Cid não apresentou provas do que falou, diz à CNN subprocurador sobre delação de ex-ajudante de Bolsonaro
Carlos Frederico Santos afirma que falas de Mauro Cid não sustentam que houve um "pretenso mentor" do 8 de janeiro
Até o momento, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), não apresentou provas do que falou em sua delação à Polícia Federal (PF), disse à CNN o subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos.
“Não foram apresentadas provas. Nós estamos tentando buscar essas provas. A confirmação do que ele falou”, comentou na entrevista nesta quarta-feira (8).
Então, nós da Procuradoria-Geral da República pedimos uma série de exigências que podem vir a corroborar o que está na delação. Mas dizer que nós temos uma delação forte, que ela sustenta uma denúncia, hoje, isso não existe. Amanhã poderá existir
Carlos Frederico Santos
Para o subprocurador, “o que está dito nessa delação não sustenta” a expectativa de que “haverá uma denúncia de um pretenso mentor a respeito do que ocorreu no dia 8 [de janeiro]”.
Ainda de acordo com Santos, são precisos outros elementos para comprovação do que foi dito por Cid.
Delação é uma coisa séria. Nós temos que ser profissionais. E também temos que avaliar o benefício a ser dado em troca dessa delação. De repente, transformar Mauro Cid em herói, e dizer que ele está contando isso tudo, eu não sei. Só vou saber quando exatamente houver essa confirmação, a ratificação do que foi dito por ele
Carlos Frederico Santos
O que disse Mauro Cid até o momento?
Mauro Cid implicou diretamente Jair Bolsonaro em pelo menos três momentos da delação que fechou com a Polícia Federal: no caso das joias sauditas trazidas ilegalmente para o Brasil; no suposto plano de golpe de Estado; e também na fraude em cartões de vacina contra Covid-19.
A Polícia Federal ouviu Cid durante três dias. São 24 horas de depoimentos registrados em vídeo. Na maior parte das declarações, o militar reforça que apenas cumpria ordens, segundo apurou a CNN.
Joias sauditas
Sobre as joias sauditas, Mauro Cid teria dito que cumpriu ordens “para resolver” e confessou que vendeu o Rolex por 35 mil dólares e repassou parte do dinheiro, em mãos, para Bolsonaro. A informação foi confirmada pelo advogado Cézar Bitencourt ainda em agosto.
Plano de golpe
No fim de setembro, outra parte da colaboração veio a público: o trecho em que Cid detalha uma reunião do então presidente com os comandantes das Forças Armadas para discutir um plano de golpe.
Nesse encontro, segundo Cid, Bolsonaro teria apresentado uma minuta para se manter na Presidência da República.
Cartões de vacina
Em maio, Cid foi preso como responsável pelo esquema que viabilizou a inserção de dados falsos em cartões de vacinação contra Covid-19. Na ocasião, Bolsonaro chegou a ser alvo de busca e apreensão.
Na delação à PF, Cid afirmou que os documentos fraudados foram impressos e entregues em mãos ao ex-presidente para que ele usasse quando “achasse conveniente” ou “se precisasse”.
Aos investigadores, o ex-ajudante de ordens teria dito que os dados falsos de Bolsonaro e da filha do político, de 12 anos, foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da prefeitura de Duque de Caxias (RJ), no dia 21 de dezembro de 2022, nove dias antes do ex-presidente viajar para os Estados Unidos.
Outro lado
A defesa de Jair Bolsonaro nega as acusações contra o ex-presidente. Aliados de Bolsonaro afirmaram que a confiança em Mauro Cid não muda mesmo após a revelação de novos detalhes da delação do militar.
A estratégia segue sendo evitar confronto com as versões do ex-ajudante de ordens e tratar as notícias como “suposições”.
Ainda de acordo com interlocutores, Bolsonaro não tinha tempo de tratar de assuntos operacionais e de execução de tarefas. O argumento é que assessores como Cid tinham suas responsabilidades e tomavam suas iniciativas.