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    “Grupo dos malucos”: relatório cita esquema de desinformação envolvendo membros da PF

    Investigação aponta que indiciados tinham consciência da falsidade das notícias

    Guilherme Gamada CNN , São Paulo

    A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após a eleição presidencial de 2022 mostrou que a organização criminosa por trás do plano “construiu e propagou a narrativa de vulnerabilidades e fraudes no sistema eletrônico de votação” desde 2019.

    Os suspeitos usavam o modus operandi chamado de “milícia digital”, que produzia e difundia notícias falsas nas redes sociais. Eles não apenas sabiam que as informações não eram verdadeiras como também dominavam estratégias de envio em massa, ao passo que receber mensagens semelhantes de pessoas confiáveis era “muito mais persuasivo”.

    Conversas no WhatsApp entre os agentes da PF Marcelo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, em agosto de 2021, mostram como eram fabricadas as notícias falsas para um grupo que Bormevet chamava de “dos Malucos”.

    “A difusão de informações falsas diretamente vinculadas a Ministros da Suprema Corte e de seus familiares era intencionalmente difundida no grupo nominado por MARCELO BORMEVET como ‘grupo dos malucos’ destacando a plena ciência dos interlocutores da desarrazoada desinformação produzida”, disse a PF.

    O Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral é um dos seis, apontados pela PF, que articulavam o plano de golpe de estado.

    Segundo o relatório, “todas as circunstâncias confirmam que os investigados tinham plena ciência de suas ações, em especial a produção de desinformação sem qualquer lastro com a realidade e com subsequente difusão de desinformação, seja por meio dos vetores de propagação cooptados, seja em grupos de rede social materializando os ataques”.

    O documento também aponta que Jair Bolsonaro (PL), foi orientado por Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sobre como conduzir discursos que deslegitimam o processo eleitoral brasileiro.

    A CNN tenta contato com os citados.

    Prisão

    Bormevet foi preso em julho pela PF em ação que investigava as ordens a Giancarlo para mandar “bala” e “sentar o pau” [sic] em um assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal (SFT), Luís Roberto Barroso.

    Bormevet, segundo a PF, era homem de confiança de Ramagem, que era diretor da Abin.

    De acordo com relatório da PF, o diálogo ocorreu em 2021, quando Barroso era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    O documento afirma que a citação a Barroso foi deflagrada por uma publicação no X (antigo Twitter) sobre supostas invasões às urnas eletrônicas e também por declarações de um perfil identificado como “Kim Paim”, que afirmava que o assessor do ministro era investigado.

    Em conversa pelo Whatsapp com Giancarlo, Marcelo Bormevet afirma: “Estou assistindo o KIM Paim de hoje. Ele disse que o Assessor do Barroso já é investigado. Temos que sentar o pau nesse assessor”. “Manda bala”, complementa Bormevet.

    Segundo o relatório, “por isso, o policial [Marcelo Bormevet] e o subordinado [Giancarlo Rodrigues], na ocasião em exercício na Abin, direcionaram o trabalho na agência para atacar” um assessor de Barroso.

    Relatório da PF menciona ataques a assessor de ministro Barroso / Reprodução/PF

    Ataques ao Judiciário e a familiares

    A PF afirma ainda que “além de atos de embaraçamento de investigações, as ações contra ministros da Suprema Corte configuram atentado contra o livre exercício do poder Judiciário”.

    O relatório também diz que os ataques chegaram a se estender a integrantes da família dos ministros: “As práticas destinadas a desacreditar o sistema eleitoral brasileiro não se restringiram aos ataques direcionados a Ministros do Supremo Tribunal Federal, mas também contra familiares dos membros da mais alta corte de Justiça”.

    Quem é Marcelo Bormevet?

    Bormevet integrava a equipe que fazia a segurança do ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2018.

    Durante a gestão de Alexandre Ramagem, o agente federal foi nomeado chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin. Segundo as investigações, essa estrutura, que ficou conhecida como “Abin paralela”, era utilizada para monitorar ilegalmente adversários políticos de Bolsonaro.

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