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    Mandetta permanece no Ministério da Saúde: ‘Vamos continuar’

    O ministro reclamou de críticas que "não vêm no sentido de construir"; presidente recebeu alertas de que demissão seria mal recebida pelos outros podres

    Caio Junqueira, Daniela Lima e Renata Agostini, , Da CNN, em Brasília e São Paulo

    Após uma segunda-feira (6) de idas e vindas nos bastidores, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), permaneceu no cargo depois de uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). 

    “Nós vamos continuar, porque vamos continuar enfrentando o nosso inimigo, que é o COVID-19”, afirmou Mandetta em entrevista coletiva nesta noite em Brasília, quando repetiu que “médico não abandona paciente”. 

    Nos últimos dias, Bolsonaro mostrou grande descontentamento com Mandetta devido aos rumos tomados no combate à pandemia. O presidente defende o isolamento apenas das pessoas que integram grupo de risco para a COVID-19, enquanto o Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial da Saúde) pregam o isolamento social. Bolsonaro chegou a declarar que faltava “humildade” ao ministro e, sem citar nomes, afirmou que usaria sua caneta contra ministros que “estão se achando”

    Hoje, Mandetta manteve sua defesa das restrições de circulação. “A sociedade precisa entender que a movimentação social é tudo que o vírus quer”, afirmou. 

    ‘Limparam minhas gavetas’

    O ministro reclamou abertamente do clima que tem encontrado no comando do ministério. Segundo ele, a pasta tem recebido críticas que “não vêm no sentido de construir, mas para trazer dificuldade no ambiente de trabalho”. Mandetta disse esperar ter “paz” para realizar seu trabalho depois de mais um dia de “solavancos”.

    “Hoje foi um dia que rendeu muito pouco trabalho no ministério”, disse. “Teve gente aqui dentro limpando gaveta, até as minhas gavetas vocês ajudaram a fazer a limpeza.”

    Antes do encontro com os outros ministros, Bolsonaro se reuniu a sós com Mandetta e garantiu a permanência do ministro da Saúde no cargo. A CNN apurou que a conversa teve um tom grave, mas não foi um bate-boca. Mandetta falou que estava desconfortável, mas estava no governo para ajudar. Por parte de Bolsonaro, houve uma cobrança para que as restrições de circulação tenham uma solução no curto prazo; e para que a hidroxicloroquina seja mais usada no tratamento contra a COVID-19.

    Ainda não há estudos científicos suficientes para comprovar a eficácia da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus, mas Bolsonaro tem defendido publicamente o uso do medicamento.

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    Ao longo do dia, o Planalto chegou a avaliar a substituição de Mandetta pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, defensor do alívio das quarentenas impostas por governadores; ou pela médica Nise Yamaguchi, defensora do uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes de COVID-19. Nise foi convidada por Bolsonaro a integrar o gabinete de crise de combate ao novo coronavírus.

    À tarde, fontes do Ministério da Saúde chegaram a dizer que Mandetta iria deixar o cargo e seria substituído por Terra — que inclusive já estaria ligando para governadores para tratar de novas determinações sobre quarentenas. 

    No entanto, o presidente recebeu alertas de que a eventual saída de Mandetta seria mal recebida no Congresso Nacional e no STF (Supremo Tribunal Federal). No Executivo, três ministros da ala militar – os generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Fernando Azevedo (Defesa) — encabeçaram a ofensiva para dissuadir Bolsonaro da demissão. 

    No começo da noite, ministros ouvidos pela CNN e que deram informações sob condição de anonimato já asseguravam a permanência de Mandetta. Um deles disse que a reunião foi “melhor do que o esperado”. 

    Conflito 

    A situação de Mandetta ficou delicada após semanas de desentendimentos com o presidente sobre a linha a ser adotada no combate ao novo coronavírus. O ministro sempre defendeu a necessidade do isolamento social como forma de contenção do contágio, o que também é defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).  

    O presidente, por outro lado, critica a medida, afirmando que ela prejudica a economia e que só integrantes dos grupos de risco para a COVID-19 devem ficar isolados – o chamado “isolamento vertical”, que tem respaldo escasso na comunidade científica.  

    Em aparições quase diárias nas entrevistas coletivas do Ministério da Saúde, Mandetta nunca criticou diretamente Bolsonaro, mas manteve a defesa do isolamento social e recomendava à população que seguissem as orientações dos governadores – quase todos deles partidários de quarentenas e interrupção das atividades não essenciais.  

    Como pano de fundo do embate, recentes pesquisas do Datafolha mostraram apoio da maioria da população ao isolamento social e uma aprovação a Mandetta maior que o dobro da do presidente.   

    Toda a crise ocorre no momento em que o Brasil tem 12.056 casos confirmados de COVID-19 e 553 mortes pela doença, segundo números de hoje, e quando o país se encaminha para a fase mais crítica da pandemia – no dia 17 de março, o próprio Mandetta disse que o Brasil viveria entre “60 e 90 dias de muito estresse” por causa do avanço da doença.   

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