Mensagens capturadas pela PF apontavam planos para marcha em 31 de março
Data é marcada pelo início da ditadura militar no Brasil, em 1964; mensagens do ex-major Ailton Barros falavam sobre a organização de atos em Brasília voltados a pressionar o Supremo Tribunal Federal



Mensagens de WhatsApp disponibilizadas pela Polícia Federal durante o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na tarde de terça-feira (16) apontam que o ex-major Ailton Barros consultou o então ajudante de ordens do presidente, Mauro Cid, sobre um contato identificado como “PR 01”.
Esse contato poderia ter, segundo a PF, informações sobre um movimento que estaria sendo articulado por um grupo militar de Goiânia para ocorrer no último dia 31 de março — data que marca o início da ditadura militar no Brasil.
A PF mostrou ao ex-presidente mensagens encaminhadas nos dias 4 e 5 de fevereiro deste ano por Ailton a Mauro Cid.
Essas mensagens mostram que uma entidade chamada Abrapa planejava se deslocar até Brasília para protestar contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – nenhuma manifestação do tipo ocorreu em 31 de março.
Leia a seguir trechos das mensagens:
AILTON: “Cid, boa noite! Cid, só pra, só pra eu confirmar, só… Me posicionar em algumas coisas. Cid, esses movimentos desses grupos, negócio de 31 de março não sei o quê….”
AILTON: “Cid, bom dia! Cid, depois que você entender que é o caso. É primeira oportunidade, comenta com o PR que esses grupos aí de esses grupos forte, aí esses que organizaram é o Sete de Setembro, né? Pessoal do Abrapa e companhia limitada. Que eles estavam que eles estão me sondando aí tentando pegar alguma coisa comigo. Se o presidente é favorável, se não é favorável, eu estou dando recibo de nada, hein? Só dou se me der na direção (…) Eles estão querendo acampar em Brasília. O grupo dele está dividido (…) Mas o que eles estão querendo fazer é ir para Brasília em trinta e um de março, acampar aí até os onze ministros meterem o pé. É essa a ideia deles. Acampar até os onze ministros manter meteu o pé. É isso”.
AILTON: “Cid, bom dia! Cid, na primeira oportunidade que tiver com o PR, tu comenta com ele que esses grupos Abrapas da vida, né? Acho que o mais forte é o Abrapa de Goiânia, de Goiânia (…) Se que que, por que que o presidente, se o presidente era, era favorável ao pessoal fazer um movimento 31 de março, uma marcha para Brasília, uma vez que tem uma parte do grupo que quer e outra parte do grupo que não quer”.
Bolsonaro respondeu à PF que tanto essas mensagens quanto a pauta delas não chegaram ao seu conhecimento.
Em outro momento do depoimento, a PF apresenta mensagens de Ailton a um celular cujo contato é “PR 01”. Nelas, Ailton volta a falar sobre esse movimento de 31 de março.
AILTON: “Outra coisa PR! As lideranças destes grupos Abrapas e outros, ou seja, os grupos que organizaram o 7 de setembro. Ficam tentando me sondar qual a postura do PR em relação ao movimento que eles querem fazer para o 31 de março (não querem fazer nada que possa prejudicar o PR). Não dei recibo, mas, disse a eles que o PR não se mete ou opina nessas questões e que respeita a vontade popular. E que o Presidente, como vocês já sabem, normalmente quando existe uma manifestação popular sadia ele normalmente cumprimenta o povo como tem feito. AÍ eu perguntei quais seriam as pautas de vocês? A primeira pauta: “vamos acampar em Brasília até os 11 ministros do STF saírem de suas cadeiras! Essa é a primeira kkk…dei uma desculpa e encerrei a ligação (…) Dá pra operar nestes Gp(s) para as pautas deles serem do meu interesse”.
Outro print de mensagem de Ailton Barros ao contato “PR 01″ diz:
AILTON: “Bom dia! PR quer que eu ligue ou já safou?”
AILTON: “Apaguei pq já peguei orientação com o Cidinho”.
Questionado pela PF, Bolsonaro disse que não chegou ao conhecimento dele essas pautas e que tinha conversas eventuais com Ailton por mensagem ou via Mauro Cid.
De acordo com a íntegra do depoimento, obtido ontem pela CNN, o ex-presidente Bolsonaro afirmou que nunca repassou qualquer orientação sobre as pautas a Ailton Barros ou qualquer grupo.
Indagado pela PF se mantinha contado direto com Ailton Barros, Bolsonaro afirmou que mantinha contato com o ex-major em conversas esporádicas em aplicativos de mensagens, porém não havia relacionamento pessoal.
A CNN apurou que a Abrapa citada nas mensagens trata-se da Associação dos Brasileiros Patriotas. Procurada, a associação não respondeu o contato.
Procurada pela CNN, a defesa de Mauro Cid afirmou que, “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, todas as manifestações defensivas serão feitas nos autos do processo”. Já a defesa de Ailton Barros não foi localizada pela reportagem.