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    Investigada por racismo, deputada Bia Kicis diz que só quis fazer uma piada

    Parlamentar foi ouvida pela Polícia Federal em dezembro em inquérito que investiga publicação considerada racista

    Marcos Guedesda CNN , em São Paulo

    A deputada federal Bia Kicis (PSL) prestou depoimento em 7 de dezembro no inquérito em que é investigada pela Procuradoria Geral da República (PGR) por racismo e disse que a intenção foi a de fazer uma piada, ao publicar, em setembro de 2020 nas suas redes sociais, imagens dos ex-ministros da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro (Podemos) e da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) com os rostos escurecidos.

    A publicação de Kicis usando imagens dos ex-ministros com a prática considerada racista chamada de “blackface” foi uma alusão ao processo seletivo exclusivo para negros da empresa Magazine Luiza. No texto, da publicação, a parlamentar deixa a entender que não há racismo no “post” dela e sim na iniciativa da empresa.

    No depoimento, que aconteceu na sede da Polícia Federal, em Brasília, Kicis disse que apenas replicou as imagens dos ex-ministros. “Já estavam circulando pela internet pintadas como se ambos fossem negros… a piada que circulava era que eles estariam desempregados e, para buscar uma nova colocação, se disfarçariam de negros para obter emprego na referida empresa.”

    Durante o depoimento, a parlamentar, que esteve acompanhada de dois advogados, também disse que não sabia, na época da publicação, da existência do termo “blackface” e que “quase caiu para trás” quando viu seu nome relacionado ao racismo. Bia também minimizou o ato, fazendo outras comparações.

    “Se fosse uma vaga exclusiva para mulheres, colocariam ‘um vestidinho’ nos dois ex-ministros, e que se a seleção do Magazine Luiza fosse para circo, estariam vestidos de palhaços”, disse.

    Autor da denúncia

    A reportagem conversou com os autores da notícia crime que deu início à investigação e também teve acesso ao depoimento da parlamentar que foi juntado ao processo somente em 26 de janeiro.

    Em entrevista à CNN, o professor de línguas Roberto Lourenço Cardoso disse que ficou chocado com a situação, pois Kicis é formada em Direito, foi procuradora da Justiça e não é uma pessoa que desconhece as leis.

    Para Cardoso, o fato de a parlamentar dizer que foi somente uma piada é ainda mais grave. “Uma criança achando que houve uma brincadeira racista, cresce achando que isso é natural porque ela sempre ouviu”, comenta.

    Criador de um canal no YouTube, que tem entre as propostas discutir o racismo em suas mais variadas vertentes, Cardoso diz que não há mais tempo de ensinar que racismo é crime e que as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus atos.

    “Chega de tratar racista como criança. Se ele cometer um crime, tem que ser responsabilizado. Não tem que explicar que ele está errado. É um crime grave se você pensar que é um crime imprescritível e inafiançável”, diz.

    O advogado Ricardo Bretanha, que defende Cardoso no processo, explicou à CNN que a notícia crime demorou mais de um ano para ser analisada pela PGR e que a abertura do inquérito só foi autorizada pelo Ministro do Superior Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, em novembro de 2021.

    Sobre o andamento do processo, ele acredita que a parlamentar poderá ser denunciada por racismo. “Eu espero que seja oferecida denúncia porque ao meu ver está bem claro o cometimento do crime de racismo por parte dela”, finaliza.

    A deputada, por meio da assessoria, informou à CNN que não irá se manifestar sobre o caso.

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