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    Espionagem na Abin: veja quem foi monitorado ilegalmente pela agência, segundo a PF

    Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-presidente da Câmara dos Deputados e promotora do caso Marielle teriam sido espionados

    Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin
    Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

    Da CNN

    Na manhã de quinta-feira (25), a Polícia Federal (PF) realizou a Operação Vigilância Aproximada e cumpriu 21 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de terem monitorado ilegalmente autoridades como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia.

    Entre os alvos da PF estava o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), incluído pelos investigadores no primeiro núcleo da organização criminosa – chamada de “alta gestão”, que utilizava o software israelense First Mile para seguir os passos das vítimas.

    De acordo com a decisão do STF que autorizou as buscas contra Ramagem, a PF tem evidência de que o parlamentar teria interferido nas apurações disciplinares e anulado as demissões de dois servidores envolvidos nas escutas ilegais e nos monitoramentos de opositores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) feitos pela Abin.

    Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes

    A PF identificou a tentativa da Abin de associar os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) durante a gestão de Ramagem. Na decisão que embasou as buscas da PF – proferida por Moraes -, o ministro detalha o modus operandi de parte dos servidores da Abin sob comando de Ramagem.

    “O arquivo “Prévia Nini.docx”, por seu turno, retrata ação deliberada de desvirtuamento institucional da operação de inteligência em comento. Neste documento, identificou-se anotações cujo conteúdo remete à tentativa de associar Deputados Federais, bem como Exmo. Ministro Relator Alexandre de Moraes e outros parlamentares à organização criminosa PCC”, escreveu Moraes.

    “Não somente o ministro relator, mas também com o Exmo. Ministro Gilmar Mendes houve a tentativa de vinculação com organização criminosa”, acrescentou o ministro.

    “O desvirtuamento da diligência no sentido de tentar vincular a imagem do Exmo. Ministro Relator e demais deputados pode ter sido reação em razão das ações realizadas no cumprimento de seu mister constitucional”, completa.

    Rodrigo Maia

    rodrigo maia
    O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia / Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Um jantar na casa do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, no dia 19 de abril de 2020, teria sido alvo do monitoramento ilegal promovido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), segundo fontes ouvidas pela CNN.

    “Isso [a espionagem] estava na cara. No dia eles vazaram isso. Mas como o Ciro Nogueira estava no jantar, desmentiu que havia algum assunto do governo”, disse Maia à CNN.

    Ciro Nogueira é senador pelo PP. Na época já era presidente do partido, mas não ocupava cargo no governo. Ele só veio a ser nomeado ministro chefe da Casa Civil no ano seguinte, em setembro de 2021.

    CNN ainda não conseguiu contato com o senador Ciro Nogueira para comentar a citação ao nome dele.

    Camilo Santana

    O ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação Camilo Santana / Marcelo Camargo/Agência Brasil

    O diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Segurança das Comunicações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Magno, teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará Camilo Santana, atual ministro da Educação, segundo as investigações da PF.

    “A Polícia Federal destaca episódios que elucidam a hipótese delitiva, como na conduta de Paulo Magno (gestor do sistema First Mile), que teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará Camilo Santana”, diz outro trecho da decisão de Moraes.

    Promotora do caso Marielle

    A Abin foi “instrumentalizada” para monitorar a promotora do Rio de Janeiro responsável pela apuração das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

    “Ficou patente a instrumentalização da Abin, para monitoramento da Promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios qualificados perpetrados em desfavor da vereadora MARIELLE FRANCO e o motorista que lhe acompanhava ANDERSON GOMES”, escreveu Moraes.

    Conforme a decisão, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou um resumo do currículo da promotora com a “mesma ausência de identidade visual nos moldes dos Relatórios apócrifos da estrutura paralela” da Abin.

    Segundo a investigação, os relatórios apócrifos criados pela estrutura paralela “seriam divulgados com o fim de criar narrativas falsas”.

    Outro lado

    Em entrevista à CNN, Ramagem afirmou que nada foi feito durante sua gestão na Abin para monitoramento de membros do Poder Legislativo e Judiciário.

    “Nada foi feito para que houvesse o monitoramento de pessoas políticas, tanto do Legislativo, quanto do Judiciário. Não na minha gestão, não sob meu comando, ou sob ordem minha, de maneira alguma”, disse Ramagem.

    De acordo com Ramagem, o ex-presidente Jair Bolsonaro “sempre se muniu de diversas inteligências”, mas “nunca de cunho a fazer uma invasão de pessoas como foi feita”.

    “Nós que fizemos auditoria desses sistemas para que eles trabalhassem de maneira correta. Então, tudo o que foi feito ali, e se tiver equívocos e investigações, ou inteligência realizada em alvos que não deveria ser feita, foi feita dentro e internamente do Departamento de Operações que estava sob correição e levado para a corregedoria por nós”, expressou Ramagem.

    Pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro

    Ramagem é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL, tendo sido inclusive escolhido por Bolsonaro para concorrer ao pleito de outubro. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, elogiou o deputado e afirmar que ele seria o candidato ideal do partido para a disputa.

    Mesmo após operações da PF mirarem dois pré-candidatos a prefeitos do PL no Rio de Janeiro em uma semana, o presidente do partido no estado, o deputado federal Altineu Côrtes, afirma que não haverá mudança nos planos para as eleições municipais.

    “Não há hipótese em alguma de essas operações afetar os planos nas eleições”, disse Altineu Côrtes. “São candidatos fortíssimos”, completou presidente do PL fluminense.

    Próximo da família Bolsonaro, Ramagem tem como um dos coordenadores da pré-campanha o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

    (Publicado por Lucas Schroeder, da CNN, em São Paulo)