseguir.”

    Copa América não aumenta risco de contaminação por Covid-19

    Ainda sobre a questão da Copa América no Brasil, Queiroga disse que a competição não oferece risco adicional de contrair a Covid-19 e nem causará impacto no sistema público de saúde do país.

    “Todos os atletas têm seguro [de saúie]. Se houver sinistralidade, vão usar o sistema privado, bem como os membros da comissão técnica, então isso não vai acarretar pressão sobre o sistema [público] de saúde do Brasil”, disse o ministro.

    “Não acontecendo público nos estádios, não teremos aglomerações e riscos de contaminações maiores. De tal maneira que o risco que a pessoa tem de contrair a Covid-19 será o mesmo com o jogo ou sem o jogo. Não asseguro que não há risco, mas que não há risco adicional.”

    Perguntado se a porcentagem de população vacinada deveria ser considerada para a realização de eventos de grandes proporções no país, o ministro disse que não colocaria a Copa América nessa categoria.

    “Não é um evento de grandes proporções, é um evento com número pequeno de pessoas. Não é uma Olimpíada. Os protocolos apresentados ao Ministério da Saúde são seguros, que permitem dizer que se eles forem cumpridos não teremos riscos adicionais aos jogadores. Essa é a opinião do Ministério da Saúde neste momento.”

    Não é função da Saúde dar aval ou não para Copa América, diz ministro

    Depois de exibir um vídeo de Bolsonaro defendendo a realização da Copa América no país, o relator da CPI perguntou quais estudos teriam embasado o apoio do Ministério da Saúde à realização do evento no país.

    “A prática de esportes e de jogos é liberada no Brasil. O Campeonato Brasileiro aconteceu com mais de 100 partidas, em ambiente controlado, sem público nos estádios (…) Está acontecendo a Libertadores, as Eliminatórias da Copa do Mundo, a Sul-Americana. Não existem provas de que essa prática aumenta o nível de contaminação dos atletas”, disse o ministro.

    Ele afirmou que foi feita uma revisão sistemática da literatura e não não se constatou que a prática esportiva aumente o risco de circulação do vírus ou possa colocar em risco a vida dos jogadores ou dos membros da comissão técnica.

    “Minha função não foi dar aval ou não para a Copa América no Brasil – isso não é função do Ministério da Saúde. O que o presidente me pediu foi para avaliar os protocolos. E nós avaliamos os protocolos da [Confederação Brasileira de Futebol] CBF e da [Confederação Sul-Americana de Futebol] Conmebol”, explicou.

    “Não vejo, do ponto de vista epidemiológico, justificativa para fundamentar não ocorrência do evento. Mas a decisão de fazer ou não, não compete ao Ministério da Saúde.”

    Renan questiona Queiroga por Bolsonaro não usar máscara

    Renan iniciou seus questionamentos ao ministro da Saúde por volta das 10h20. O relator da CPI fez críticas a Queiroga e afirmou que o Ministro volta à CPI porque em seu primeiro depoimento omitiu informações.

    Na sequência, ele exibiu um vídeo em que o presidente Bolsonaro aparece em vários eventos públicos sem o uso de máscara e causando aglomerações. Ele perguntou, então, se Queiroga tratou desses pontos com o chefe do Executivo.

    “O presidente não conversou comigo sobre as atitudes dele. Sou ministro da Saúde, não um censor do presidente. Eu faço parte de um governo. O presidente da República não é julgado pelo ministro da Saúde”, disse Queiroga.

    O ministro disse que as recomendações sanitárias estão postas pelo governo e que cabe a todos dos cidadãos aderirem a essas recomendações. Ele disse ainda que, na maioria de seus encontros com Bolsonaro, o presidente usava máscara.

    “Vossa excelência sabe das peculiaridades da função que eu exerço. Não me compete julgar os atos do presidente”, continuou, dizendo que ele já orientou o presidente sobre o tema.

    “Mas isso é um ato individual. As imagens falam por si só. Estou aqui como ministro para ajudar meu país. Não vou fazer juízo de valor sobre a conduta do presidente da República.”

    População será vacinada até o fim de 2021

    Em sua fala inicial à CPI, Queiroga afirmou que depois de 60 dias à frente da pasta, pode apresentar resultados – ele disse que em seu primeiro depoimento apresentou mais projetos do que ações.

    “Reafirmo meu compromisso de trabalhar pela saúde pública do Brasil e que, neste momento, esse compromisso se materializa no enfrentamento eficaz da pandemia de Covid-19, que seja capaz de retirar o caráter pandêmico desta doença”, afirmou o ministro.

    “Acredito fortemente que o caráter pandêmico dessa doença só será cessado com uma eficiente campanha de vacinação. Por isso, todos os dias, trabalho para prover mais doses de vacinas, acelerar a nossa campanha, executada pelo sistema público de saúde”, continuou.

    “[Temos] mais de 600 milhões de doses de vacina pactuadas com o Ministério da Saúde, o que permite afirmar aos senhores, com um grau muito forte de segurança, que teremos nossa população vacinável, ou seja, acima de 18 anos, vacinada até o final do ano.”

    O ministro defendeu, ainda, ser preciso união nacional para garantir o fim da pandemia de Covid-19. “Precisamos fazer com que nosso país se reencontre para, juntos, superarmos essa crise sanitária de uma vez por todas. E, depois, voltarmos a divergir porque a divergência é parte da construção da democracia.”

    Mais tarde, o ministro da Saúde afirmou que até 75% da população brasileira será vacinada contra a Covid-19 até dezembro de 2021. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, ressaltou que para atingir a meta seria necessário vacinar 2,5 milhões de pessoas por dia. 

    Queiroga rebateu dizendo que o número é a capacidade do Plano Nacional de Imunização, mas que para alcançar o objetivo, “dependerá de doses disponíveis”. O médico, no entanto, informou que deve haver “alguma dificuldade” na produção de imunizantes entre julho e agosto, mas celebrou o acerto com a AstraZeneca sobre a chegada da IFA ao Brasil.

    Em relação à Coronavac, o ministro questionou a efetividade da vacina e usou isso como pretexto para justificar o motivo do governo não ter comprado 30 milhões de doses do imunizante. Queiroga, porém, amenizou dizendo que as dúvidas sobre o imunizante “não devem de confirmar”.

    Ministro garante que 200 milhões de vacinas da Pfizer chegarão ao Brasil até novembro de 2021, mas não detalha entregas

    Marcelo Queiroga disse aos senadores que o Brasil receberá 100 milhões de doses de imunizante da Pfizer chegarão ao Brasil até setembro, e mais 100 milhões até novembro, totalizando 200 milhões de vacinas. O ministro, no entanto, não detalhou o recebimento do produto.

    O chefe da pasta disse ainda que além dos imunizantes da Pfizer, o governo receberá 38 milhões de vacinas da Janssen, de dose única. 

    O senador Eduardo Braga (MDB-AM) questionou o ministro sobre as 30 milhões de doses da Coronavac oferecidas pelo Instituto Butantan ao governo e Queiroga respondeu que não estão mais disponíveis. 

    Queiroga confirma que super notificação de mortes no Brasil está atrelada à Covid-19

    Questionado pelo senador Marcos Rogério (DEM-RO) sobre um relatório do Tribunal de Contas de União que analisa as notificações de óbitos por Covid-19, Queiroga afirmou que a super notificação de mortes está relacionada à doença.

    Ainda segundo o ministro, a pasta está atenta aos número do Sistema de Informa??ões sobre Mortalidade para detectar possíveis alterações.

    Nesta segunda-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) relatou a apoiadores que o TCU havia preparado um relatório que questionava o número de mortos por Covid-19 no Brasil.

    O TCU, no entanto, emitiu nota negando a emissão deste relatório. “O TCU esclarece que não é autor do documento da possível subnotificação de óbitos”, diz o comunicado.

    Queiroga diz que pode trocar membros do Ministério da Saúde se “houver necessidade”

    Questionado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sobre nomes que atuam na pasta, mas não compactuam com políticas apresentadas por Queiroga à CPI, o ministro afirmou que está “ao lado de cientistas” e ressaltou que não há hoje na pasta decisões que contrariem as suas determinações.

    “Sempre que tiver necessidade de trocar equipe vou trocar”, disse Queiroga.

    Senadores falam sobre onda de violência no Amazonas

    O presidente da CPI falou da situação de combate ao tráfico no Amazonas, seu estado de origem, e reclamou da preferência por vacinar presos no sistema carcerário.

    “Eu faço esse apelo ao governo. O presidente [Jair Bolsonaro] ontem estava mal-informado e fez uma cobrança pública a mim e ao Eduardo Braga (MDB-AM). Eu fiz minha parte, mas não é momento de fazer cobrança nem de um, nem de outro. O que estamos vendo no Brasil, especialmente na Amazônia, é que não temos segurança nenhuma em nossas fronteiras”, disse Aziz.

    “Estamos no terceiro ministro da Justiça. Não há uma política. E não é só Manaus, é o Brasil todo. Temos esse tipo de problema em várias cidades. Não podemos permitir que facções, comandos, sejam donos de uma cidade e de um estado. Há uma inversão muito grande de valores”, reclamou. 

    O senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que se solidarizava com a situação do Amazonas e que fez contato com  o Ministério da Justiça para buscar soluções para a situação.

    “Diante dos fatos lamentáveis, registro aqui minha solidariedade ao povo do estado e dizer que fiz contato com o ministro da Justiça para que as Forças Nacionais atuem. E eu tive a resposta na manhã de hoje de que a Força Nacional já está sendo mobilizada para essa incursão.”

    Agenda de depoimento dos governadores:

    Questionado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre quando os governadores serão ouvidos pela CPI, Aziz detalhou a agenda de depoimento das chefes dos Executivos estaduais.

    Veja a previsão de depoimento dos governadores:

    Junho:
    • Dia 29: Helder Barbalho (Pará)
    • Dia 30: Wellington Dias (Piauí)
    Julho
    • Dia 1.º – Ibaneis Rocha (Distrito Federal)
    • Dia 2 – Mauro Carlesse (Tocantins)
    • Dia 6 – Carlos Moisés (Santa Catarina)
    • Dia 7 – Antonio Denarium (Roraima)
    • Dia 8 – Waldez Góes (Amapá)

    Aziz diz que requerimentos devem ser votados na quarta ou quinta-feira

    O presidente da CPI abriu a sessão nesta terça-feira informando que uma série de requerimentos previstos para serem votados hoje devem ser avaliados na quarta ou na quinta-feira, após discussão entre os membros da comissão.

    Tratam-se de requerimentos para quebra de sigilos telefônicos e telemáticos de depoentes e de possíveis investigados pela comissão.

    Entre os pedidos, estão os que envolvem o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ); os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores); o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten; o empresário Carlos Wizard; e o assessor da Presidência da República Filipe Martins.

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