Especialistas estimam que 3 em 4 mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas
Segundo estudos citados por cientistas na CPI da Pandemia, número de mortes poderia ter sido menor se vacinação tivesse iniciado antes
Durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, os cientistas Claudio Maierovitch e Natalia Pasternak apresentaram estimativas de mortes em decorrência por Covid-19 que poderiam ter sido evitadas caso o governo federal tivesse adquirido vacinas antes e adotado mais medidas de combate à pandemia.
Ao citar um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Maierovitch apontou que cerca de 90 mil óbitos poderiam ter sido evitados se os acordos com o Instituto Butantan e a farmacêutica Pfizer tivessem sido assinados antes.
Ainda segundo o cientista, se o Brasil tivesse tido “alguns períodos de confinamento” e “uma boa campanha de comunicação”, metade das 482.019 mortes que o país registra poderiam não ter ocorrido.
“Muito difícil falar em números. Caso tivessem sido fechados acordos precocemente, com o Butantan e com a Pfizer, teríamos evitado entorno de 80 a 90 mil mortes no país. Certamente se tivéssemos tido alguns períodos de confinamento, uma boa campanha de comunicação, nos teríamos um número de mortes muito menor. Não sei se alguém já fez essa estimativa de forma científica. Mas se formos pensar nestes números em forma de grandeza, dá para pensar em metade dessas mortes evitáveis”, afirmou.
Já Pasternak apresentou um levantamento realizado pelo epidemiologista Pedro Hallal, professor da Escola Superior de Educação Física da UFPel e coordenador do Epicovid-19, um dos maiores estudos sobre coronavírus no país. Segundo o estudo — publicado na revista científica The Lancet –, caso o Brasil estivesse na média mundial de controle da pandemia, três de quatro mortes poderiam ter sido evitadas.
“Ou seja, quando atingirmos 500 mil mortes, isso quer dizer que 375 mil poderiam ter sido evitadas com melhor controle da pandemia”, ressaltou a cientista.
Estudo de 2020 colocou Brasil em último lugar na resposta de pandemias
Em sua fala inicial, o médico sanitarista e especialista em políticas públicas e gestão governamental Cláudio Maierovitch apresentou dados de dois estudos, um de 2019 e outro de 2020, que mostravam retratos contraditórios do Brasil no combate a doenças.
No primeiro, da Universidade Johns Hopkins, o país aparecia em 22º num índice chamado Índice Global de Segurança em Saúde, que avalia diferentes dimensões de preparação e da organização do país para responder possíveis ameaças à saúde pública.
No mesmo estudo, o Brasil era o 9º entre 195 países no quesito “resposta rápida ao alastramento de epidemias e mitigação” – os EUA ocupavam o primeiro lugar neste índice.
Já o outro estudo, realizado por pesquisadores australianos, situava o Brasil em último lugar em resposta a pandemia: 98º entre os 98 países estudados – os EUA estavam em 94º.
“Brasil e EUA estavam juntos num conjunto de países com lideranças negacionistas na definição apresentada pela Natalia Pasternak e que resistiram a imposição de medidas de contenção da pandemia”, disse Maierovitch.
“O que poderíamos ter tido, desde o início? Em primeiro lugar, a presença do estado com plano de contenção, antes de a epidemia entrar no Brasil”, afirmou. “Tínhamos experiência para fazer isso no nosso sistema de saúde.”
Errata: ao contrário do que foi publicado inicialmente, a informação correta é três em quatro mortes, não quatro em cinco mortes.