Farmácia popular é uma das prioridades na transição de governo, diz Arthur Chioro à CNN
Ampliação das coberturas vacinais também será um tema prioritário do governo, que prevê a realização de uma campanha nacional de imunização no início de 2023, segundo o ex-ministro
O governo de transição já está em funcionamento no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. A equipe da área da saúde é coordenada pelo senador e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT). Segundo Costa, foram levantados 22 pontos prioritários pela equipe, que também deverá contar com os ex-ministros Alexandre Padilha (PT), José Gomes Temporão (PSB) e Arthur Chioro (PT).
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (11), Arthur Chioro abordou os principais desafios da transição de governo em âmbitos como vacinação, farmácia popular e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
Chioro afirma que o programa Farmácia Popular é uma das prioridades da equipe.
“Em relação ao Farmácia Popular, vamos ter agora com o trabalho da equipe de transição uma apropriação de como estão os ritmos de aquisição de contratação dos medicamentos que são disponibilizados à população. O presidente [Lula] já nos indicou a autorização no sentido inclusive de fazer ampliações do elenco, por que esse elenco de medicamentos hoje fornecido está desatualizado. Já há necessidade da introdução de novos medicamentos”, afirmou.
Segundo Chioro, o programa vai garantir o fornecimento de medicamentos para hipertensão, diabetes, asma, além de itens como fraldas geriátricas. “Isso muito rapidamente é um dos itens destacados como prioritário no processo de transição, se apropriar para que haja solução de continuidade, que a gente consiga regularizar”, disse.
Vacinação
Criado há 49 anos, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) enfrenta desafios para ampliar a cobertura vacinal contra doenças como a poliomielite e o sarampo. No total, são disponibilizadas na rotina de imunização 19 vacinas cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos, podendo se estender por toda a vida, de acordo com o Ministério da Saúde.
Atualmente, a cobertura vacinal contra a poliomielite, que pode causar paralisia infantil, está em 72,57% para crianças menores de 5 anos. A meta do ministério é de atingir o índice de pelo menos 95% para este público.
Chioro afirma que a ampliação das coberturas vacinais também será um tema prioritário do governo. “Queremos iniciar o governo com uma grande campanha nacional de vacinação, mobilizando todos os recursos que nós dispomos. Até por que temos uma realidade muito concreta: o Brasil tem um programa nacional de imunização que é uma referência internacional”, disse.
Segundo Chioro, o SUS conta com quase 300 mil agentes comunitários de saúde e quase 50 mil unidades básicas de saúde, uma logística que permitirá reforçar as coberturas vacinais.
“O que falta é coordenação”, avalia. “Saí do ministério em 2015, foi o último ano em que mantivemos 95% de cobertura vacinal. Nós mantínhamos cobertura vacinal adequada para todas as vacinas, uma construção tecida junto com os municípios, estados e com a sociedade. Não é que se trata de um desafio inalcançável, é uma coisa que nós fizemos, sabemos fazer e temos capacidade de fazer”, completou.
Ele afirma que a campanha de vacinação irá mobilizar governos estaduais e municipais, a partir da coordenação do governo federal via Ministério da Saúde.
“Vamos mobilizar, fazer um grande dia de vacinação e, a partir daí, obsessivamente manter um padrão de cobertura vacinal adequado inclusive acompanhando e monitorando quais são as regiões de saúde, quais são os municípios que estão com baixa cobertura vacinal. O governo, o ministério da saúde, se colocando no seu papel de coordenação e cobrando, exigindo mas, acima de tudo, apoiando estados e municípios para que a gente consiga ter uma cobertura homogênea em todo o território”, disse.
Sobre a vacinação contra a Covid-19 e a possibilidade de novos ciclos de imunização contra a doença, Chioro afirmou que a possibilidade será discutida a partir de evidências científicas.
“À medida que for sendo reconhecida cientificamente, com vacinas aprovadas, com nosso comitê de especialistas recomendando a introdução de novas etapas de vacinação, não haverá dúvida do ponto de vista de incorporação de novas vacinas”, disse.
O ex-ministro afirmou que a prioridade será a ampliação da cobertura vacinal com a dose de reforço. “A primeira meta é conseguir ampliar a cobertura daqueles que só tomaram a terceira dose e está na base de 50%. Nós precisamos fazer uma elevação imediata daqueles que estão mais desprotegidos”, afirmou.
Fortalecimento do SUS
Vigilância Sanitária, qualidade da água, alimentos e medicamentos, monitoramento de produtos nocivos à saúde, controle de doenças, tratamentos de alto custo e gerenciamento de transplantes. Estes são apenas alguns dos pontos em que o Sistema Único de Saúde (SUS) impacta a vida de todos os brasileiros.
Embora seja comumente associado ao atendimento ao público, como postos de saúde e unidades básicas da atenção primária, a ramificação do SUS é ainda mais ampla e complexa.
“A pandemia permitiu mostrar o quanto o tema da saúde está diretamente vinculado ao desenvolvimento econômico e social e naturalmente o quanto que o desenvolvimento econômico e social afetam as condições de saúde”, disse Chioro. “É extremamente importante que o Brasil saia desta crise gerada pela pandemia de Covid reconhecendo a importância, investindo e preservando o SUS”, completou.
Segundo Chioro, a equipe avalia como tornar o sistema nacional de saúde mais robusto, seguro e com informações precisas, de modo a garantir o acesso das pessoas ao serviço, inclusive de maneira preventiva.
“Há muito tempo não víamos tantas crianças com desnutrição infantil grave, inclusive sendo internadas. Claro que isso tem a ver com a degradação das condições socioeconômicas das famílias. Ao mesmo tempo, a resposta passa pelo SUS, pelo fortalecimento da Atenção Básica, do Programa Nacional de Imunizações, pelos cuidados com as gestantes”, afirmou.
Sobre a distribuição de médicos pelo país e a formação dos estudantes de medicina, Chioro afirmou que a área também será priorizada.
“Haverá uma prioridade do ponto de vista de apoiar as prefeituras para que nós possamos garantir médicos em todas as equipes de saúde da família, ou seja, garantir ao povo brasileiro o atendimento básico, mas nós não prevemos a necessidade de incorporação de médicos de outras nacionalidades. Se isso for necessário, vamos estar abertos a discutir, mas a principio não”, disse.
(Com informações de Thiago Félix e Isabella Galvão)