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    Mandetta cometeu ‘falta grave’ com entrevista, diz Mourão

    No domingo, o ministro da Saúde afirmou que a falta de um direcionamento comum entre ministério e governo deixa o brasileiro confuso

    O vice-presidente da República, Hamilton Mourão
    O vice-presidente da República, Hamilton Mourão Foto: Romério Cunha - 10.jan.2020/ VPR

    Jéssica Otoboni e Rudá Moreira, da CNN, em São Paulo e em Brasília

    O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta terça-feira (14) que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), cometeu “falta grave” e “não precisava ter dito certas coisas” na entrevista que deu à TV Globo no domingo (12). Na ocasião, o ministro afirmou que a falta de um direcionamento comum entre ministério e governo sobre o combate à pandemia do novo coronavírus deixa o brasileiro confuso. O vice deu as declarações em entrevista por videoconferência ao jornal O Estado de S.Paulo.

    Apesar da crítica a Mandetta e de dizer que a decisão sobre a permanência do ministro é uma decisão que cabe ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Mourão opinou que o mandatário “não deve trocar o ministro neste momento”, pois não seria favorável. Segundo o vice-presidente, o melhor a fazer seria avaliar a situação, o trabalho de Mandetta e chamar para conversar, “discutir internamente e não pela imprensa”.

    Mourão não admitiu que houve uma conversa sobre a saída do ministro durante a reunião ministerial da semana passada. “O presidente abriu a reunião colocando as preocupações dele em todos os ministérios […]. Mandetta apresentou as ponderações dele, mas tudo dentro de um nível de serenidade e de lealdade”, explicou. “Não houve entrevero.”

    O vice defendeu Bolsonaro e destacou a preocupação do mandatário com a população desassistida, que segundo Mourão será a mais prejudicada pela pandemia.

    “Temos que buscar dados concretos para transmitir à população a real situação a ser enfrentada”, disse Mourão. “Julgo que nossa curva [de contágio do coronavírus] tem sido controlada, principalmente quando comparada com outros países do mundo.”

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    Ainda com relação à crise política, o vice-presidente disse que o “vírus está sendo politizado” no Brasil e “até em outros países”. “Aqui, é fruto da polarização que existe desde a campanha eleitoral de 2018”, afirmou. 

    Mourão evitou comentar a relação conturbada entre o presidente e governadores sobre as medidas para conter a disseminação da COVID-19. O vice se limitou a dizer que não critica “governador A ou B”.

    Questionado sobre o fato de Mandetta ter perdido o apoio da ala militar do governo, Mourão ressaltou que “o trabalho técnico realizado está sendo considerado muito bom” e negou a existência deste segmento dentro do governo.

    “Eu sou extremamente crítico a essa figura da ala militar. Não vejo que essa ala militar exista. O que existe são ministros que são militares”, disse.

    Isolamento ‘zona sul’

    Mourão também foi perguntado se as atitudes de Bolsonaro com relação à COVID-19 estimulam o radicalismo, e respondeu que seria “deslealdade” fazer críticas públicas ao presidente. De acordo com o vice, é preciso “olhar mais para as ações e não para as palavras” do mandatário. 

    Mourão atribuiu as manifestações registradas em algumas cidades contra as medidas restritivas ao grupo que chamou de “isolamento zona sul”, pessoas que segundo o vice-presidente “não têm salário afetado e pedem comida delivery”. “A gente não vê, por exemplo, manifestações nas favelas”, disse.

    Falando do pós-pandemia, Mourão afirmou que o governo terá dois anos para reconstruir o país e buscará aprovar a reforma administrativa e tributária. “Tudo que gastarmos agora terá que ser pago no futuro. Esse gasto é transitório e não pode ser estendido”, disse.

    Cloroquina

    Mourão também falou sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, e lembrou que tomou doses diárias do medicamento por causa da malária quando passou uma temporada em Angola. Para ele, se o remédio consegue salvar algumas vidas, o uso é válido. Ainda não há comprovação científica suficiente do efeito positivo da cloroquina em casos de COVID-19.

    Segundo Mourão, é necessário buscar um equilíbrio no enfrentamento à pandemia. Para o vice-presidente, neste momento, há “três curvas perigosas”: a da doença em si, a do PIB (Produto Interno Bruto) e a do emprego. “Hoje será apresentado o planejamento para retomar a atividade econômica mais forte assim que passarmos o pico da doença”, afirmou.

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    Com relação aos efeitos do surto da doença na economia e, principalmente, no pagamento de funcionários públicos, Mourão disse que a discussão para um congelamento de salários existe há algum tempo, mas a Câmara dos Deputados optou por não incluir a medida no Plano Mansueto. “Se não tiver dinheiro, como vai pagar os salários? Seria melhor ter um recuo agora para depois voltar à normalidade.”

    Para Mourão, usar o fundo eleitoral e partidário resolve apenas parte da crise econômica. “Essa questão está politizada. Acredito que os fundos devem ser deixados lá quietos”, disse.