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    Entenda a crise provocada por Bolsonaro ao enviar vídeo pelo WhatsApp

    Clipe convoca para um ato em apoio a seu governo no dia 15 de março

     

    O presidente Jair Bolsonaro foi fortemente criticado por autoridades após a revelação de um vídeo que ele compartilhou por WhatsApp. Nele, há uma convocação para um ato em apoio a seu governo no dia 15 de março.

    A sequência de pouco mais de um minuto e meio traz imagens da facada que Bolsonaro levou durante a campanha eleitoral, em 2018, e sua subsequente internação e recuperação. Não há narração. Com o hino nacional ao fundo, um letreiro traz frases como “ele quase morreu por nós” e “ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós”.

    O clipe não faz menção ou ataque a qualquer instituição. No entanto, grupos que apoiam o governo já vinham divulgando um protesto contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal) para a mesma data.

    Ainda não se sabe quando e a quantas pessoas o vídeo foi enviado, nem sua autoria.

    Repercussão

    A atitude de Bolsonaro repercutiu entre parlamentares e ministros do STF. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a criação de tensão institucional não ajuda o país a evoluir. “Somos nós, autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional. O Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir”, escreveu Maia em seu perfil do Twitter.

    O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, criticou “clima de disputa” e disse que “não existe democracia sem um Parlamento atuante, um Judiciário independente e um Executivo já legitimado pelo voto”.

    O decano do Supremo, ministro Celso de Mello, publicou uma nota de repúdio, em que diz que “a gravíssima conclamação, se realmente confirmada, […] demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce”. 

    Para ele, a incitação de fechamento das instituições do Legislativo e do Judiciário poderia configurar crime de responsabilidade. “O presidente da República, qualquer que ele seja, embora possa muito, não pode tudo, pois lhe é vedado, sob pena de incidir em crime de responsabilidade, transgredir a supremacia político-jurídica da Constituição e das leis da República”, afirmou.

    Sob essa justificativa, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) declarou que solicitou a uma junta de advogados a elaboração de um pedido de impeachment contra Bolsonaro. “Vou apresentar se encontrarmos caminhos legais que levem a isso. Ele cometeu um crime e está incentivando o fechamento do Congresso. Bolsonaro não manda no Brasil”, disse o parlamentar, ex-aliado do governo. 

    Bolsonaro não comentou diretamente o incidente, mas publicou em seu perfil do Twitter que troca mensagens “de cunho pessoal” por WhatsApp. “Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”, escreveu. 

    Mais tarde, postou dois versículos bíblicos e atacou a mídia. “O que leva parte da imprensa a mentir, deturpar, caluniar… enfim, atentar contra o Brasil 24 horas por dia? Abstinência de verba ou medo da verdade?”

    A CNN Brasil confirmou a veracidade do envio do vídeo pelo WhatsApp do presidente.

    Análise

    Para o comentarista político da CNN Brasil Iuri Pitta, o presidente aposta no “conflito eterno” com a divulgação do vídeo. “Isso é uma estratégia dele, faz parte do ser dele. O presidente tem esse espírito e usa isso a seu favor – às vezes de forma estratégica e intuitiva para manter a coesão da sua base política e fazer enfrentamento aos seus opositores”, afirma. 

    “Essa postura de aglutinar forças e fazer o debate político público com os opositores faz parte da política. O problema é quando uma instituição vai contra outras”, acrescenta. 

    Pitta diz também que o fato de o conteúdo ter sido enviado pelo presidente “por si só já tem um peso institucional forte”, e destaca que “ainda que ele tenha feito esse compartilhamento para um grupo seleto de amigos, é diferente do deputado ou mesmo do cidadão Jair Bolsonaro fazer isso”.

    O analista classifica que Bolsonaro agiu de forma hostil contra as instituições, e não contra os políticos. “Uma coisa é o presidente debater e questionar opositores, agora ir contra as instituições passa a ser uma hostilização gratuita e de não entender o papel de cada uma no sistema democrático”, aponta. “O presidente está dobrando a aposta.”

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