Lava Jato debateu cláusula anti-Bolsonaro em ranking de candidatos em 2018
Deltan Dallagnol questionou Bruno Brandão, diretor da Transparência Internacional, sobre quando seria lançado um ranking sobre candidatos ficha limpa
Diálogos hackeados da força-tarefa da Operação Lava Jato mostram que o procurador Deltan Dallagnol debateu com o chefe da Transparência Internacional uma “cláusula anti-Bolsonaro” em um ranking de candidatos.
O diálogo ocorreu no dia 24 de junho de 2018 no chat “A Vingança”. Nele, Deltan questiona Bruno Brandão, diretor da Transparência Internacional, sobre quando seria lançado um ranking sobre candidatos ficha limpa nas eleições daquele ano.
O professor da FGV Michael Mohallem também participa da conversa. A sugestão que aparece no grupo é para que, além do ranking pontuar candidatos com problemas na Justiça, também apareçam dados dos candidatos sobre compromissos com a democracia. Essa cláusula é batizada de “anti-Bolsonaro”.
A conversa começa logo cedo. Às 7h55, Mohallem os questiona: “Qual seria essa cláusula democrática mesmo?”. Brandão responde: “Aquela ideia de ter algum dispositivo anti-bolsonaro. Pra que o filtro do passado limpo não sirva de plataforma pra esses maníacos com ficha limpa, mas discurso de ódio”.
Mohallem rebate: “Talvez seja boa ideia abandonar esses dois filtros mais subjetivos. Deixaríamos apenas os mensuráveis. Como os processos, condenações e investigações. Já seria um enorme serviço de interesse público”.
Brandão então diz: “Talvez, considerando que a “cláusula democrática” seria de toda forma algo complexo de operacionalizar, poderíamos fase um disclaimer inicial sobre isso, bem claro, visível e direto, do tipo: não basta ter passado limpo, considere quais são as propostas do seu candidato e seu compromisso com a democracia, etc. Agora, a cláusula do compromisso com o pacote é mais complexa, porque o espírito do projeto desde o início era conquistar algum tipo de compromisso dos candidatos à essa agenda e atrelar isso à renovação política de qualidade (que queremos contribuir com informação crível e acessível sobre as fichas pregressas)”.
Dallagnol se manifesta cerca de duas horas depois: “Então, o site faz diagnóstico de quem tem passado limpo e de quem está comprometido com que propostas legislativas. Os compromissos e o limiar de apoio mínimo e propostas centrados podem ficar para uma espécie de análise externa pela TI e parceiras.”
Procurada, a força-tarefa da Lava Jato reafirmou “que não reconhece a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas”.
Salienta, ainda, que mesmo que as mensagens tivessem ocorrido da forma como apresentadas, o texto remete a propostas de combate à corrupção e defesa da democracia, que são pautas apartidárias.
O Planalto informou que não vai se manifestar. Michael Mohallem e Bruno Brandão também foram procurados, mas não se manifestaram até o momento.
A Transparência Internacional Brasil se manifestou. Afirma que “é absolutamente despropositada a ideia de um ‘complô’ envolvendo o nome da organização, veículos de mídia e Ministério Público contra a família Bolsonaro”.
E continua: “As matérias veiculadas, baseadas em mensagens de celulares hackeados de procuradores, tentam, de maneira infundada, levantar a tese de uma suposta conspiração, quando na verdade tratava-se de campanha legítima de voto consciente, plural e informado, em prol da causa anticorrupção e princípios defendidos pela TI. Tais princípios envolviam três pontos fundamentais: passado limpo das candidaturas, compromisso dos candidatos com a democracia e compromisso com o debate de medidas de combate à corrupção. A campanha pregava, portanto, não um “ranking de ficha limpa” e, muito menos, o favorecimento de candidato A ou B, mas a reafirmação do compromisso com a democracia e contra a corrupção, contra o discurso de ódio e contra o radicalismo”.
A Transparência Internacional Brasil diz ainda que “vem denunciando sistematicamente graves retrocessos legais e institucionais do Brasil na luta contra a corrupção e, por este trabalho, passou a ser alvo frequente de ataques”. Para a entidade, “é dever da TI dialogar e atuar com autoridades públicas, setor privado e sociedade civil contra práticas corruptas e em favor da democracia”.
“Lamentamos que a CNN tenha publicado matéria sobre este assunto e só depois de veiculá-la procure a Transparência Internacional Brasil para ouvir nosso posicionamento.”