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    Lula muda política externa do Brasil já na primeira semana de governo

    Itamaraty começa a implementar o que o chanceler Mauro Vieira chamou de diplomacia universalista em seu discurso de posse

    Américo Martinsda CNN , em Londres

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, começaram a mudar radicalmente a política externa brasileira já na primeira semana do governo petista.

    O primeiro dia de trabalho do presidente já foi simbólico: ele deu expediente no Itamaraty na segunda-feira (2), onde recebeu 11 chefes de Estado e ministros de outros países que foram a Brasília para prestigiar a sua posse. Entre eles, o rei da Espanha e os presidentes de Portugal, Argentina, Chile e Colômbia.

    Muito mais importante do que isso, o Itamaraty já tomou decisões práticas que revertem um certo grau de isolamento que cercou o Brasil durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

    Diplomacia presidencial

    Em primeiro lugar, o Ministério das Relações Exteriores já anunciou as primeiras viagens de Lula a cinco países que são importantes parceiros do Brasil. Essas viagens, logo nos primeiros meses de mandato, marcam a volta da chamada diplomacia presidencial –ou seja, o envolvimento direto do novo presidente nas questões mais importantes da política externa do país.

    A primeira visita de Lula será à Argentina, no dia 23 de janeiro, parando na volta no Uruguai. Isso já indica uma valorização das relações com os países da América Latina, que passarão a ser uma prioridade do governo, ao contrário do que aconteceu durante os quatro anos de mandato de Bolsonaro.

    Logo depois, o novo presidente irá aos Estados Unidos, Portugal e China –em datas ainda a serem confirmadas.

    Volta à Comunidade dos Estados Latino Americanos

    A segunda medida importante tomada pelo Itamaraty foi a oficialização da volta do Brasil à Celac, a Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos. A entidade foi criada em 2010 para aumentar a integração e cooperação entre os países da região.

    O Brasil foi uma das maiores forças impulsionando a criação do novo grupo, mas o país abandonou a organização oficialmente durante a gestão Bolsonaro. Esse movimento gerou críticas de que o Brasil estaria virando as costas à sua própria região –algo negado pelos bolsonaristas.

    Com a volta à entidade, o Brasil vai procurar ter protagonismo nas políticas de integração regionais.

    O terceiro movimento “universalista” aconteceu na sexta-feira (6), quando o Brasil avisou à ONU (Organização das Nações Unidas) que voltaria também ao Pacto Global para Migração Segura. Trata-se de um programa que estabelece parâmetros para a gestão de fluxos migratórios.

    O Brasil deixou de participar de iniciativas sobre a implementação do documento em 2019, logo no início do governo Bolsonaro, na gestão do chanceler Ernesto Araújo, um crítico do que a direita chama de “globalismo”.

    Segundo a nova gestão do Itamaraty, o retorno do Brasil ao Pacto reforça o compromisso do governo “com a proteção e a promoção dos direitos dos mais de 4 milhões de brasileiros que vivem no exterior”.

    Mudança no Conselho de Segurança da ONU

    Por fim, o Brasil também mudou a sua atuação no Conselho de Segurança da ONU, onde o país ocupa uma cadeira rotativa de dois anos.

    Numa reunião na quinta-feira (5), o conselho discutiu a controversa visita do novo Ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, à mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém –um dos lugares mais sagrados do mundo para os muçulmanos.

    A visita foi considerada provocativa pelos palestinos e outros governos do mundo árabe.

    Durante as discussões no conselho de segurança, o Brasil voltou a adotar uma posição mais neutra e independente com relação ao conflito entre israelenses e palestinos, depois de o Itamaraty ter votado a favor de Israel em algumas resoluções durante o governo Bolsonaro –que via Israel como um de seus principais aliados.

    Sob novo comando, o Itamaraty disse na reunião do Conselho de Segurança que a visita foi um gesto profundamente preocupante” e que pode “ampliar a violência” na região.

    Isso mostrou a volta da tradicional política de maior neutralidade adotada por décadas pela diplomacia brasileira em relação a um dos conflitos mais espinhosos do mundo.

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