Métodos de Moraes são próximos aos da Lava Jato, diz Nelson Jobim à CNN
Ex-ministro diz à CNN que o STF precisa "se conter"; Jobim também igualou levantamentos de sigilos no governo passado e no atual
O ex-ministro Nelson Jobim comparou as decisões tomadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em processos sob sua relatoria na Corte às ações adotadas durante as investigações da Operação Lava Jato, chefiada pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR).
A declaração foi dada ao CNN Entrevistas de sábado (10). Segundo Jobim, “os métodos são próximos dos métodos da Lava Jato”.
O ex-ministro também comparou as retiradas de sigilo do áudio de uma reunião entre o deputado e ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e do áudio de uma ligação entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o atual chefe do Executivo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – caso que ficou conhecido como o episódio do “Bessias”.
“Objetivamente, é a mesma coisa”, disse Jobim sobre o levantamento de sigilos no governo atual e na gestão passada.
Nelson Jobim foi presidente do STF, de 2004 a 2006, ministro da Defesa, de 2007 a 2011 e da Justiça, de 1995 a 1997. Atualmente, é sócio e integrante do conselho do banco BTG Pactual.
Leia abaixo o trecho das respostas de Jobim ao CNN Entrevistas:
Nelson Jobim: O presidente do Supremo tinha que liderar a contenção do Supremo, porque ele tem que se conter.
Clarissa Oliveira: O ministro Alexandre de Moraes, em especial, o senhor acha que está extrapolando suas funções?
Nelson Jobim: É difícil você fazer juízo de valor. Me dou com o Alexandre há muito tempo. O Alexandre, ele foi membro do Conselho Nacional De Justiça (CNJ) na primeira composição. Agora, olhando objetivamente isso, sem fazer juízo de valor no sentido de adjetivado, eu creio que os métodos são próximos dos métodos da [Operação] Lava Jato. Próximos.
Pedro Duran: O senhor se refere a quebras de sigilo, por exemplo, ao levantamento de sigilo de peças?
Nelson Jobim: Fica uma coisa complicada, fica fácil você induzir ou tirar uma ilação de que aquilo foi feito para responder a algo fora do Supremo.
Clarissa Oliveira: O senhor acredita que dá pra comparar, por exemplo, o levantamento do sigilo dos áudios dessa reunião em que aparece o ex-presidente Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem com a época em que Sérgio Moro levantou o sigilo da conversa entre Lula E Dilma?
Nelson Jobim: Objetivamente, é a mesma coisa, só que lá eram Dilma e Lula e aqui eram outros. Mas é a mesma coisa. Levantaram dentro de um momento que não deveria ser feito, para alimentar uma disputa, uma polarização que está dificultando o país.