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    Lula supera governos Bolsonaro e Temer em uso de helicóptero para se deslocar em Brasília

    Em cinco meses, presidente utilizou 24 vezes a aeronave oficial para descolamento entre o Palácio da Alvorada e a Base Aérea de Brasília, segundo dados obtidos pela CNN por meio da Lei de Acesso à Informação

    Teo CuryGustavo Uribeda CNN , em Brasília

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou os ex-chefes do Executivo Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB) na utilização de helicópteros da Presidência da República para se deslocar dentro do Distrito Federal, nos cinco primeiros meses à frente do Palácio do Planalto, comparado a todo o período em que seus antecessores estiveram no comando do país.

    Segundo dados obtidos pela CNN por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), o petista utilizou a aeronave 24 vezes no período. Em todas elas, para fazer o trajeto entre o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e a Base Aérea de Brasília, de onde partiu para viagens nacionais e internacionais.

    O Palácio da Alvorada está localizado a uma distância terrestre de cerca de 21 quilômetros da Base Aérea do Aeroporto Internacional de Brasília. O tempo de deslocamento de um carro comum, levando em conta o tráfego diário, é de, aproximadamente, 20 minutos.

    O comboio presidencial, que acompanha o veículo do presidente, no entanto, faz o trajeto em menos tempo, já que agentes da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar costumam liberar o trajeto.

    Segundo um militar experiente, consultado pela CNN e que já realizou o trajeto, cada trecho do deslocamento em helicóptero pode ser feito em até cinco minutos.

    A utilização do helicóptero para o deslocamento entre o Palácio da Alvorada e a Base Aérea, de acordo com fontes da Presidência da República, é uma escolha do presidente, apesar de o mandatário receber informes e recomendações da equipe de inteligência.

    No caso de Lula, sua equipe de segurança deixa sempre à disposição do presidente um comboio de carros pronto para o trajeto. O petista, no entanto, tem dispensado os veículos e optado pelo helicóptero.

    A Presidência e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foram procurados, mas não se manifestaram. A reportagem questionou o motivo de o presidente preferir realizar o deslocamento por meio de transporte aéreo e não terrestre.

    Também indagou se a utilização dos helicópteros não representa gasto desnecessário, levando em consideração que a economia de tempo é de apenas cerca de 15 minutos caso fosse utilizado o comboio de carros.

    Antecessores

    Até o dia 12 de maio, Lula usou o helicóptero presidencial para deslocamentos em Brasília mais do que Bolsonaro e Temer durante todo o período em que estiveram à frente do Palácio do Planalto.

    Temer solicitou o helicóptero para se deslocar do Palácio do Jaburu, onde residia quando presidente, até a Base Aérea de Brasília dez vezes, no período de maio de 2016 até dezembro de 2018.

    Bolsonaro usou o helicóptero da Presidência da República para se deslocar em Brasília por 11 vezes de 2019 a 2022, segundo registros oficiais da Presidência da República. Ambos preferiam o comboio terrestre para o transporte até a Base Aérea de Brasília.

    Mas, diferentemente de Lula, que utiliza a aeronave para fazer o trajeto entre a residência oficial e a Base Aérea, Bolsonaro com frequência solicitava helicópteros da Presidência para sobrevoar manifestações favoráveis a seu governo na Esplanada dos Ministérios.

    No segundo mandato, que durou de 2015 a maio de 2016, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) utilizou o helicóptero para trajetos dentro da capital federal em 141 oportunidades. Assim como Lula, ela costumava lançar mão da aeronave para fazer o deslocamento entre o Palácio da Alvorada e a Base Aérea de Brasília.

    Dilma chegou a utilizar helicóptero do Palácio da Alvorada para a Granja do Torto, espécie de casa de campo da Presidência, distantes cerca de 18 quilômetros — aproximadamente 20 minutos em um carro comum.

    Na comparação entre os mesmos períodos, enquanto Lula adotou helicóptero como meio de transporte para realizar deslocamentos dentro de Brasília em 24 oportunidades nos primeiros cinco meses de governo, Bolsonaro e Temer não o utilizaram nenhuma vez e optaram por fazer o deslocamento de carro. Dilma usou em 18 ocasiões no mesmo período de seu segundo mandato.

    Custos

    Questionado pela CNN, o governo federal não informou os custos das viagens feitas com helicópteros da Presidência da República. Eles estão em sigilo, já que, segundo a Presidência da República, trata-se de um tema de acesso restrito para os planos e operações estratégicos das Forças Armadas.

    O presidente tem à disposição dois modelos de helicóptero para transporte. Eles integram o Terceiro Esquadrão do Grupo de Transporte Especial, localizado em Brasília. As aeronaves EC-135, designada VH-35, tem capacidade para até quatro passageiros, e a EC-725, designada VH-36 Caracal, comporta até dez passageiros.

    A VH-35 é uma aeronave alemã. Possui 12,16 metros de comprimento, 3,51 metros de altura e atinge velocidade máxima de 259 quilômetros por hora. Já a VH-36 Caracal é uma aeronave francesa. Tem 16,79 metros de comprimento, 4,97 metros de altura e alcança velocidade 324 quilômetros por hora.

    Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, as aeronaves utilizadas por Lula consomem cerca de 250 litros e 720 litros de combustível por hora, respectivamente.

    O trajeto entre o Palácio da Alvorada e a Base Aérea custaria em torno de R$ 125, na aeronave menor, e R$ 361, na maior, levando em conta apenas o gasto médio com querosene de aviação disponível no mercado.

    As duas aeronaves permanecem na Base Aérea de Brasília aguardando orientações da Presidência. Quando há a convocação para transportar o presidente, o helicóptero deixa a Base Aérea rumo ao Alvorada e, da residência oficial, retorna à Base para que Lula possa embarcar rumo a seu destino.

    Assim que o presidente chega de viagem, a aeronave o leva para o palácio e volta para a Base. Como a aeronave que transporta Lula sempre tem de voltar para o hangar depois de cumprir a missão, o custo médio para transportar o presidente fica em torno de R$ 250 e R$ 722, dependendo do helicóptero utilizado.

    Das 24 viagens realizadas por Lula, 23 foram feitas na aeronave de menor porte e apenas uma na de maior capacidade. O valor gasto com essas viagens é estimado em torno de R$ 6,4 mil. Caso os deslocamentos tivessem sido realizados no comboio de automóveis da Presidência, o governo teria gastado cerca de R$ 3 mil.

    Falta de informação

    A solicitação feita pela CNN à Presidência da República envolvia todos os voos realizados pelos presidentes em helicóptero oficial entre 2003 e 2023, bem como o detalhamento de custos, origens e destinos.

    Na resposta, o governo federal forneceu dados apenas a partir de fevereiro de 2014 e informou que as viagens presidenciais anteriores não constavam no Sistema de Gestão do Transporte Aéreo e que teriam de ser levantadas manualmente.

    O GSI classificou o pedido feito pela reportagem da CNN como “desproporcional” e explicou que demandaria “considerável prazo para o seu atendimento, com desvio de servidores de suas tarefas diárias”.

    “O GSI não divulga informações que possam colocar em risco a segurança do Presidente da República”, justificou.

    Manifestações pró-governo

    O governo federal, ao responder à reportagem, ainda deixou de informar ao menos um deslocamento feito por Lula neste ano e dois feitos por Bolsonaro em 2020 e 2021, de acordo com dados da agenda oficial da Presidência da República e reportagens publicadas à época.

    O atual presidente usou helicóptero no dia 11 de abril para ir do Palácio da Alvorada até a Base Aérea para viajar para Lisboa, em Portugal. Já Bolsonaro solicitou helicóptero presidencial para sobrevoar duas manifestações favoráveis a seu governo, em 31 de maio de 2020 e em 15 de maio de 2021.

    Em uma das ocasiões, Bolsonaro sobrevoou uma manifestação realizada em 1º de maio de 2020. O então presidente deixou o Palácio da Alvorada às 11h em direção à Esplanada dos Ministérios.

    No ato, manifestantes bolsonaristas criticaram o Supremo Tribunal Federal (STF), pediram intervenção militar, a volta do voto impresso e o fim das restrições sanitárias adotadas contra a Covid-19.

    Bolsonaro também solicitou à Força Aérea Brasileira (FAB) um helicóptero para acompanhar uma manifestação convocada por seus apoiadores às vésperas da cerimônia de 7 de setembro de 2021.

    A manifestação foi marcada por pautas antidemocráticas, como pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do STF.

    Um outro exemplo de uso para fins pessoais da aeronave presidencial no governo passado aconteceu em 2019. Em maio daquele ano, um helicóptero foi usado no Rio de Janeiro para transportar convidados para o casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do então presidente, com a psicóloga gaúcha Heloísa Wolf.

    À época, o governo alegou “razões de segurança” para autorizar o voo. Dias depois, Bolsonaro defendeu a carona e disse não ver nada de errado em ter usado a aeronave da Presidência para transportar convidados para o casamento de seu filho: “Eu vou negar o helicóptero a ir para lá e mandar ir de carro?”, questionou.

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